Ancestralidade e cultura: Vamos Subir a Serra celebra a luta, a tradição e a força do povo negro

Com uma rica e diversificada programação, o evento acontece entre os dias 11 e 19 de novembro em Maceió e União dos Palmares

FOTOS: Aprígio Vilanova

Consolidado como o maior evento afrocultural das regiões Norte e Nordeste do país, o Vamos Subir a Serra chega para mais um ano, enaltecendo as raízes da população negra, provendo representatividade e uma vasta programação, que traz atrações culturais, experiências gastronômicas, painéis sobre empreendedorismo, palestras e locais de discussão.

Esta edição terá mais um dia de atividades e vai acontecer entre os dias 11 e 15 de novembro – em Maceió, na Praça Multieventos, na Pajuçara – e, do dia 17 ao 19 – na Serra da Barriga, em União dos Palmares.

Ancestralidade e tradição marcam o Vamos Subir a Serra | FOTO: Aprígio Vilanova

O Vamos Subir a Serra já conquistou o seu espaço entre os maiores eventos destinados à cultura negra no Brasil, sendo realizado, há seis anos, pelo Centro de Cultura e Estudos Étnicos Anajô, uma entidade do movimento negro alagoano, vinculada aos Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs). 

Para a coordenadora do projeto e integrante do Anajô, Valdice Gomes, o evento contribui diretamente para visibilidade de Alagoas, palco da história de luta e resistência pela liberdade do povo negro, simbolizada pelo Quilombo dos Palmares.

“Sendo Alagoas um território que habita a Serra da Barriga, berço do Quilombo dos Palmares, maior símbolo de liberdade no Brasil, o Vamos Subir a Serra dá visibilidade ao estado sobre a importância da cultura afro-brasileira e da história de resistência e luta do povo negro. Um projeto potente, como ele é, atrai os olhares do Brasil e do Mundo para Alagoas, pela importância da Serra da Barriga e o simbolismo que ela representa para todos os afrodescendentes. Temos esse potencial”, destaca Valdice. E complementa:

“É um desafio que o Anajô e todos nós que fazemos o Vamos Subir a Serra aceitamos fazer. Dar a visibilidade necessária a Alagoas por esse fato histórico que temos em nosso estado. E nós mostramos tudo isso com debates, multifeiras afro-empreendedoras e a valorização da cultura. Mostra a nossa preocupação com o respeito, com a dignidade e com o reconhecimento da importância do povo negro para a história do Brasil”.

ARTE E ANCESTRALIDADE EM EVIDÊNCIA

Na Praça Multieventos, o evento conta com dois espaços: o Kizomba – com apresentações culturais, feira de gastronomia afro-brasileira e o Ozenga Palmares, local destinado a uma experiencia de 360 graus da Serra da Barriga. Além desses, haverá o Espaço Cultural Zumbi dos Palmares – uma tenda, que abriga a Praça Dandara (palco de apresentações culturais e debates), feira de empreendedores negros e quilombolas e espaço Beleza Negra destinado à estética afro.

Na Serra da Barriga, a atividade Malungos e Erês Abraçando Palmares terá uma ampla programação dedicada aos malungos (companheiros de luta), em que artistas, ativistas, educadores, religiosos, dentre outras figuras enriquecerão as atividades no Parque Memorial Quilombo dos Palmares. Já os Erês são uma referência às crianças e aos adolescentes estudantes de escolas públicas da região, que poderão acompanhar, vivenciar e aprender sobre a história e a cultura do povo negro de Alagoas e de todo o Brasil.

A programação conta desde atrações culturais até espaços de debate | FOTO: Aprígio Vilanova

A cantora Naná Martins vai se apresentar durante a programação e conta como o momento impacta a sua vida como um todo.

