O risco eminente em abordar cotidianamente uma tragédia da imensidão do caso Braskem é o da generalização. A amplitude do crime cometido pela mineradora é tão grande que se torna difícil observar com mais cautela os danos na vida de cada um que foi atingido não apenas pela devastação ambiental e – por ambiental – entenda-se não somente os prejuízos naturais, mas os sociais. Na última quinta-feira (31), véspera de dia de finados, a vida de mais uma pessoa foi tirada pela desesperança: a idosa Maria Tereza, 63, cometeu suicídio e, antes disso, envenenou o gato de estimação e a filha, 42, que tem deficiência e se encontra em estado grave no HGE, onde respira com a ajuda de aparelhos.
De acordo com Jackson Douglas, liderança do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUV), “foi uma grande surpresa. Mais uma pessoa ceifou a vida por causa da pressão psicológica da Braskem. Ela tinha 63 anos e a filha tem 42 anos. A Braskem coloca funcionários para tentar coagir os moradores e a Prefeitura de Maceió é conivente com esta situação. Esta é a décima sexta pessoa que tira a própria vida em decorrência desta situação e eles nem ao menos mencionam nada sobre as pessoas que falecem. Para eles, na verdade, isso é apenas estatística, morrendo é um a menos, pois só se preocupam em economizar nas indenizações”, explicou.
A questão sobre a saúde mental dos vítimas do crime da Braskem recebe pouca atenção. Na reportagem da Mídia Caeté, “O colapso na borda: moradores vizinhos à Mina mostram calamidade nas comunidades e ausência dos órgãos públicos em meio ao rompimento“, publicada em 12 de dezembro de 2023, uma das pessoas entrevistadas declara: “estamos vivendo momentos de terror aqui. Ninguém veio falar com a gente para explicar o que está acontecendo. Estamos nervosos. Estou aqui tomando calmantes porque não consigo dormir direito e ninguém consegue mais. Não dá para comer ou dormir. O medo é de a barreira descer, da mina ceder e morrer todos os moradores daqui. Problema seríssimo. Se não for a comunidade que se esforça para se comunicar com alguém, a gente não sabe de nada”.
A fala acima evidencia o tamanho do terror vivido pelos moradores, que notoriamente reflete na saúde psicológica e gera quadros depressivos capazes de levar à destruição de famílias, como ocorreu com dona Pureza, que é lembrada por amigos e parentes como uma mulher forte e batalhadora.
Idosa deixou carta responsabilizando a Braskem por sua decisão
“Cada vez que eu vejo os benefícios da Braskem, a minha desilusão aumenta. Estou cada vez mais depressiva, em saber que vou ficar nesse isolamento para sempre. Pureza”.
Apesar das poucas palavras, o bilhete evidencia que o isolamento social pesava bastante psicologicamente para a idosa. Segundo Jackson, assim como a de outros moradores, a situação financeira de dona Pureza era preocupante e era notório que passava por necessidades.
A maioria dos moradores dos Flexais, cobra uma realocação, porém a mineradora, a Prefeitura de Maceió, o Ministério Público Federal, o Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública da União acreditam que o bairro pode ser revitalizado.