Pensar sobre o amor como ação concreta, uma tecnologia ancestral de sobrevivência e de reparação frente ao racismo estrutural e institucional. Refletir sobre a naturalização do empobrecimento da maioria do povo preto alagoano, que tem cor e gênero. É partindo destes sentimentos que a cantora Mary Alves se inspira para a produção do seu primeiro álbum visual “Amor Preto Cura”, que será lançado nas plataformas digitais no dia 25 de julho, data em que é celebrada a luta de Tereza de Benguela e o Dia Internacional da Mulher Negra AfroLatina e Caribenha.
Confira abaixo o texto produzido por Ana Carla Moraes e Mary Alves:
O álbum visual “AMOR PRETO CURA” é o primeiro trabalho da cantora que será lançado nas plataformas digitais de músicas e apresenta suas composições autorais constituindo assim numa narrativa sonoro-visual, poética e política, a partir das suas vivências no lugar que nasceu (bairro periférico do Jacintinho – Morro do Ari), da música negra-periférica que aborda a centralidade das relações raciais, de gênero incutidas nas diásporas e dissidências negras, brasileiras e alagoanas, tendo em vista todos os seus saberes políticos e culturais na terra do Quilombo dos Palmares.
O trabalho traz uma costura de linguagens entre as faixas do álbum, que mistura poesias e performances com as narrativas artísticas e estéticas
protagonizadas por artistas pretas/os, periféricas/os, LGBTQIA+ e das matrigestoras (yalorixás, feirantes, benzedeiras e a comunidade) em sua maioria do Jacintinho, bairro culturalmente trajado de vivências simbólicas, coletivas, culturais, ancestrais e espirituais, que constituem uma parte significativa da força de trabalho e artística, essa cidade, assim pretende potencializar, visibilizar e valorizar a nossa identidade cultural alagoana com uma perspectiva afrofuturista, sankofa e decolonial.
A obra autoral foi concebida em parceria com a intelectual, arte-educadora e artista Ana Carla Moraes que trouxe conceitos cunhados por intelectuais e escritoras como Conceição Evaristo, Maria Carolina de Jesus, Bell Hooks, Carla Akotirene, Djamila Ribeiro e Joice Berth, como também reflexões históricas a qual fundamenta a obra como: os reverberamentos do Quebra de 1912 – que teve como maior mártir a força fêmea, negra e ancestral a Yalorixá Tia Marcelina – que fragilizaram a cultura popular, negra e periférica. O trabalho também se nutre na fonte dos pensadores e intelectuais alagoanos como Jadiel Ferreira e Jeferson Santos da Silva.
O álbum visual traz cinco faixas a qual uma delas dá título ao álbum, a faixa presente de Odoyá (Amor Preto Cura) de composição da artista Mary Alves com Ana Carla Moraes. Portanto, o álbum visual “AMOR PRETO CURA” que parte do sentir da artista, na sua busca de ser e existir coletiva e afetuosamente, de pensar o amor como ação concreta, como uma tecnologia ancestral de sobrevivência e de reparação frente ao racismo estrutural e institucional e a naturalização do empobrecimento da maioria do povo preto alagoano, que tem cor e gênero.
Esse trabalho, para a artista, é um grito de sua ancestralidade, ato artístico e político de enfrentamento a todo negligenciamento histórico, invisibilização, desamor, genocídio de corpos negros e indígenas, epistemicídio de nossos saberes e esvaziamento e apropriação de nossos fazeres artísticos. Dessa forma, pretende também provocar o desmonte do mito do amor romântico (de que o amor não se constitui apenas por casais e sim por toda a comunidade) e do mito de democracia racial tão enraizado na narrativa social brasileira e alagoana.
Assim, o mesmo traz a continuidade das vozes e fusão dos ritmos dos seus ancestrais africanos e da diáspora forçada desde os cantos de trabalho nas
plantações de cana-de-açúcar e algodão, passando pelo Samba, Soul, Rap, Maracatu, Coco, Reggae fazendo um ecoar de existência, resistência e cura. A produção musical é da própria cantora, junto com o musicista Pedro Salvador. A produção é da Coletiva Aqualtune composta por Ana Carla Moraes, Mary Alves, Karol Moraes e Jonas Henrique. Esse trabalho foi contemplado pela Lei Aldir Blanc 2020- Prêmio Zailton
Sarmento que deu ponta pé inicial.
Sobre Mary Alves
É cantora e compositora, iniciou sua trajetória em 2013 e surge nesse contexto e nessa geração como uma voz insurgente, potente e necessária
para o cenário cultural e para a reafirmação, fortalecimento e expansão das nossas pautas artísticas, políticas, culturais e de reempoderamento de Mulheres Negras. A artista já dividiu palco com nomes consagrados da cena musical alagoana e nacional como Arielly Oliveira, a Yalorixá Mãe Vera de Oyá, Mel Nascimento, Naty Barros, Arnaud Borges, com o Coletivo Afrocaeté, Luedji Luna, Bia Ferreira, Coletivo Rapem, já passou pelo 4º Festival Em cantos de Alagoas, Festival de Artes cênicas de Alagoas – FESTAL, Festival Dendi Casa Tem Cultural, e possui atuação nos espaços educativos como escolas públicas, na Universidade Federal de AlagoasUFAL, Institutos Federais como IFAL e faculdades particulares.
Hoje a artista se prepara para este lançamento no dia 25 de julho, data simbólica e política em que celebramos e rememoramos a luta de Tereza de
Benguela e dia Internacional da Mulher Negra AfroLatina e Caribenha, é uma forma de agradecimento-oferenda e continuidade da luta das Mulheres Negras que movimenta esse país e Alagoas na terra de Aqualtune, Dandara, Acotirene e Andalaquituche trazendo a estética da realeza negra e africana, no canto, na dança e da cultura local, assim refletindo e ressignificando nosso legado no campo das artes, como frente também no combate ao poder político hegemônico eurocêntrico, patriarcal racista e sexista que não fomenta políticas públicas específicas para as mulheres Negras que em sua maioria sofrem as violências e negligências estruturais como a naturalização da pobreza, violências obstétricas, saúde pública precarizada, baixo nível de escolarização e ocupação de forma desproporcional nos campos de fomento das Ciências, das Artes, nas universidades, no campo da
política partidária.
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