Crítica sobre o filme Cine Guarany, escrita por Arthur Henrique.
O curta-metragem Cine Guarany, de Karol Justino, opta por seguir um caminho liberal e espontâneo, dando total espaço e liberdade para os personagens reais falarem e andarem pelo ambiente, ocasionando em um filme íntimo e sentimental.
É interessante como deixa os entrevistados que estavam na época do Cine Guarany livres e a vontade para poderem falar e recordar os seus bons momentos, como observado na cena em que uma das entrevistadas acaba usando o termo “gazear”, sugerindo desleixo com a escola, mas logo em seguida se corrige de modo até engraçado e ingênuo; isso demonstra a liberdade que estavam tendo para apenas falarem sobre o que sentiam sem muita preocupação em lembrar exatamente de algo ou não, mas apenas, comentar a respeito de suas experiências. E sem restrição nenhuma também discorreram sobre os filmes de suas épocas, afirmando com total certeza de como eram ótimas obras e que todos iam com pleno prazer assistir.
Em sintonia a essa escolha está também a câmera que segue os personagens e age de forma livre e arbitrária, sem se preocupar em construir planos elaborados. Em alguns momentos é possível identificar isso, quando algum entrevistado aponta para algo ou lugar e a câmera acompanha o movimento, ou também quando andam livremente pelo espaço e a câmera os segue sem nenhuma objeção e dificuldade; demonstrando mais uma vez como estavam “soltos” para vivenciarem aquele momento de seu modo e vontade.
Até a questão da escolha da iluminação natural, em um lugar que está abandonado e sem uma iluminação mínima para situar melhor os entrevistados no ambiente, é algo que firma toda a unidade mais livre e intimista do filme.
E apesar de nos períodos em que a própria diretora participa do filme, mudar o seu tom, e destoar um pouco do que está sendo arquitetado, pois surge de forma meticulosa, nada interfere no sentido geral da obra.
Tudo isso em equilíbrio, causa uma aproximação nas histórias e nos relatos contidos no filme, não só por serem relatos pessoais, mas também por toda espontaneidade que vai das narrativas à construção de cenas de forma orgânica e até sentimental. Engrandecendo ainda mais o discurso de quem fala e de quem lembra tudo que viveu nos cinemas de Rio Largo, nesta cidade onde se passa trem e avião, como mostrados no filme, mas que não deixam rastros, diferentes de todos os momentos vividos no
Cine Guarany, esses guardados na memória, restando apenas serem recordados por quem viveu e estava lá.