Ações solidárias em AL escancaram pobreza e urgência de mudança

Ao estender socorro em territórios negligenciados, ações incentivam a auto-organização e a luta por direitos sociais

Nada está leve. E não bastasse uma pandemia mundial, em um país e um estado extremamente desiguais, há ainda o desserviço criminoso da autoridade máxima da república, que não só defende a manutenção da dinâmica, mas também sabota medidas de maior urgência, como o isolamento social e o Auxílio Emergencial. Desta vez, no entanto, não nos ateremos sobre os que nada fazem, ou fazem mal – embora em certa medida seja inevitável. As linhas que seguem relatam sobre aquelas e aqueles que, ombro a ombro, encontram uma forma de estender a mão à população colocada na intersecção das piores condições de vulnerabilidade. Sem pieguices – ou pelo menos é o que tentaremos – questionamos sobre o perfil e a potência das ações de solidariedade em Alagoas: essas que estão para além das doações.

A princípio, duas respostas vêm à tona: seu lugar está sempre em movimento e, em geral, ocorre onde a ausência de políticas públicas chega em níveis brutais. Não faltam casos concretos que exemplifiquem. “A assistência do Estado aqui é zero. A única parte que ele entra é com a polícia, para matar as pessoas. Nessa pandemia então, acho que querem ver a morte”. É assim que o educador popular Samuel Drummond, que integra o Comitê dos povos das Lagoas e o Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), define a forma como o Estado se aproxima das comunidades ribeirinhas da Lagoa Mundaú. “Se [a Prefeitura] quer construir 1800 moradias na frente da lagoa, quando há 3090 barracos cadastrados, é porque se morrer metade, o poder público vai agradecer”.

 

 

Atuando junto à comunidade antes mesmo da pandemia, Drummond relata que, hoje, aproximadamente 25 pessoas se mobilizam organicamente em ações de solidariedade aos moradores. “Começamos com distribuição de quentinha e cestas básicas. Depois, continuamos com máscaras e lonas. Nosso foco está nas lonas, porque está se aproximando o período de chuva e, com as pessoas em isolamento dentro de casa, a situação dentro dos barracos é assustadora”, relatou.

“Assustadora” é como Drummond descreve as estruturas precarizadas dos locais em que vive uma população cujo acesso ao SUS é prejudicado pela falta de endereço registrado, o acesso ao Auxílio Emergencial – muitas vezes – inexiste e cujas condições de saneamento básico sobrepassam o limite da precariedade. “São 25 mil pessoas que vivem à beira de uma lagoa, onde cai o esgoto de boa parte da cidade. A população vive em situação de miserabilidade, porque não se alimenta bem, tem imunidade baixa, não tem acesso à saúde e é extremamente aglomerada”.

No meio disso, a pandemia decai: “Enxergamos que aconteceria um genocídio aqui. O nível de informação é muito baixo. Uma parcela não enxerga a situação, mas enxerga outros dilemas, como a fome, a miséria, o descaso. Então, é como se pensassem: ‘se estou sobrevivendo a tudo isso, quem é esse vírus para me matar?’. Infelizmente, só enxergarão quando começar a tombar pessoas aqui. E a gente sabe que é um local onde o Estado não vai tirar os corpos”.

Para tentar reduzir os danos a quem se acomete por síndromes gripais, por exemplo, além das lonas e das máscaras, o grupo também começou a construir farmácias vivas. “Já temos uma na Sururu de Capote e outra na Muvuca, que fizemos neste domingo”. Diversas mudas estão sendo sendo bem-vindas para quem quiser doar: hortelã, mastruz, alcatrão e o boldo, por exemplo.

