Protesto no Litoral Norte denuncia obra de arquitetura hostil sob viaduto de Jacarecica

Ato mobilizado pelo Movimento Nacional da População em Situação de Rua denuncia higienização social
Protesto em Jacarecica denuncia arquitetura hostil em viaduto. Foto: Wanessa Oliveira

Durante protesto realizado na manhã desta sexta-feira, 30 de junho, o Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR) contestou a obra de arquitetura hostil que vem sendo construída pela Prefeitura de Maceió sob o viaduto de Jacarecica, no Litoral Norte. Com faixas designando a ilegalidade do ato da prefeitura, manifestantes anunciavam ainda que “Maceió não é Massa para as pessoas em situação de rua”.

Antes mesmo do ato iniciar, pessoas que convivem no local ouvidas pela Mídia Caeté – e que serão diretamente afetadas pela obra – relatam que, em nenhum momento, foram procurados pela gestão municipal. Ronaldo Pereira conta que as obras começaram há pouco mais de uma semana, e não houve qualquer diálogo para oferecer alguma realocação, ou sequer aviso prévio. “Já chegaram nessa construção. Disseram que isso tudo aqui vai ser jardim e mais jardim, mas a gente sabe que é tudo para tirar a gente daqui. É para expulsar a gente. ”.

Obras impossibilitam permanência de pessoas em situação de rua e caracterizam a arquitetura hostil. Foto: Wanessa Oliveira

Já segundo Paulo Sérgio, as únicas abordagens que – até o momento – chegaram por parte da Prefeitura foram em forma de violência e tomada de pertences pessoais. “Eles vêm para cá já com a Guarda Municipal para tirar tudo o que é nosso. Tiram tudo. Tiram até mesmo nossas latinhas de reciclagem, que é a única forma que a gente tem de ter uma renda. É um roubo, porque a gente sofre para catar”, acrescenta. “Antes de chegarem, vem alguns e avisam para guardar o documento, e depois eles chegam, colocam tudo no caminhão e levam”.

Desde o ano passado, alguns órgãos vêm se reunindo para cobrar explicações da Prefeitura a respeito das abordagens truculentas, violência policial e retirada de objetos pessoais por parte da Guarda Municipal – além dos demais direitos violados no que diz respeito às políticas públicas. Durante a reunião, uma das coordenadoras do MNPR, Luana Vieira, relatou que as maiores preocupações do Movimento são a chuva e estas abordagens truculentas.

Com a obra em andamento, as pessoas que convivem sob o viaduto não só sofrem a situação de expulsão, como ainda estarão em condição de maior vulnerabilidade diante das chuvas. “Eles querem colocar a gente em uns abrigos, as vezes, mas lá as condições são muito piores para a gente”, relata.

O coordenador do MNPR, Rafael Machado, alerta para o fato de que a obra empreendida pela Prefeitura descumpre diretamente a Lei Federal Padre Júlio Lancelloti ((Lei nº 14.489, 2023), que “veda expressamente o emprego de técnicas construtivas hostis em espaços livres de uso público”.

“Foi uma obra construída sem sequer uma autorização, porque inclusive é um território aqui que é do Estado. Além do mais, tem toda a característica de ser uma obra de arquitetura hostil, contrária à Lei Padre Júlio Lancelloti, tudo para promover higienização social, e expulsar as pessoas em situação de rua daqui”, acrescenta.

A Mídia Caeté procurou a Prefeitura de Maceió, que não respondeu se manterá ou não a construção da obra. A gestão encaminhou a seguinte nota:

“A Prefeitura de Maceió informa que o acolhimento às pessoas em situação de vulnerabilidade é uma prioridade da gestão e que a população em situação de rua da região de Jacarecica é atendida nas unidades do Centro Pop Jaraguá, Levada e Benedito Bentes, espaços de convívio disponibilizados pelo Município para acesso gratuito à higiene pessoal, guardar pertences, alimentação, emissão de documentos, descanso, recreação e socialização, além de atendimento médico e psicossocial.”

Desde o início da semana, o deputado estadual Ronaldo Medeiros (PT), autor de um Projeto de Lei que proíbe arquitetura hostil no âmbito do Estado (PL 177/2023), se pronunciou na tribuna da Assembleia Legislativa para chamar atenção sobre o que considerou uma desumanidade e insensibilidade por parte da Prefeitura.

Já nesta quarta-feira, 28 de junho, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil seccional Alagoas (OAB-AL) enviou ofício à Prefeitura requerendo explicações e paralisação da obra, de modo a cumprir com o Estatuto da Cidade, incluindo a Lei Padre Júlio Lancelloti, além do princípio da Dignidade da Pessoa Humana, que rege a Política Nacional para População em Situação de Rua.

Protesto chama atenção para desigualdade reproduzida nas políticas empreendidas pela Prefeitura. Foto: Wanessa Oliveira

 

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