As iniciativas independentes têm sido alternativas assertivas para a população se manter informada, conhecer um lado novo da produção jornalística e combater estereótipos consolidados. Aqui no Nordeste, essa tendência está crescendo, com surgimento de projetos que fortalecem uma visão própria dos fatos, ao abordar temas inerentes à população nordestina.
Uma dessas iniciativas é a Cajueira, curadoria de iniciativas de jornalismo independente do Nordeste. Quinzenalmente desde 2020, o projeto reúne conteúdos, elabora uma newsletter e encaminha por e-mail para as pessoas que se inscreverem para receber.
“Somos uma curadoria de conteúdos inspiradores, inovadores e plurais, produzidos pelo jornalismo independente nos estados do Nordeste”, diz o seu perfil nas redes sociais.
A Cajueira é desenvolvida por mulheres jornalistas de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte: Nayara Felizardo, Joana Suarez, Mariama Correia, Mariana Ceci e Jayanne Rodrigues.
Além de compilar as principais produções para informar seus seguidores, a curadoria avançou ainda mais, lançando – na última quinta-feira (30) – o Mapa Cajueira, uma plataforma interativa e colaborativa que reúne todos os veículos mapeados pela iniciativa.
A jornalista e cofundadora Nayara Felizardo ressaltou a relevância da plataforma para o estímulo às redes de informação pelo Nordeste.
“O mapeamento reúne os veículos em um único espaço, facilitando o acesso a quem busca informações sobre um lugar específico. Tem outra função muito importante que é de estimular o fortalecimento de redes entre iniciativas do mesmo estado”, afirma.
O mapa foi elaborado pelo estudante de Jornalismo Marco Antônio Ferro como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Universidade Federal de Sergipe e possibilita filtrar as iniciativas por estado, tema ou formato. Os usuários têm ainda informações sobre cada veículo e podem interagir por meio de avaliações e sugestões.
“Durante a graduação, passei a acompanhar a importância dos jornalistas independentes, inclusive consumindo a Cajueira. Por acreditar no projeto, quis fazer o TCC sobre a newsletter. O trabalho cresceu e virou uma plataforma. Torço muito para que a ferramenta seja ampliada cada vez mais”, diz Marco Ferro.
A professora Sonia Aguiar, orientadora de Marco, conta que a princípio o TCC seria desenvolvido em forma de monografia sobre curadoria jornalística regional.
“Mas quando ele me apresentou alguns cruzamentos de dados extraídos das edições da newsletter na interface web, sugeri que ele mudasse o formato para projeto experimental. Desde então o Mapa foi se expandindo até o formato atual, que ainda comporta várias possibilidades, a depender das interações e colaborações que receba”, explica Sônia.
A plataforma também disponibiliza um formulário para que as pessoas indiquem outros veículos, que vão alimentar a base de pesquisas da Cajueira.
PIONEIRISMO, PERTENCIMENTO E DIVERSIDADE
Em Alagoas, a Mídia Caeté é uma das iniciativas alagoanas mapeadas pela plataforma, ao lado do Portal Acta, da Agência Tatu, do Repórter Nordeste, do Portal Eufêmea, da Olhos Jornalismo, do Ponto de Análise, da Revista Alagoana, do Blog do Odilon, do FlauCast.
Mariama Correia, idealizadora e cofundadora da Cajueira, considera a iniciativa pioneira. “O Mapa Cajueira é mais um passo para valorização da diversidade e qualidade das iniciativas jornalísticas nordestinas. É uma ferramenta que certamente será referência nos debates sobre a importância da diversidade regional no jornalismo.”
Já Nayara Felizardo enaltece a capacidade que o jornalismo independente e regional tem de manter viva a essência original da atividade, além de frisar a representatividade e a ampliação do alcance de inúmeras vozes.
“A imprensa tradicional tem muitas amarras políticas e econômicas. É o jornalismo independente que está mantendo vivo o jornalismo em sua essência, com ética e responsabilidade social. Fortalecer o jornalismo independente nordestino é relevante por isso e também para ampliar a diversidade de vozes e de demandas sociais na imprensa.”
E complementa: “os veículos independentes em cidades do interior têm uma importância ainda maior, que é de informar a população sobre o que acontece no seu município. Muitas vezes, essas pessoas sabem mais do que acontece em São Paulo do que sobre as falcatruas do seu prefeito. O jornalismo independente fortalecido ocupa essa lacuna”.
A também cofundadora da Cajueira, Mariana Ceci, acrescenta que o mapa é um estímulo à formação de redes de colaboração. “Permite aos próprios veículos pensar em possibilidades de parcerias que vão fazer com que eles se fortaleçam além de seus estados”, comenta.
Joana Suarez, mais uma das cofundadoras, também aponta a importância do Mapa como resultado de uma parceria entre o projeto e a universidade.
“Os estudantes que já saírem da universidade com essa consciência de enfrentar estereótipos regionais e de construir reportagens nacionais, com as linguagens que temos em todas as regiões do país, serão essa mudança na prática. É um caminho para termos informações mais diversas e que registrem a história real do Brasil”.
A jornalista Nayara Felizardo finaliza fazendo um importante alerta sobre os desafios de manter iniciativas. O principal desafio é conseguir financiamento. “Hoje, os veículos com maior alcance de sustentabilidade se concentram principalmente no Sudeste. Precisamos discutir sobre urgência de termos diversidade regional no jornalismo, para descentralizar também os investimentos”, destaaca.
COMO SEGUIR E ACOMPANHAR A CAJUEIRA
Além do Mapa e das newsletters, a Cajueira também produz o Cajuzap, uma minicuradoria em áudio enviada pelo WhatsApp e lançou, junto com outras nove iniciativas jornalísticas nordestinas, o Lume, um aplicativo de acessibilidade no jornalismo.
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