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Diferentemente de iniciativas de grandes instituições, cujas atividades cotizadas como ‘responsabilidade social’ ocorrem na tranquilidade de uma transação bancária, as ações aqui tratam-se mais de um corre intenso por parte dos que atuam  – ensejando a contínua constatação de que a demanda é sempre maior do que as pernas. E por isso é bom que se corra ainda mais. “Em cada ação, distribuímos as máscaras que temos, mas sabemos que são insuficientes. Fomos na internet e começamos a pedir mais máscaras, lonas, mudas de plantas medicinais para que possamos colocar na farmácia. Se a pessoa tiver um pé de mastruz, entra em contato com a gente que vamos pegar. Essas plantas ajudam a fortalecer imunidade, ou mesmo aliviar aquela situação mais urgente”.

Mapeando grupos e entrelaçando as redes

Em Alagoas, dezenas de coletivos, institutos e grupos têm se voltado às ações de solidariedade. Para facilitar quem deseja realizar algum tipo de apoio, foram criadas inclusive iniciativas que mapeiam essas ações. A primeira delas surgiu a partir do Instituto para o Desenvolvimento das Alagoas (IDEAL) e pode ser conferida clicando aqui. A presidente do Instituto e articuladora do Movimento dos Povos das Lagoas, Isadora Padilha, conta que a ideia surgiu após questionamento do professor Sávio de Almeida.

Isadora Padilha, presidente do IDEAL e articuladora do Movimento pelos Povos das Lagoas/ Foto: Arquivo Pessoal

“O mapeamento do IDEAL começou pela região lagunar, onde o instituto atua, a partir da rede em que é cofundador junto com outras entidades: o Movimento dos Povos das Lagoas. Mas, seguiu especialmente a partir da rede que integramos hoje, que é o PeriferiaMCZSemCorona”, explica. “A partir dessa listagem, inserimos grupos do nosso conhecimento e começamos a fazer uma pesquisa aprofundada em redes sociais e na internet, em mapeamentos nacionais, como os do Instituto Marielle Franco e do Todomundo.org, em publicações da prefeitura de Maceió, do MPT, e, posteriormente, do IFAL, da UFAL – principalmente o Grupo de Pesquisa Nordestanças – e de redes e agências de notícias, como O que os olhos não veem e Agência Tatu”.

Clique aqui para conhecer o Mapa da Solidariedade da Agência Tatu de Jornalismo de Dados 

Em algum momento, as iniciativas começaram a se articular em uma rede, tornando cada uma delas ainda mais agigantadas. “A formação da rede se deu espontaneamente pela necessidade de união que esse momento pede e a partir dos esforços de todo mundo para mitigar as dificuldades de quem está mais vulnerável. Isso tem sido algo precioso e mostra todo o potencial das comunidades e colaboradores que se disponham a atuar juntos para transformar as realidades. É algo que precisa ser mantido, reconhecido e fortalecido por todos os setores da sociedade, especialmente o poder público e incorporado futuramente na construção colaborativa de soluções para a melhoria dos territórios”, relata. As questões levantadas por Padilha também foram escritas no artigo publicado no blog do professor Sávio: “O melhor remédio nessa pandemia é agir com cidadania” (clique aqui para acessá-lo). 

Líder do Grupo de Pesquisa Nordestanças, a professora do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFAL (PPGFAU), Juliana Michaello, conta sobre o processo de elaboração do mapeamento realizado pelo Grupo. A “Cartografia da Ações Solidárias”, que você pode ter acesso clicando aqui , trouxe uma particularidade: a associação das ações solidárias junto a dados epidêmicos dos territórios.

Líder do Grupo de Pesquisa Nordestanças (PPGAU/UFAL), Juliana Michaello, em reunião com demais integrantes do GP / Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Michaello, a pesquisa, que começou a partir de articulações nacionais junto ao grupo ‘Urbanistas contra o Corona’, passou a receber diversas contribuições locais, como o próprio Instituto Ideal, além de outros grupos como a Agência Tatu, Comitê dos Povos das Lagoas e toda uma rede de movimentos por moradia digna e outros direitos.

