IFAL gera controvérsia com métodos de ingresso e chega a ser denunciado por ‘sorteio de vagas’ para novos alunos

Instituto afirma que notas do Enem ainda são consideradas para vagas e que decisões ocorreram em Conselho Superior
Mobilização reivindica retorno do SISU durante evento acadêmico no IFAL. Foto: divulgação

Gerando controvérsia entre alunos, docentes, e propensos candidatos a ingressar no Ensino Superior, o Instituto Federal de Alagoas (IFAL) decidiu retirar de seu método de ingresso único o Enem, e até mesmo os formatos mais tradicionais de vestibular. A decisão tem criado uma série de impasses, questionamentos e inseguranças quanto à instituição, que chegou a ser denunciada publicamente por adotar até mesmo “sorteio de vagas” – medida que foi alvo de um pedido de representação ao Ministério Público Federal. A instituição desistiu do procedimento e “apagou” o edital do portal.

De acordo com funcionários do Instituto, o problema iniciou quando o Ifal decidiu deixar o o Sistema de Seleção Unificada (SISU), passando a adotar outras medidas de ingresso. As decisões foram tomadas pelo Conselho Superior ainda em fevereiro de 2024,  com efeito para o SISU 2025. A ausência de debate com a comunidade acadêmica em relação à decisão foi reclamada.

“A saída do Ifal do Sisu foi um erro grave, e a forma como essa decisão foi conduzida torna tudo ainda mais preocupante. Não houve debate com os colegiados dos cursos, nem com os Conselhos de Campus. A comunidade interna não foi ouvida, e a nota da Reitoria só foi divulgada no dia 20 de janeiro, véspera do encerramento das inscrições do Sisu. Para piorar, a ata da reunião que deliberou sobre essa mudança só foi produzida meses depois e publicada após pressões por mais transparência. Isso é inaceitável em uma instituição pública”, relatou o professor Alexandre Fleming.

“O Ifal possui uma estrutura ampla e diversa. São 7 cursos de bacharelado em 6 campi, 6 licenciaturas presenciais em 4 unidades, além de polos EAD, e 10 cursos superiores de tecnologia. Mudar as formas de ingresso em um cenário tão complexo exige diálogo, planejamento e responsabilidade. Não sou contra discutir novos modelos de seleção, mas não podemos abrir mão do Sisu como uma opção legítima. E sou totalmente contrário ao sorteio como critério de acesso, como previa o Edital nº 15, que só foi retirado após nosso posicionamento e a denúncia feita ao Ministério Público Federal”.

No Edital de n.15, a Instituição chegou a ofertar  vagas por sorteio para os cursos de licenciatura em matemática, licenciatura em física e Bacharelado em Engenharia Agronômica. O MPF confirmou ter recepcionado o pedido de representação e informa que será analisada. Não há uma indicação de data específica para a resposta se aceitará ou não.

Enquanto isso, uma série de mobilizações em defesa do SISU foram realizadas. Durante a mesa de abertura da V Semana da Matemática, estudantes exibiram cartazes com a hashtag #VoltaSisu. Já em assembleia geral, docentes e técnicos administrativos que compunham o Sindicato dos Servidores Públicos Federais da Educação Básica e Profissional no Estado de Alagoas (Sintietfal) debateram o assunto e se posicionaram não só pelo Sisu como uma das formas de ingresso, como definem que as formas de ingresso ao IFAL devem ser discutidas com toda a comunidade em audiências públicas convocadas pela gestão. “A decisão tomada no Conselho Superior há um ano não foi antecedida deste debate e nem se tinha a informação do critério do governo em garantir o programa pé-de-meia apenas para as instituições que fazem parte do Sisu”, declarou a nota do Sindicato.

A entidade também declarou ter sido informada sobre a criação de um Grupo de Trabalho com objetivo de “com o objetivo de ‘elaboração de um instrumento de prospecção de ingresso de futuros estudantes nas licenciaturas’, de modo que também requer a participação no Grupo de Trabalho, além da participação de entidades estudantis e coordenadores dos cursos.

 

IFAL afirma que notas de Enem ainda serão consideradas, mas relata problemas de adequação do calendário SISU

Em resposta à Mídia Caeté, a direção do IFAL informou que  o Sisu ainda é considerado, uma vez que as notas do ENEM ainda seguem como uma das opções de seleção de ingressantes do Ifal. Entretanto, por ser um processo seletivo com edital e cronograma próprios, cujo cronograma é estabelecido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) – e, portanto, a revelia do calendário acadêmico das instituições – termina não se adequando ao calendário de diversos campi.

