“Chove” dentro da sala de aula em escola de Traipu

Por falta de estrutura, comunidade escolar tentou diversos improvisos, mas aulas tiveram que ser interrompidas
Sala de aula em escola municipal de Traipu alagada após calha no teto.

Educadores, profissionais e estudantes não têm registro da última vez em que a Escola Municipal Cônego Ribeiro, situada no povoado de Olho d’água da Cerca, na cidade de Traipu, passou por qualquer tipo de reforma. A situação implica em dificuldades para a educação escolar, em meio à falta de estrutura, o que inclui o calor intenso e a ausência de climatização. No entanto, desta vez, a situação terminou indo longe demais, após estudantes e professores terem enfrentado um episódio em que “choveu” dentro da sala de aula. Em razão dos problemas de estrutura na unidade educacional, a dinâmica de ”improviso” agora não funcionou e as aulas chegaram até mesmo a ser interrompidas com o alagamento interno desencadeado por fortes calhas geradas pelo afastamento das telhas na instituição.

Situada na rua principal do povoado, a Cônego Ribeiro é uma das 47 escolas municipais de Traipu, cidade localizada no agreste de Alagoas. O município tem acumulado dados educacionais preocupantes, de acordo com dados do Censo do INEP em 2022, como 12% de acessibilidade, 26% de água tratada em rede pública, apenas 6% das instituições contendo biblioteca, 2% esgoto, 4% com quadra de esporte. Além do mais, 50% das escolas possuem banda larga e 2% um laboratório de ciências.

Não bastassem essas questões, no caso da escola de Olho d’água da Cerca, até mesmo as condições básicas para convivência dentro do espaço escolar são comprometidas pela ausência de reformas necessárias. Isso porque, de acordo com informações de funcionários da instituição, com exceção de algumas pinturas pontuais e trocas de carteira ou quadro, nenhuma reforma foi verificada há anos no prédio.

“O que tem acontecido é um improviso. O espaço educacional é absolutamente inadequado para a relação de ensino-aprendizagem. Mas, até hoje, estavam acontecendo improvisos. Então, aparece uma goteira, puxa uma carteira para um lado. Aparece uma série de goteiras, puxa para o outro”, comentou um profissional da escola, que não quis identificar seu nome, temendo represálias.

Um dos professores relatou episódio que presenciou dentro de uma sala do nono ano. “Na sala do nono ano, que é a mais alagada, os professores e alunos fizeram um círculo em volta da goteira, para que a aula continuasse. Mas em um outro momento ficou impossível. Não teve como continuar a aula, porque a sala do nono ano virou mesmo uma piscina. A água pingava no chão e reverberava, de tanta água que tinha”, comentou.

Segundo os profissionais, um dos professores tentou manter as aulas, mas não deu certo. “Uma das meninas, uma criança de 11 anos, estava com medo, porque vinham goteiras na sala, o teto começava a afundar um pouco, porque acumula água na sala, e não conseguia nem se concentrar. E, para dar aula nesse contexto, é praticamente impossível”, contou.

A comunicação sobre o problema à Prefeitura e cobrança por resolução acaba se configurando um outro problema, em meio à mistura de vínculos – entre contratados e concursados  – e os receios de retaliação. “Tem professores com medo de fazer alguma crítica à gestão e acabar reverberando no seu próprio emprego. Então, vira mesmo que uma espiral de silêncio. Aqueles mais antigos dizem que é o que dá, fingem que não tem nada acontecendo, dizem que é isso mesmo. E os mais novos têm até alguma indignação, mas têm medo de acontecer alguma coisa. E é uma cidade que tem, no mínimo, 20 anos que não tem um concurso público, né? Então tem isso também”, contou um dos profissionais.

Em resposta à Mídia Caeté, a secretária Juliana Kummer alegou que o episódio foi isolado e esteve relacionado aos ventos fortes ocorridos na cidade e que danificou várias construções, incluindo o telhado da escola. Segundo ela, o problema foi resolvido de imediato e as aulas já iniciaram.  “A situação explicada mostra que não foi descaso nem falta de cuidado, mas um fenômeno da natureza”, relatou. Questionada sobre os problemas de infraestrutura comunicados pelos professores, a gestora também acrescentou que há um projeto em elaboração para que a escola desse povoado seja construída.

Trabalhadores da educação na cidade contam, por sua vez, que o problema é recorrente. “É um problema recorrente nesse período de chuvas, não é a primeira vez. É um colégio pequeno. São cinco salas, onde quatro são ocupadas com estudante e uma quinta é meio que usada como depósito, além disso você tem a cozinha e a sala do diretor, não tem sala dos professores, por exemplo. A prefeitura tem feito reformas, umas reformas estruturais em algumas escolas, mas a nossa aqui até agora a gente não tem informação de quando começa, se começa, se vai ter. Mas o principal problema é esse mesmo, da infiltração da água nas salas, né? Tem problemas menores, como o chã do pátio que fica muito molhado, e a criançada pode acabar escorregando e caindo, mas o principal problema é esse mesmo”.

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