Entre o Passado e o Porvir

Texto elaborado durante o Laboratório de Crítica Cinematográfica, da 15ª Edição da Mostra Sururu de Cinema Alagoano


Crítica sobre o filme Phoenix Club, escrita por Laura Gomes.

Há algo envolvente em Phoenix Club. Dirigido por Gabriela Araújo, o curta-metragem desliza entre os dias de Valeriano, um idoso que ao se aposentar descobre novos ritmos para a vida. Em suas pedaladas à beira-mar e encontros no nostálgico clube que frequentou durante décadas, ele tenta costurar passado, presente e um futuro incerto.

Valeriano é um homem que habita dois mundos: o da liberdade leve, presente nas festas ao lado dos amigos e nas paisagens da orla, e o da introspecção, onde memórias de uma infância e juventude que não voltam mais se desdobram em reflexões. A direção traduz essa dualidade com uma estética intimista — a trilha sonora e os enquadramentos próximos dos personagens criam uma atmosfera que acolhe, mas também provoca curiosidade.

O clube, por sua vez, vai além de um cenário; é quase um santuário de pertencimento e memória coletiva. Entre cenas de celebração, ao som do DJ, e momentos de solidão, como Valeriano bêbado à beira da piscina, o Phoenix Club se torna o ponto de encontro entre alegria e saudade, amizade e vazio, abrindo espaço para as ambiguidades da vida.

Apesar de sua narrativa envolvente, o curta deixa em aberto o futuro de Valeriano. A inquietação contida na frase “quero ir para um lugar, descobrir sei lá o quê” sugere uma necessidade de ir além, que merecia maior desenvolvimento. Ainda assim, a obra instiga o espectador a refletir sobre os caminhos possíveis, mesmo em uma fase da vida marcada por tantas despedidas.

Além disso, o filme poderia ter explorado mais o final de Valeriano, embora não tivesse essa obrigação. No entanto, fica a sensação de que a amizade dele com os outros dois personagens não é suficientemente desenvolvida. Eles acabam funcionando mais como elementos para impulsionar a narrativa do protagonista, tanto no presente incerto quanto na celebração do passado. 

De modo que as interações entre os personagens deixam a desejar, com diálogos que, embora contribuam para a atmosfera onírica da narrativa, em certos momentos dispersam a atenção do que poderia ser uma relação mais sólida e emocionalmente marcante.

Com seu olhar intimista, Phoenix Club é uma celebração das pequenas revoluções que acontecem dentro de nós. É uma obra que desafia o esquecimento, iluminando histórias que dançam entre os raios do sol e as sombras das memórias.

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