A aguardada visita da CPI da Braskem a Alagoas, ocorrida nesta quarta-feira, 8 de maio, gerou uma série de controvérsias, inclusive revolta de vítimas que – num primeiro momento – chegaram a ser excluídas da programação da comitiva. Graças à mobilização popular, entretanto, os senadores mudaram a rota e decidiram ir aos locais indicados pela população.
Iniciada em dezembro de 2023 – apesar de diversos atrasos, inclusive em meio a um impasse sobre a relatoria – a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi iniciada para apurar a responsabilidade da Braskem sobre todo o desastre socioambiental que provocou o afundamento dos bairros em Maceió. Faltando menos de duas semanas para findar o prazo, a CPI chega a Alagoas para uma inspeção que já havia sido anunciada desde o início dos trabalhos.
Desde que anunciada a visita da CPI, moradores atestam que a mineradora apressou em retirar todas os pixos dos muros, colocando tapumes para esconder a revolta da população. Em outros lugares, pintaram paredes de branco e chegaram até mesmo a acelerar a derrubada de alguns deles.
Apesar da “maquiagem”, a população atingida pela mineração esteve a todo o tempo atenta para ser ouvida pela CPI. Nos Flexais, desde as primeiras horas do dia moradores aguardavam com faixas a chegada da Comissão. O problema é que, no início da tarde, receberam a informação de que a Comissão não teria tempo de efetuar a visita e seguiram direto para o Ministério Público Federal. Desde o início do dia, a ativista Evelyn Gomes já havia publicado um vídeo com a agenda atentando para a reunião isolada entre senadores e procuradores.
Em vídeo, o presidente da associação de empreendedores vítimas da mineração, Alexandre Sampaio, declarou que a agenda havia sido dominada pela Braskem.
“Estamos nos Flexais e simplesmente cancelaram a vinda ao bairro. É inadmissível, um desgaste político do senador Rodrigo Cunha, de Rogério Carvalho, de Omar Aziz, porque não faz sentido virem aqui e dizer que não tem tempo de passar aqui. A Braskem dominou a agenda da CPI. A Braskem dominou aqui em Maceió. Está tudo dominado”, relatou.
A ex-moradora do Pinheiro, Fernanda Valéria, conta como todos ficaram estarrecidos com a notícia. “Eu fui de zero a mil, sabe? Porque para mim já são seis anos de luta, e quando eu conheci a CPI e o flash drive, eu fiquei assim, assustada, como é que permitiu que esse povo ainda continuasse lá. Então, assim, para mim, a CPI estar aqui e não ir lá seria inaceitável, inconcebível. Glória a Deus que a gente conseguiu reverter, mas doeu. Doeu em mim, tudo isso. Doeu. Amém que a gente conseguiu, mas foi muito doloroso.”
Para conseguir a visita, toda uma estratégia foi elaborada pelos moradores.”Então, a gente ameaçou invadir o MPF e fechar o aeroporto. Foi assim, foi indignação. O grupo nem era tão grande, tinha muita gente na rua. Mas foi uma indignação profunda, entendeu?”, conta.
Já no MPF, o morador dos Flexais, Valdemir Alves, compartilhou também o vídeo mostrando a situação.
Pressão popular
Se a CPI não vai aos Flexais, os Flexais vão à CPI. Ao saberem que a visita não iria acontecer, os moradores decidiram se deslocar até o MPF, onde a comitiva estaria disponível para a imprensa e alguns moradores também poderiam ser ouvidos.
Ao chegar no local, souberam que os senadores da CPI estavam em uma reunião – a portas fechadas – com os procuradores responsáveis pelo caso. A ação também foi alvo de críticas por parte da população atingida, que vem a todo o tempo reclamando da postura do MPF em relação aos acordos.
Com faixas à porta do órgão, os moradores reivindicaram visita e escuta por parte da CPI. Diante da pressão popular, os senadores decidiram seguir então para os Flexais, entrando nas casas e ouvindo os moradores que seguem isolados e enfrentando uma série de dificuldades desde que os bairros no entorno foram evacuados. Apesar dos transtornos, a expectativa após a visita é de que os senadores indiquem na CPI a realocação dos moradores.
Em suas redes sociais, o relator da CPI, senador Rogério Carvalho declarou: “Hoje a nossa visita a Maceió terminou com nossa parada no Flexal de Baixo. Mesmo com os contratempos e outros compromissos, vi a necessidade de PRIORIZAR ESSA COMUNIDADE. Vi de perto a calamidade, o abandono e o desespero que essas pessoas estão vivendo por conta de uma LAVRA AMBICIOSA. Foi emocionante ver a gratidão dos moradores e reafirmar nosso compromisso em lutar por justiça por todos. Juntos, vamos enfrentar e vencer essa batalha”, escreveu.
A Mídia Caeté procurou o MPF para obter informações sobre a reunião com senadores da CPI, mas até o momento não obteve respostas.