Especialistas alertam para riscos e enxergam com desconfiança a flexibilização do uso de máscaras

Médicos e entidades ressaltam que as máscaras são fundamentais para proteger grupos vulneráveis, pessoas com ciclo vacinal incompleto e quem faz uso de locais com elevados índices de contaminação

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente, no dia 11 de março de 2020, que o mundo vivia uma pandemia de Sars-Cov-2, também conhecido como Novo Coronavírus. Desde então, o mundo inteiro passou a adotar medidas preventivas para frear o avanço da Covid-19. 

Uma dessas medidas foi o uso de máscaras, que – ao lado do álcool em gel e do distanciamento social – logo se popularizou entre as pessoas e contribui até hoje para diminuir a transmissão e o contágio entre as pessoas.

Governador e prefeito se pronunciaram sobre a flexibilização do uso de máscaras. | FOTOS: redes sociais/assessoria.

Estudos recentes reforçam a importância das máscaras no controle epidemiológico de enfermidades transmitidas pelo ar. É o que comprova a pesquisa realizada por um grupo de cientistas do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).

Com o avanço do quadro de vacinação e a redução dos casos de óbitos e contágios, governos estaduais e municipais estão optando por flexibilizar a utilização do material. A cidade do Rio de Janeiro foi a pioneira entre as capitais, desobrigando o uso em locais fechados na segunda-feira (07)

Na manhã de ontem, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PSB), e o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), se pronunciaram sobre o uso de máscara na capital e no Estado, respectivamente. 

JHC anunciou que o uso de máscaras não será mais obrigatório em Maceió. Segundo ele, o uso será facultativo e pode ser exigido pelos estabelecimentos privados. Além disso, ele afirmou que locais de eventos poderão ter sua capacidade máxima. O município de Arapiraca seguiu o exemplo.

Já Renan Filho informou, através das redes sociais, que anunciaria o fim da obrigatoriedade em uma coletiva, juntamente com os resultados do combate à pandemia. Ele disse ainda que a não obrigatoriedade será válida somente para ambientes externos.

Mesmo seguindo uma tendência nacional, Alagoas está indo de encontro aos especialistas, que apontam os riscos da flexibilização principalmente para pessoas mais vulneráveis, como crianças não vacinadas e idosos, e para quem faz uso de locais com índices elevados de contaminação, como o transporte público.

Ao Portal UOL, a infectologista e professora do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Joana D’Arc Gonçalves, disse considerar precipitada a decisão de pôr um fim à obrigatoriedade de máscaras em ambientes fechados.

Máscaras e álcool em gel contribuíram para o controle da pandemia. | FOTO: banco de imagens.

“Acredito que deveríamos esperar um pouco mais para ter uma maior certeza dos resultados da terceira dose. Poucas pessoas no Brasil receberam o reforço e é ele que previne contra as novas variantes”, afirma a especialista.

O pensamento é corroborado pela também infectologista Luana Araújo, que – em entrevista ao UOL News – apontou que o momento não é o ideal para flexibilizar a utilização do material nesses lugares.

“Não temos nenhum local do país com uma cobertura vacinal suficientemente avançada, especialmente nas populações mais vulneráveis, que permita [retirar a obrigatoriedade do uso de máscaras] de maneira generalizada sem afetar as pessoas mais suscetíveis”, explicou.

O QUE DIZ A FIOCRUZ?

O mais recente Boletim Epidemiológico da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na última sexta-feira (11), indicou que a flexibilização do uso de máscaras ainda é prematuro. De acordo com o documento, encerrar medidas de prevenção pode ser perigoso, caso a cobertura vacinal ainda não esteja completa no país.

“Por fim, o enfrentamento da pandemia envolve uma combinação de medidas e conclama o princípio da precaução.
Ao mesmo tempo em que é importante ressaltar os indicadores positivos relacionados aos casos, internações e óbitos (os quais ainda não refletem de modo mais direto os efeitos das viagens e do carnaval), consideramos prudente a manutenção das medidas de distanciamento social e uso de máscaras nos ambientes fechados onde não há controle do total de vacinados ou em situações que envolvem grande concentração de pessoas. Estas medidas são necessárias até que tenhamos uma redução das desigualdades de cobertura vacinal nas regiões que envolvem conjuntos de municípios (como as regiões metropolitanas), incluindo a ampliação da cobertura com dose de reforço”, diz um trecho do texto.


LEIA NA ÍNTEGRA O BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO DA FIOCRUZ.

O QUE DIZEM OUTRAS ENTIDADES?

Especialistas alertam que a flexibilização deve ser feita  respeitando os indicadores epidemiológicos. | FOTO: banco de imagens.

O Comitê Extraordinário de Monitoramento COVID-19, da Associação Médica Brasileira (CEM COVID_AMB), ressalta a importância de que as decisões sejam tomadas com segurança e seguindo os indicadores epidemiológicos e de cobertura vacinal. A entidade lembra ainda que “uma flexibilização indiscriminada pode ampliar os riscos à população, ainda mais à parcela não vacinada ou com esquema incompleto e principalmente os imunocomprometidos”.

Leia abaixo outro trecho do boletim emitido pelo comitê no dia 10 de março.

“Entretanto, a despeito desse cenário melhor comparado a outros que já vivemos, o CEM COVID_AMB compreende que temos um país de proporções gigantescas e com coberturas vacinais regionais muito díspares e, portanto, precisamos ter cautela quanto à questão do uso opcional de máscaras na prevenção de infecções respiratórias. Com eventuais exceções, a prevenção, de forma geral, incluindo o uso de máscaras, deve ser mantida, com atenção particular aos locais fechados”.

CONFIRA O DOCUMENTO NA ÍNTEGRA

Já a presidente da Sociedade Alagoana de Infectologia (SAI), Vânia Pires, em entrevista à TV Gazeta de Alagoas, afirmou que a cautela deve prevalecer, sobretudo em relação às pessoas vulneráveis e endossa o uso da máscara em locais fechados.

“Nossa recomendação é que, principalmente nos locais fechados, e mais ainda aqueles indivíduos idosos, com comorbidade e imunossuprimidos não devem se abster do uso de máscaras”, orienta Vânia Pires.

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