A pergunta foi objetiva: por que nenhuma outra mobilização em Alagoas durou tanto tempo sem uma contenção incisiva de guarnições da Polícia Militar e forças da Segurança Pública em Alagoas? A resposta das instituições armadas, no entanto, até o momento não explicou a falta de ação.
Há quase 24 horas, a Avenida Fernandes Lima – uma das principais vias de acesso da capital alagoana – segue bloqueada por manifestantes bolsonaristas que pedem por intervenção militar no intuito de impedir a posse do presidente eleito Lula (PT) a partir de 2023. Para evitar responsabilização, o ato segue mantendo aparente falta de liderança – embora uma série de comandos e orientações venham surgindo entre estados numa coordenação nacional que demonstra alinhamento com diversas táticas: utilização do termo “resistência civil”, “intervenção federal”, não utilizar o nome de Jair Bolsonaro nos atos, ou seu número de candidatura, convocações coordenadas em frente a quartéis etc. No mais, o silêncio de Bolsonaro vem sendo disseminado como “incentivo” à manutenção dos protestos, inclusive antecipando a descrença caso de Jair se pronuncie reconhecendo a derrota.
Assim, para além da forma, a motivação demonstra que os manifestantes não se preocupam com o atentado a preceitos constitucionais, se resguardando apenas contra ações de criminalização. Em alguns estados, como São Paulo e Mato Grosso, guarnições da Polícia Militar efetuam ações de dispersão. A Polícia Rodoviária Federal também começam a dispersar manifestantes em ações extremamente lentas – diferentemente das blitzes constantes nas rodovias durante as eleições – ação a que ainda terão que se explicar.
Ocorre que, em Alagoas, Polícia Militar e Secretaria Estadual de Segurança Pública têm respondido “sem responder” todas essas ações. Diferentemente de todos os protestos ocorridos no estado nos últimos anos, a agitação dos bolsonaristas dura consideravelmente, sobretudo, pela ausência de qualquer impedimento incisivo por equipes cuja função é manter a ordem social – ao menos é como constantemente ressaltam contra atos realizados por categorias de trabalhadores, por ocupações de pessoas aviltadas por direitos sociais e fundamentais.
Nem mesmo as faixas pedindo intervenção militar, a hostilização a motociclistas, a festa noturna com direito a funk e forró, foram suficientes para a interrupção da comemoração privada na via pública: a pista da Fernandes Lima hoje segue parcialmente ocupada e a Polícia Militar de Alagoas informa que, até o momento, a ordem é apenas tentar negociar a desobstrução através do Gerenciamento de Crises.
Questionada sobre as diversas declarações de grupos bolsonaristas, que afirmam ter o apoio da corporação em Alagoas, o órgão silencia. Questionada sobre quanto tempo pretendem levar a ação no tom de “negociação” e “sensibilização dos manifestantes”– o silêncio também se mantém.
A nota oficial da PM se resume a dizer o seguinte:
“Sobre o movimento de protesto contra o resultado das eleições, a Polícia Militar segue em monitoramento. Em Maceió, militares do Centro de Gerenciamento de Crises estão nas imediações do 59º Batalhão de Infantaria Motorizado (59º BlMtz) na Avenida Fernandes Lima, desde o início da manhã. Cerca de 80 pessoas ainda permanecem na via, bloqueando parcialmente o trânsito”.
Enquanto a manutenção se segue, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) tem seu trabalho direcionado a orientar motoristas para adoção de vias alternativas. “Quem segue no sentido do Aeroporto de Maceió pode ir pela Rua Coronel Lima Rocha e, em seguida, pelo Eixo Quartel. Já quem vai no sentido Centro, pode utilizar o desvio instruído pelos agentes, na Rua São Benedito. Segundo o órgão, a via está com uma faixa ocupada no sentido Centro/Aeroporto, e duas faixas ocupadas no sentido Aeroporto Centro.