Alagoano que fez livro no instagram é selecionado na França

Paulo Accioly faz vaquinha para a viagem; para o fotógrafo, seleção representa força cultural de Alagoas e do Nordeste
Foto: Paulo Acioly

Aos 16 anos, o alagoano Paulo Accioly gostava de seguir os gatos, cachorros e flores do condomínio com sua câmera recém-comprada. Não tinha muita experiência. Só sentia que precisava colocar para fora uma vontade de criança. Paulo, por exemplo, nunca conseguiu esquecer de quando tinha 11 anos e deu aos pais a opção de lhe presentear com um gameboy amarelo ou uma câmera – e os pais, na época, escolheram o primeiro.

Quando o fotógrafo indicado ao Oscar Jean Réné, conhecido como JR, lhe disse: “Vous étiez l’un des sélectionnés”, ou seja, “Você foi um dos selecionados”, Paulo chorou. Disse “obrigado” várias vezes. Ele é o único brasileiro que irá para uma imersão artística na escola École Kourtrajme, localizada na França. As aulas começam em 20 de janeiro e vão até 30 de junho. Para o artista alagoano, a seleção lhe empolga porque mostra a força cultural de Alagoas e do Nordeste.

“Um brasileiro, nordestino, em lugar desses é maior do que a realização de um sonho, sabe? Nunca imaginei que alguém como o JR notaria meu trabalho, elogiaria, me selecionaria para um curso. Eu acho que é uma vitória para nós, nordestinos, sabe? Que tentamos tanto, faz tempo. Nós somos sucateados, colocados de lado porque não estamos no sul ou sudeste, e eu sou nascido e criado em Alagoas. Nosso povo é rico, interessante, inteligente, bonito. Somos enormes, mas não enxergamos isso. Quando o cara fala: ‘Você é bom, venha’, é irado. É como um abraço”, disse Accioly.

Todo o processo foi por meio das redes sociais. Paulo se inscreveu sem muita pretensão. Ao acompanhar as redes sociais de JR, viu que o curso estaria aberto e fez a inscrição, mas nem completou todo o formulário. Achava que não passaria. Demorou um mês para que recebesse resposta e se surpreendeu quando lhe pediram fotos e um portfólio. Enviou o livro que publicou em 2018, chamado C’est La Vie, disponibilizado na íntegra no Instagram neste ano (clique aqui para acessar).

A obra conta parte de suas histórias durante uma temporada na Europa, em intercâmbio. As páginas são intercaladas com frases e textos na composição. As imagens são em preto e branco, feitas com uma câmera analógica e reveladas pelo próprio Paulo.

Passou mais tempo e Paulo foi entrevistado por diretores da École Kourtrajme via Skype, na ausência de JR – que participou de outras entrevistas.

“Eles me ligaram dizendo que eu tinha sido um dos 35 pré-selecionados para a fase final. Disseram que tinham 650 pessoas no começo e foram tiradas 35 para esse último momento. Quando vi que o JR não estava, achei que já estava descartado, ‘o cara não está nem aí, só estão cumprindo tabela’. Eu achei que falei mal, foi tudo em francês. Meu francês é intermediário, sendo bem otimista. Não foi legal. Achei que tinha perdido”, conta.

Na madrugada seguinte, Paulo recebeu um e-mail tentando marcar uma nova entrevista, dessa vez só com a presença de JR. Não viu, perdeu o horário e só descobriu com horas de atraso. Na correria, conseguiu remarcar e trocou uma ideia com o francês. Foi uma conversa melhor. Começou a acreditar que tinha chances.

A última ligação veio dias depois. Pediram para que ele entrasse no Skype para alinhar alguns detalhes. Quando Paulo atendeu, era JR. Ele dava os parabéns. Paulo tinha sido a única pessoa selecionada a não morar na Europa.

“Ele me disse que eu tinha passado. Algumas coisas não consigo lembrar, porque me emocionei muito. Só falou que o Brasil era longe e que eu precisava chegar logo, porque as aulas estavam prestes a começar”.

 

Foto: Arquivo Pessoal

O resultado da seleção foi divulgado na última sexta-feira, 10. Paulo é um dos 13 estudantes selecionados num processo que contemplou mais de 650 pessoas.

Entretanto, as dificuldades da ida à França começam por conta dos custos. A dificuldade está no financiamento dos custos da viagem (passagem e moradia), não contemplados pela bolsa de estudo.

Segundo ele, o orçamento ultrapassa R$16 mil. Mesmo assim, há só uma certeza: Paulo dará um jeito. Por meio das redes sociais, ele está promovendo uma vaquinha. Para acessá-la, clique aqui.  

A contribuição permite brindes: com R$ 23,00, o participante tem como recompensa um pôster de uma das fotos do livro C’est La vie em tamanho A4; já com R$ 33,00, o formato aumenta para um A3. Também é possível ajudar com quantias maiores. O envio dos cartazes será feito para todo o país sem custo adicional.

Foto: Paulo Acioly

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