“Começamos a identificar que os locais mais afetados coincidem – já em termos nacionais – com territórios de vulnerabilidade socioeconômica. Isso se torna extremamente grave, porque as condições de moradia, emprego e renda são muito mais difíceis nesses espaços. Daí, a ideia de transformar as informações, que chegavam de forma pulverizada, em uma cartografia”. A partir da cartografia, os pesquisadores puderam perceber que as ações têm acompanhado, em certa medida, o alastramento da epidemia. Assim, ações em cidades alagoanas do interior só passaram a ser mais estruturadas na medida em que também foram identificados mais casos nesses locais. A exceção são municípios como Santana do Ipanema e Rio Largo, cujas ações ocorreram no início da pandemia, também em decorrência das enchentes.

Mapeamentos permitem perceber quem incorpora as ações de solidariedade

Os mapeamentos realizados por esses grupos, além de prestarem um serviço confiável na articulação entre quem precisa de um socorro e quem pode chegar junto, também permitem construir um perfil dessas ações de solidariedade no Estado, identificando quem são os mobilizadores, quais significados se pode obter a partir do entrelaçamento – cada vez mais intenso dessas ações – e como tais ações têm todo o potencial de continuidade.

Analisando o mapeamento do IDEAL, cujo levantamento chegou a listar – até o momento – quase 70 iniciativas, Isadora Padilha consegue situar onde se encontram os projetos. “De um modo geral, a maioria dos grupos é formada por ONGs e coletivos da região lagunar, da periferia, situada na parte alta mais distante de Maceió e nas adjacências do Vale do Reginaldo/Fernandes Lima/Via Expressa, ou da chamada Zona Norte da cidade e movimentos religiosos. Nesses últimos, a maioria está ligada à igreja católica, a centros espíritas ou casas de umbanda e terreiros de candomblé, havendo uma minoria relacionada à igreja protestante. Há também certa quantidade de grupos vinculados a movimentos políticos de esquerda ou progressistas. Uma coisa que chamou muito a nossa atenção foi não terem chegado até nós iniciativas localizadas no Jacintinho”, apontou.

Cartografia das Ações Solidárias, do @gp_nordestancas

Michaello identifica na Cartografia que, em geral, as ações são construídas por coletivos que já atuam no Estado cotidianamente – bem antes da pandemia. “Coletivos de ação urbana, vinculados a movimentos sociais organizados, como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Movimento dos Trabalhadores sem Terra. Uma série de perfis que dizem respeito a movimentos sociais tradicionais, que já atuam continuamente e não especificamente da pandemia, embora desenvolvam nesse momento ações em relação à pandemia”, comenta. “Vários trabalhos são ligados a ações também de caridade de igrejas católicas e evangélicas, e de casas de axé, terreiros de Umbanda e Candomblé”, comenta.

Outra característica identificada pelo Grupo é articulação construída entre os movimentos, que se agigantam ao se transformarem em verdadeiras redes. “Você percebe muito a transição das arrecadações de um grupo para o outro. Grupos que arrecadam para que outros consigam fazer doação, algo e que se expande para o escopo religioso”, relata.

Além do mais, eles seguem para além das doações materiais. “Há apoio médico, psicológico, divulgação e tentativas de vincular informações para adaptar as moradias ao isolamento, mesmo em regiões adensadas. Existe uma rede ampla de ações solidárias, não só no Brasil como em Alagoas”, conta.

A solidariedade que mobiliza

O lugar da solidariedade, nisso tudo, está longe de ser aquela relação unilateral em que pessoas ou grupos decidem dispor um tempo ou de recursos para prestar socorro a quem precise. A solidariedade aqui se trata mais de uma política. É um lugar onde as ações vêm na forma de proposta de mobilização para uma transformação social. Samuel, por exemplo, reúne a descrição das ações com denúncia de direitos retirados na comunidade. Para ele, a solidariedade é também um lugar de empoderamento.

“Enxergo a solidariedade como empoderamento da população em relação ao cenário e também como método de disputa ideológica”, explica. O movimento prossegue com o diálogo de associar a situação imediata com a realidade causadora: a destruição do Sistema Único de Saúde, um sistema que tem nome, um presidente que quer ver a periferia morta. “E nessas conversas, começa a cair a ficha”.