“Conforme o perfil multicampi do Ifal, cada campus segue seu calendário, alguns em desarmonia com o calendário civil, inviabilizando a participação no Sisu. Os campi são autônomos administrativa e pedagogicamente para construir o calendário, de acordo com a Lei nº 9.394/1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, ao estabelecer, em seu art. 23, §2º, que “O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino”.

A instituição também relata que alguns campi iniciam o ano letivo em meados ou ao final do 2° semestre do ano civil, “atrasando o ingresso de estudantes que participaram da seleção em janeiro e esperam ingressar tão logo o resultado é divulgado, causando desinteresse na matrícula e gerando novas chamadas para completar as turmas.

Outra situação é o caso dos campi com calendário regular, em que as aulas iniciam em fevereiro, antes da liberação do resultado do Sisu. Além disso, deve- se considerar, após a divulgação do resultado, o cronograma de matrículas, a fase de heteroidentificação e os períodos de recurso de cada etapa. Dessa forma, a listagem final de estudantes é gerada após o início das aulas dos campi com calendário acadêmico dentro do ano civil. Tendo em vista essas dificuldades, o processo seletivo próprio consegue viabilizar a seleção por campus de acordo com as condições locais,  além de ampliar o acesso, utilizando as notas de diferentes edições do Enem e não apenas a edição do ano anterior, como é o caso do Sisu”.

Já o sorteio de vagas, de acordo com o IFAL, foi uma estratégia pensada para que as turmas não iniciassem esvaziadas e, segundo a resposta do IFAL, será ofertado para cursos técnicos subsequentes e Educação de Jovens e Adultos. Questionado sobre o Edital de n.15, se houve publicação e exclusão, o Instituto respondeu:

“Houve a publicação do edital nº 15/2025, que foi publicado equivocadamente e excluído após verificar-se, nos documentos oficiais, que a forma de seleção não era prevista para a graduação, mas para outras etapas e formas de ensino do Ifal.”

Apesar de declarar que as notas do Enem ainda seriam aproveitadas como forma de seleção, a instituição não informou como ou quando estas notas seriam recepcionadas. No dia 21 de janeiro, data em que encerrou o prazo oficial do SiSu, representações do movimento estudantil no IFAL emitiram uma declaração nas redes sociais alertando que o IFAL não foi uma das opções para quem queria utilizar as notas, uma vez que não assinou o termo de adesão de 2025, ficando de fora do processo.

“Essa decisão foi tomada sem diálogo, transparência ou consulta aos estudantes. O Diretório Central dos Estudantes (DCE) não foi chamado para o debate. O Sisu era uma porta de entrada, especialmente para estudantes de baixa renda. Sua exclusão foi decidida de forma centralizada, afetando diretamente quem mais precisa. Além disso, essa saída impede os estudantes do Ifal de participarem do Programa Pé-de-Meia Licenciatura, deixando muitos sem acesso às bolsas que ajudam a superar dificuldades financeiras.”

Ainda de acordo com os estudantes, a mudança decidida no Conselho Superior não passou por qualquer consulta ou explicação pública. “Quem realmente foi ouvido? O abandono do Sisu não resolve a queda nas matrículas, reflexo da falta de divulgação e engajamento da gestão. Pelo contrário, limita ainda mais o acesso ao ensino.”

Há quatro dias, o Instituto lançou mais uma seleção de vestibular para alguns de seus cursos superiores, no campus Maceió, utilizando como critério – além da conclusão no ensino médio – ter participado do ENEM no período de 2015 a 2024. ”  O vestibular será realizado em etapa única, usando exclusivamente, a média geral obtida numa das edições do Enem entre 2015 e 2024. 6O processo classificatório obedecerá a ordem decrescente da MÉDIA GERAL DE NOTAS e o tipo de concorrência das/os candidatas/os que se submeteram a todas as provas e foram consideradas/os aptas/os.”

Esta seleção compreende os cursos de Alimentos, Ciências Biológicas, Design de Interiores, Engenharia Civil, Física, Gestão de Turismo, Hotelaria, Letras-Português, Matemática, Química e Sistemas de Informação do IFAL Maceió. Entretanto, em outros cursos, como é o caso do edital 19, do campus de Piranhas, não há necessidade de nota do Enem como critério de ingresso. Diante da variedade de métodos, datas, e prazos, candidatos devem observar os métodos específicos de ingresso de seus cursos, calendários e os diversos editais lançados pelo Instituto, a partir de então.

“Na verdade, usam a nota do Enem como critério de inscrição, que é uma coisa. Porém deixaram de utilizar oficialmente o Sisu. São duas coisas diferentes, o Sisu não faz mais parte, pois requer assinatura do termo de adesão”, explica Alexandre Fleming. “Período de inscrição do Sisu foi janeiro, mais uma inverdade da gestão usando os diversos calendários como impedimento”.

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