Vacinação, uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e isolamento social. Essa é a tríade defendida por diversos especialistas, em todo o mundo, como principal mecanismo de combate à Covid-19. Embora isso soe unânime, medidas como o tratamento precoce e, sobretudo, a “reivindicação” pela não obrigatoriedade da vacina surgem como entraves bastante perigosos.
Mesmo com entidades médicas, como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o próprio Ministério da Saúde, defendendo a política de vacinação, a adesão dos brasileiros tem caído. A OMS e o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) já até emitiram um alerta afirmando que o Brasil possui um dos maiores índices de queda de vacinação no planeta.
Um estudo publicado, em setembro de 2020, pela revista científica The Lancet mostra que o percentual de pessoas que acreditam na eficácia do método, aqui no Brasil, é de apenas 56%. A pesquisa afirma ainda que somente 63% dos brasileiros consideram que a vacina é uma forma segura de imunização.
Em declaração no dia 02 de julho, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, pediu aos líderes mundiais que trabalhem em conjunto para que 70% da população esteja imunizada até julho de 2022.
“Essa é a melhor maneira de controlar a pandemia, de salvar vidas e de levar à recuperação econômica global, evitando que as variantes consigam se disseminar”, defendeu Tedros, que reafirmou que a expectativa é que, até setembro deste ano, 10% das pessoas estejam vacinadas, incluindo trabalhadores e grupos de risco.
O diretor disse ainda que há “confusão, complacência e inconsistências em medidas de saúde pública e na aplicação delas” e que “é preciso uma abordagem consistente, coordenada e abrangente”.
TRAZENDO O CONTEXTO PARA ALAGOAS
De acordo com o mais recente boletim do Observatório Alagoano de Políticas Públicas para o Enfrentamento da Covid-19 (OAPPEC) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) – divulgado nessa segunda-feira (5) – houve redução de 5% no número de óbitos e de 9% dos novos casos da doença na última semana no Estado. Apesar de o observatório não entrar mais a fundo nas causas, o professor e coordenador do projeto, Gabriel Bádue, considera que a vacinação é um dos fatores que contribuíram para o cenário.
“Hipoteticamente, é plausível acreditar que a vacinação esteja contribuindo com esse resultado, mas dado o atual nível de cobertura vacinal, é provável acreditar que tal resultado deve-se à combinação da vacinação com as medidas de controle”.
E complementa afirmando que, com o aumento do número de pessoas imunizadas, a tendência é que haja uma descida ainda mais acentuada da curva de contágio: “Isso tem sido observado em outras partes do mundo, em que o processo vacinal está mais avançado”.
Badué reforça, porém, que ainda há a necessidade de intensificar os métodos de prevenção, como uso de máscara e álcool em gel, distanciamento e a própria imunização coletiva.
“Os dados ainda indicam um grande número de infectados, incluindo incidência de casos, óbitos e casos suspeitos. Então, apesar de vislumbrar uma redução na transmissão, a manutenção das medidas de controle são essenciais para a continuidade da redução na transmissão”, afirma.
CONFIRA O RELATÓRIO DESTA SEMANA.
Na contramão do que afirmam os especialistas acima, o médico alagoano Marcos Falcão tem incentivado, nas redes sociais, o tratamento imediato, desencorajado o uso de máscaras e, mais recentemente, se colocando à disposição para elaborar laudos desobrigando a vacinação de pacientes com doenças autoimunes e/ou neurodegenerativas.
Pelo Twitter, Falcão disse que existem determinadas doenças que podem receber laudos que permitam a não vacinação e publicou a lista. Em outra publicação, o médico diz que defende “a liberdade e a saúde” e que “devemos evitar que pessoas com riscos sejam expostas a um experimento em larga escala”.
A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) pensa diferente e afirma que não há contraindicação para pacientes com doenças autoimunes reumatológicas se vacinarem.
“A comissão de doenças endêmicas e infecciosas da SBR esclarece a população que pacientes com doenças reumáticas (DR), incluindo artrite reumatoide, espondiloartrites, artrite psoriásica, lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica (esclerodermia), Síndrome de Sjögren primária, miopatias inflamatórias e vasculites não representam por si só, qualquer contraindicação para receber qualquer vacina contra a COVID-19”, informou a entidade em seu perfil no Instagram.
Em relação às doenças neurológicas crônicas e degenerativas, o próprio Ministério da Saúde as incluiu no grupo prioritário de comorbidades do Plano Nacional de Operacionalização (PNO) da vacinação no país, no último mês de maio.
O grupo contempla doenças hereditárias e degenerativas do sistema nervoso ou muscular, pacientes com deficiência neurológica grave, paralisia cerebral e esclerose múltipla ou condições similares, além de doenças cerebrovasculares e neurológicas crônicas que afetam a função respiratória.
No dia 27 de junho, Marcos Falcão tuitou contestando a necessidade de obrigatoriedade da vacinação. “Se a vacina é tão boa, por que obrigar?”, indagou. Vale ressaltar que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a União pode determinar aos cidadãos que se submetam, compulsoriamente, à vacinação contra a Covid-19, de acordo com a Lei 13.979/2020.
No WhatsApp divulgado nos perfis de Marcos, quando a conversa é iniciada, surge uma mensagem automática, onde são ofertados serviços médicos, exames, prescrição de medicamentos e acompanhamento pelo valor de R$ 250. Tudo isso na modalidade de teleatendimento.
HISTÓRICO
Marcos Falcão Farias Monte possui registro no Conselho Regional de Medicina do Estado de Alagoas (CREMAL) com o número 8608-AL. Ele se formou pela Ufal.
A Mídia Caeté tentou diversas vezes entrar em contato com o médico para falar sobre o assunto, mas não obteve sucesso. Sua atendente nos respondeu e informou que passou a mensagem ao médico, que não nos retornou.
Nas redes, Marcos Falcão se autodeclara ativista político de direita e promete tratamento imediato para Covid-19. Falcão ainda questiona a vacinação e o uso de máscaras e contesta a ciência em suas publicações.
Recentemente, o médico teve conteúdos retirados do YouTube por violarem as políticas sobre informações médicas, segundo um post que ele próprio compartilhou no Twitter. Em outro momento, Falcão cita diretamente o presidente do CREMAL, Fernando Pedrosa, e afirma que não será intimidado.
A Mídia Caeté também procurou o conselho – por meio da sua assessoria de imprensa – questionando se existe uma relação mais direta entre Marcos Falcão, Fernando Pedrosa e a entidade e se o órgão endossa as opiniões e as práticas do médico.
As respostas também não foram enviadas até a publicação desta reportagem.