MPE investiga empresa de pirotecnia que atuou em Maceió

Pode ter sido lindo, mas também foi alvo de investigação do Ministério Público por irregularidades

No lugar onde deveriam existir pelo menos quatro embarcações, palcos foram montados dentro da água. Uma das estruturas desabou e inviabilizou parte da queima de fogos na passagem de ano de 2018 para 2019, em Maceió. O “acidente” de responsabilidade da empresa baiana Cielo Pirotecnia, que venceu pregão eletrônico lançado pela Fundação Cultural de Maceió  (FMAC) para o reveillon passado, é alvo de um Inquérito Civil Público, instaurado pela Promotoria da Fazenda Pública Municipal, órgão do Ministério Público Estadual (MPE) a que a Mídia Caeté teve acesso. Ainda de acordo com o MPE, o show do reveillon de 2018/2019, da maneira como foi realizado, não obteve aprovação da Capitania dos Portos de Alagoas.

Por determinação do Tribunal de Constas do Estado (TCE) e do Ministério Público de Contas (MPC), a Prefeitura de Maceió cancelou o pagamento no valor de R$ 700 mil à empresa pelo serviço prestado de forma irregular e fora dos critérios previstos no edital para o show de fogos na praia da capital.

De acordo com o Promotor de Justiça responsável pela investigação, Marcus Rômulo Maia de Melo, é possível que a FMAC e a Prefeitura tenham sido enganados pela empresa que, para comprovar a condição técnica de executar o show em Maceió, utilizou-se de uma Declaração de Capacidade Técnica e uma certidão emitida em cartório de Aracaju (SE), onde, um ano antes, havia realizado o mesmo serviço na capital sergipana.

Detalhe é que, assim como em Maceió, em Aracaju, o show pirotécnico não foi feito em balsas, mas em palcos e na areia da praia.

“É um caso bastante peculiar, porque, quando passamos a investigar a situação, vimos que o Pregão Eletrônico realizado pela Prefeitura de Maceió exigia embarcações, barcos para poder fazer o show pirotécnico dentro da água. Ao analisar que a certidão apresentada era de Aracaju, logo verificamos o evento de 2017/2018 e vimos que – até porque a faixa de areia é bastante extensa e não necessita ser dentro da água – a empresa Cielo Pirotecnia havia fornecido dados que não correspondiam à realidade”, declarou o promotor à Mídia Caeté.

Inicialmente, a investigação não vislumbra ilegalidade cometida pela FMAC e pela Prefeitura de Maceió, a não ser o fato de que faltou rigor na confirmação das informações prestadas pela Cielo Pirotecnia para realizar o show dentro dos critérios estabelecidos pelo Pregão Eletrônico.

“O que estamos tentando com os colegas promotores de Aracaju é a averiguação, para saber se algum agente público da Prefeitura de lá foi conivente com a fraude da emissão do certificado, já que a empresa não prestou o serviço que diz ter prestado, se a certidão de fato foi emitida pelo cartório ou se é falsa. Por ora, não conseguimos enxergar participação da Prefeitura de Maceió para concorrer com a ilegalidade. Mas, se pesquisadas as informações declaradas na internet, por exemplo, a FMAC e a Prefeitura veriam, em vídeo das redes sociais, que a Cielo não realizou o show por meio de balsas”, explicou Marcus Rômulo.

FMAC – A Mídia Caeté também ouviu a Prefeitura por meio da FMAC. Em nota enviada à redação, a FMAC esclareceu que, sobre as embarcações, a empresa Cielo Pirotecnia apresentou documentação registrada na Capitania dos Portos de Alagoas de 4 barcos, o “Cielo 01”, “Cielo 02”, “Cielo 03” e “Cielo 04”, além dos demais documentos necessários e exigidos no pregão eletrônico. A FMAC contradiz o que diz o MPE.

“As embarcações utilizadas estavam a uma distância de mais de 400m da linha da costa, obedecendo as instruções da Capitania dos Portos para que se evitassem eventuais incidentes que colocassem em risco a vida das pessoas, bem como possuíam barcos auxiliares com canhão d’água para possíveis situações de incêndio. Portanto, o evento foi realizado dentro dos padrões de segurança exigido”, diz trecho da nota.

Sobre a suspensão do pagamento no valor de R$ 700 mil à Cielo Pirotecnia, a FMAC afirma que a medida não foi tomada por intervenção do Tribunal de Contas ou MPE.

“A suspensão do pagamento e aplicação de penalidades (suspensão de licitar pelo prazo de 2 anos mais aplicação de multas) aconteceram para que se atendesse o que estava previsto no contrato, tendo em vista a inobservância das obrigações da contratada, dentro dos prazos legais estipulados no contrato, não havendo intervenção dos órgãos citados”, finaliza a FMAC que, neste ano, deixou de ser a responsável pela execução dos preparativos para o réveillon e para a queima de fogos na praia. Segundo a própria Fundação, a responsabilidade passou para a pasta da Secretaria Municipal de Turismo e Esporte e Lazer (Semtel).

Também por meio de nota, a Semtel respondeu a questionamentos da Mídia Caeté. Conforme texto da secretaria, a empresa contratada para realizar o show pirotécnico do réveillon 2019/2020, que acontecerá em 31 de dezembro de 2019, foi objeto de licitação por meio do edital Arser 147/2019 e que respeitou criteriosamente a legislação vigente.

“Atendendo ao que preconiza o referido edital, foi realizada, no dia 4 de novembro de 2019, a deflagração das amostras solicitadas pela Prefeitura de Maceió e apresentadas pela prestadora de serviços vencedora do certame, que cumpriu os requisitos necessários, sendo consideradas aptas e satisfatórias”, afirma a Semtel.

Além disso, afirma a Secretaria, a Prefeitura de Maceió continua atuando na gestão, acompanhamento e fiscalização do certame e dos instrumentos de contratação para que o show pirotécnico de réveillon de Maceió 2019/2020 atenda em plenitude os devidos requisitos legais, além das expectativas da população da capital e dos milhares de turistas que estarão na cidade nesse período.

A Mídia Caeté tentou contato com a empresa Cielo através de telefone, mas não obteve êxito. Entretanto, o espaço permanece aberto para possível resposta.

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