Para além dos discursos de causalidades, a solidariedade também vai se construindo como uma rede, que gera ainda mais atos de apoio mútuo. Nesse sentido, os moradores intensificam a participação. “Nacionalmente, temos construído um movimento chamado Periferia Viva, onde articulamos para que essas ações de solidariedade não sejam o ato em si, mas uma rede. Você ganha algo, mas também assume o compromisso com a solidariedade. Você recebeu uma cesta básica e tem uma vizinha que está doente, então ajuda a monitorar, a ver a possibilidade que ela terá de sair do barraco. Criamos esse processo no meio de tudo, ao mesmo tempo em que é preciso fazer a cobrança nos meios públicos, procurar secretaria. Não querem tirar o lixo? Colocamos na pista”, exemplifica.

A caridade é tão vertical

“Eu não acredito em caridade. Acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita a outra pessoa e aprende com o outro”. A distinção feita pelo escritor e jornalista uruguaio Eduardo Galeano vai ao encontro de quem defende que a solidariedade não pode ser desassociada de um olhar para a realidade social.

Docente e pesquisadora Simone Hüning (PPGP/UFAL) distingue solidariedade de caridade. Foto: Arquivo Pessoal

No caso Brasil, essa realidade representa necessariamente a produção e reprodução de relações sociais desiguais. É como reflete a docente e pesquisadora do curso de Psicologia da UFAL, Simone Maria Hüning. Ao descrever que a caridade, assim como o individualismo e a competição, se coloca como perspectiva vinculada à ideologia neoliberal, identifica que é a solidariedade quem confronta essa ideologia. “Portanto, a solidariedade só pode aparecer como resistência, como uma afirmação do valor da vida do outro, do implicar-se com o outro, com a sociedade que queremos. Por isso, as iniciativas de solidariedade são muito mais do que atos isolados. São construções políticas para uma transformação social e política”, define.

Acompanhando de perto comunidades e movimentos sociais, a docente pontua que os casos concretos são abundantes na história brasileira. “Temos uma série de instituições no Brasil que, durante muito tempo, fizeram caridade. A caridade se sustenta na desigualdade. Alguns têm que ter muito e outros têm que ter muito pouco para que a caridade possa acontecer. E a solidariedade vem em uma outra lógica de compartilhamento, no sentido de uma construção política sobre o tipo de sociedade que a gente quer. Mesmo tendo pouco, a gente vem a exercer a solidariedade. Isso tem a ver com um ensinamento muito bonito que a gente vê nas comunidades que estão nessas condições de maior vulnerabilidade”, menciona.

Juliana Michaello percorre a mesma linha de compreensão. “O termo solidariedade pode ser extremamente desgastado se ficar em uma perspectiva romantizada da noção de caridade. A gente não entende [a solidariedade] como caridade, como algo que visa um ato de benevolência, mas como um ato de compreensão de que a outra pessoa é cidadã tanto quanto você e tem os mesmos direitos que você. E a solidariedade para gente se configura como perspectiva de continuidade de luta pelos direitos das populações, ao mesmo tempo continuada. Não vai simplesmente fazer doação fragmentada e pontual, mas compreender nesse processo as necessidades que são constantes”, comenta.

Partindo também do pressuposto de que o impacto da Covid-19 no Brasil está vinculado diretamente com a desigualdade, a pesquisadora defende que os atos de solidariedade são dotados de características que o tornam extremamente relevantes. Uma delas é a construção de verdadeiras redes de sobrevivência –  nesse ponto, entretanto, reforça ser necessário não perder de vista a importância das lutas sociais para que as ações estatais sejam suficientemente articuladas e sustentáveis, uma vez que no período pós-pandemia, os atos solidários tendem a arrefecer. Mas há um outro aspecto que tornam as ações fundamentais também a longo prazo: sua capacidade de explicitar a desigualdade social de forma mais contundente e propor, a partir das práticas continuadas, mobilizações mais profundas para uma transformação social no país.

