Na madrugada da última terça-feira (08), um incêndio criminoso atingiu a casa do coordenador-geral do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), Cássio Araújo, no bairro do Pinheiro, em Maceió. De acordo com o movimento, esse foi o quinto ataque à casa do coordenador desde novembro do ano passado.
No momento do atentado, o imóvel estava sem ninguém, mas causou a perda significativa de um patrimônio pessoal e cultural: uma coleção de cerca de 20 mil livros. A reincidência de atentados como esse contra Cássio traz suspeitas que seja uma tentativa de intimidação.
“O MUVB repudia veementemente as ações covardes que buscam silenciar quem se levanta em defesa das vítimas. Não aceitamos que o coordenador-geral, cuja única ‘ofensa’ foi dar voz aos milhares de atingidos pela irresponsabilidade da Braskem, seja submetido a ameaças tão descaradas. Exigimos uma investigação rigorosa e imparcial por parte das autoridades competentes para identificar os responsáveis por este atentado”, diz nota emitida pelo MUVB.
LEIA A NOTA DO MUVB NA ÍNTEGRA
Cássio Araújo é procurador do Ministério Público do Trabalho e foi forçado a abandonar sua casa nas áreas afetadas pelo crime ambiental da Braskem, mesmo vivendo a mais de 2km de distância da mina 18 — epicentro do maior desastre ambiental em área urbana do mundo. Ele afirma que um homem tentou entrar pela garagem, mas como a porta foi reforçada recentemente, não conseguiu.
“Ele subiu pelo telhado, abriu o alçapão e entrou na casa. Foi encontrado, inclusive, uma garrafa de álcool. Ele deve ter jogado álcool e colocado fogo antes de ir embora”, contou o advogado ao portal 082 Notícias.
A Braskem tem por obrigação garantir a integridade e segurança das áreas evacuadas, porém não foi o caso, visto que não ofereceu qualquer proteção contra as constantes invasões e furtos que atingiram o imóvel do procurador. Coincidentemente, na semana anterior ao incêndio, a Braskem tentou demolir a casa do coordenador, mas foi impedida por sua intervenção.
“Coincidentemente, na semana passada, a Braskem tentou demolir a residência de Cássio, mas a intervenção direta do próprio coordenador impediu a invasão. Dias depois, um incêndio misterioso tomou o imóvel, após uma pessoa supostamente ter entrado pelo alçapão e utilizado álcool para iniciar as chamas. Esse foi o quinto ataque à casa desde novembro, em um ciclo repetido de intimidações e violências contra um defensor de direitos humanos que luta apenas por justiça”, afirma o MUVB.
O coordenador-geral do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem diz que a petroquímica deveria ter total responsabilidade pelos locais evacuados e demonstra indignação: “É de revoltar, né? Profunda revolta. Ela tinha o dever de guarda e não guardou. Permitiu que um estranho entrasse na minha casa”.
Em nota, a Braskem diz que “considera inadmissível qualquer insinuação e espera que o Corpo de Bombeiros apresente informações técnicas sobre o possível motivo do incêndio e ressalta que não determina desocupações ou demolições, e que o imóvel em questão está localizado em uma área de desocupação definida pela Defesa Civil de Maceió desde 2020″
Outra entidade a se manifestar foi o Movimento pela Soberania Popular na Mineração em Alagoas (MAM). “Cássio Araújo, que vem desempenhando papel essencial na defesa das vítimas do maior crime socioambiental em área urbana no mundo, sendo uma das vítimas resistentes no bairro do Pinheiro, viu sua casa e seu patrimônio serem destruídos por um incêndio de característica criminosa”
CONFIRA A NOTA COMPLETA DO MAM
E complementou exigindo uma apuração rigorosa do ocorrido: “Reiteramos que não toleraremos qualquer forma de violação, intimidação, ameaça ou violência contra aqueles que dedicam suas vidas à defesa dos direitos dos atingidos pelos crimes da mineração no Brasil. Exigimos que as autoridades competentes realizem uma investigação rigorosa e imparcial sobre o ocorrido, punindo os responsáveis por mais este ataque covarde”, afirma em nota.