“Sempre que participo do Vamos Subir a Serra é muito significativo, muito importante. Quando mostramos nossa arte, a nossa dança, eu sinto um movimento libertador ao lado de todo mundo que está junto. A energia é sem igual. Em nenhum momento da minha carreira enquanto artista, eu sinto tal energia como eu sinto nesse evento. Isso é a nossa ancestralidade, onde fazemos o que a gente mais ama fazer. Isso nos é negado o ano inteiro. Porém, aqui, somos colocados como figuras principais de um posto que nunca devemos sair. Espero que esse movimento se fortaleça e se perpetue”, diz Naná.

A cantora ainda acrescenta: “Fazer parte dessa história é tão forte. Poder me apresentar para o nosso povo é a coisa mais importante para mim. É um show que preparo com muita fé e de peito aberto. Cantando músicas que, por muitas vezes, eu não tenho a oportunidade de cantar. Um momento de muita felicidade e de muita oração“.

A artista fala ainda sobre como é essencial que existam mais épocas e locais para que a cultura afro receba o reconhecimento que merece.

“Alagoas tem tantas riquezas e poderia investir tanto na nossa cultura. Não somos apenas praia. Nós temos o maior quilombo da América e não aproveitamos isso da melhor forma. Poderíamos ter o maior polo cultural do mundo. Espero que – cada vez mais – recebamos a chance de mostrar a nossa cultura e o nosso trabalho”, pontua.

POLÍTICAS PÚBLICAS E AÇÕES AFIRMATIVAS EM DISCUSSÃO

Além da ampla gama de atividades culturais, o Vamos Subir a Serra tem, em sua programação, uma grande diversidade de debates sobre temas importantes para a vivência afro-brasileira, possibilitando uma conversa aprofundada com o objetivo de fomentar, fortalecer e dar visibilidade às potencialidades e à ancestralidade negra.

Nesse contexto, o evento terá painéis e espaços com esse propósito. Em um desses momentos, o tema em questão será O Movimento Negro e a Luta pelas Cotas e contará com a participação do coordenador do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi), vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Danilo Marques. Ele ressalta a relevância da iniciativa e lembra da tradição alagoana na luta e na participação no Movimento Negro.

O evento ocorre em Maceió e na Serra da Barriga, em União dos Palmares | FOTO: Aprígio Vilanova

“O Vamos Subir a Serra já é tradicional aqui em Alagoas. Ano passado, tivemos a celebração dos 50 anos da nacionalização do Dia da Consciência Negra e o estado teve uma participação ativa nesse processo, desde quando iniciaram as peregrinações à Serra da Barriga e desde quando tivemos as reuniões do Memorial Zumbi. Então, temos uma tradição de mais de 40 anos de celebração do Movimento Negro. Hoje, temos o Vamos Subir a Serra como o principal espaço para debater sobre a Consciência Negra e as questões raciais”, afirma.

Danilo acredita que Alagoas precisa ter um calendário onde haja debate sobre temas como as questões raciais e o incentivo à produção cultural local – algo em que o Vamos Subir a Serra se faz relevante.

“Este ano vamos ter a oportunidade de participar com dois painéis debatendo a Lei de Cotas e os 20 anos de Ações Afirmativas no Brasil. Estaremos com a equipe do Neabi falando acerca de temas chave para a promoção da igualdade racial e
do combate ao racismo. É crucial levar essa discussão para uma praça pública, para um evento gratuito e ter esse diálogo direto com a sociedade e com entidades dos movimentos sociais”, comenta. E lembra:

“Por aqui, temos vários grupos afro nas periferias, temos bandas, artistas. É preciso pensar um calendário cultural, no qual tais artistas possam participar e disseminar a cultura alagoana. Temos o Quebra de Xangô, o Mês da Mulher Negra Latino-Americana, as temáticas indígenas em abril. Sendo assim, é possível pensar em diversas iniciativas que promovam essas discussões. A Consciência Negra não pode ficar apenas circunscrita no mês de novembro. Devemos debater esses temas o ano todo”.

Você pode conferir a programação completa acessando o perfil do evento nos redes sociais.

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