“Há problemas gravíssimos de moradia digna, de qualidade das habitações, acesso aos equipamentos urbanos, saúde e, até mesmo, às informações. Todo o processo de garantia de direitos sociais é extremamente fragilizado pelas ações estatais. Se a gente quer ter uma análise profunda da ação governamental, basta ver a inabilidade que o governo tem tido de sequer garantir o auxílio emergencial que já foi reduzido bastante do valor original e justo”, relata. “E aí, os atos que mapeamos já demonstram que a sociedade compreende as desigualdades, a importância de atuar para mitigar essas desigualdades, ou desfazê-las, minimizá-las, ou discuti-las com holofote sobre elas”.

Ao invés de romantizar, a solidariedade transforma

Nada como as propagandas de solidariedade para dizer tão pouco sobre o que significa a solidariedade. Para Simone Hüning, é importante ter cuidado com discursos circulados na mídia ao sugerirem que a pandemia fará com que as pessoas ‘revejam valores, se tornem mais humanas ou solidárias’. “Acho que é um pouco equivocada essa romantização, porque as pessoas estão naturalizando a desigualdade há muito tempo; naturalizam essas questões de violência e exclusão, ou pessoas sem segurança alimentar ou acesso à saúde. Não são questões novas, são questões agravadas”, atenta.

Nesse sentido, aponta a importância de situar o contexto onde essas ações de solidariedade são aplicadas no Brasil – e notadamente em Alagoas – fazendo cair por terra a ideia do ‘vírus democrático’. “Vivemos em uma situação que é de extrema desigualdade social. Algumas pessoas têm mais possibilidade de se proteger, têm condições de acesso à saúde, saneamento, infraestrutura, condições econômicas e de se organizar bastante diferentes de outras. Então, o risco não é igual para todo mundo”, diz. “Essa contextualização é importante para pensar que não dá para refletir solidariedade independentemente das condições do Estado e do lugar onde a gente vive. E, nesse sentido, a situação no Brasil é bastante assustadora e quase desesperadora diante da desigualdade e do governo na gestão do problema”.

É nesse lugar de ausência de direitos que a solidariedade aparece para reivindicar, segundo a Hüning. “A gente, que trabalha há muito tempo movimentos sociais, vê que a mobilização social não é algo que vem das classes médias e altas, que estão confortáveis. Os movimentos de solidariedade e resistência vêm exatamente das pessoas que passam maior necessidade. Nos territórios de condições de maior vulnerabilidade, as pessoas sabem do abandono do estado – que tem tem feito uma atitude genocida agora em relação à pandemia, mas já tem uma condição genocida antes pelas políticas de morte contra a população jovem, negra, de mulheres e crianças – e as pessoas também entendem que precisam de outras articulações”.

A pesquisadora acrescenta como essas práticas terminam por se apresentar como uma alternativa à dinâmica social que está posta, a partir das trocas e da cooperação. “O enfrentamento da desigualdade estruturada e fundante do sistema capitalista é feito pela apresentação dessas outras formas de sociabilidade, a que podemos chamar de movimentos sociais, grupos organizados”, relata.

No fim das contas, é exatamente porque a situação não está nada leve – para quase ninguém, pelo menos – , que essas mobilizações de solidariedade potencializam ainda mais a esperança de dias melhores a partir de condutas coletivas. “As pessoas que conseguem exercer a solidariedade – como forma de sociabilidade – são exatamente aquelas que compreendem que essa condição de vulnerabilidade é produto de um Estado negligente. As comunidades e populações não são vulneráveis, mas foram vulnerabilizadas. E entender esse processo de vulnerabilização recoloca o lugar da solidariedade como o pensar de formas mais integradas da convivência humana”.

 

Foto: Ação na orla lagunar. Foto: Samuel Drummond/Arquivo Pessoal

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