OMISSÃO, DESCASO E TENTATIVA DE INTIMIDAÇÃO
A nota do MUVB faz questão de frisar que “Cássio tem sido um incansável defensor das vítimas do megadesastre e, por isso, tornou-se alvo de intimidações e violências, simplesmente por lutar por justiça” e destaca a omissão das autoridades e da própria Braskem em garantir a segurança das vítimas.
“Não aceitamos que nosso coordenador, cuja única ‘ofensa’ foi dar voz aos milhares de atingidos pela irresponsabilidade da Braskem, seja submetido a ameaças tão descaradas”, pontua o movimento no documento.
Já o MAM dá força e se colocar ao lado daqueles que lutam por reparação pelo desastre causado pela Braskem em Maceió.
“Neste momento, nossa solidariedade está com Cássio Araújo e com todas as vítimas da Braskem, reforçando nosso compromisso em lutar ao lado daqueles que buscam justiça pelo crime socioambiental da Braskem em Maceió. Não nos calaremos diante de tentativas de silenciamento. A justiça e a verdade devem prevalecer”, consta na nota.
A gravidade do fato fez com que o Movimento Unificado das Vítimas da Braskem cobrasse uma investigação rigorosa e imparcial, bem como medidas urgentes para garantir o bem-estar de todas as vítimas da Braskem:
“Exigimos uma investigação rigorosa e imparcial por parte das autoridades competentes para identificar os responsáveis por este atentado. Cássio Araújo, como todas as vítimas da Braskem, merece proteção e justiça. Em nome do MUVB, expressamos nossa solidariedade irrestrita ao nosso coordenador e reiteramos nosso compromisso de seguir firmes na luta por reparação plena para todas as vítimas.”
Frente a tudo isso, o coordenador Cássio Araújo revelou que irá procurar a justiça para tomar as medidas cabíveis e encontrar os responsáveis.
“Vamos fazer um boletim de ocorrência e ingressar com uma ação judicial para cobrar todos os juízos, né? O incêndio ainda não foi completamente controlado, como dá pra ver pela fumaça. Quando acabar, vamos ver efetivamente o prejuízo, para a partir daí, cobrar a empresa que era responsável pela guarda e não cumpriu o seu dever”, explicou.
O QUE DIZ A BRASKEM?
A Mídia Caeté procurou a Braskem em busca de um posicionamento da petroquímica diante das acusações. Segue a nota na íntegra.
“A Braskem considera inadmissível qualquer insinuação sobre participação ou interesse da Companhia em um incêndio, registrado na última terça-feira, 8, em um imóvel desocupado, no bairro do Pinheiro.
A empresa espera que o Corpo de Bombeiros apresente informações técnicas sobre o possível motivo do incêndio e, se de fato tiver sido criminoso como alega o proprietário, que a autoria seja devidamente apurada.
A Braskem ressalta que não determina desocupações ou demolições, e que o imóvel em questão está localizado em uma área de desocupação definida pela Defesa Civil de Maceió desde 2020.
A Companhia disponibilizou ao proprietário do imóvel todo o suporte do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF), a exemplo de guarda-volumes para acondicionamento de todos os pertences, custos com mudança, pagamento de auxílios financeiros e diversos serviços gratuitos, como o apoio psicológico. O proprietário nunca aceitou os auxílios ofertados.
A Braskem esclarece ainda que mantém um trabalho de apoio à segurança patrimonial nos trechos desocupados dos bairros, com uma equipe de mais de 220 profissionais que se revezam 24 horas por dia, sistemas de câmeras e alarmes. Vale ressaltar que a segurança pública não é responsabilidade da Braskem, e a empresa não tem poder de polícia. As medidas são adicionais e todas as ocorrências devem ser comunicadas às autoridades competentes”.