Protestos em apoio à Palestina cobram que Estados cortem relações com ocupação sionista israelense

Alagoas tem ato neste domingo (15), às 9 horas, na orla da Ponta Verde
Atos de mães e avós palestinas refugiadas. Foto: Júlio Camargo/ Brasil de Fato

Romper o cerco, romper a teia de cumplicidade. Parte significativa da população mundial não tem aceitado mais assistir inerte os horrores cometidos pela ocupação sionista israelense em sua ofensiva genocida contra o povo palestino. Pelo oceano, tripulações buscaram socorrer e criar corredor humanitário, sendo a Flotilha da Liberdade, no veleiro Madleen, a mais recente das iniciativas. Por terra, dezenas de milhares de ativistas de todos os continentes unificam seus percursos até Gaza numa Marcha Global. Romper o cerco é a urgência dos que buscam, humanitariamente, reclamar a libertação da Palestina. Uma das estratégias fundamentais desta luta é reivindicar que os Estados também rompam sua teia de relações políticas e comerciais com os sionistas.

É com o objetivo de pressionar pelo fim das práticas violentas da ocupação sionista que no próximo domingo, 15 de junho, em diversas partes do mundo, haverá atos pelo fim do genocídio de “israel” em Gaza. Em Alagoas, a mobilização acontece na parte fechada da orla da Ponta Verde, com  concentração às 9 horas da manhã, na Praça Sete Coqueiros. 

De acordo com a jornalista e militante do Núcleo em Apoio à Causa Palestina, Lenilda Luna, o movimento acontece em meio à impossibilidade de aceitar passivamente o extermínio contra o povo palestino.

“Todas as pessoas do mundo estão recebendo nas suas redes sociais, nos seus celulares, as imagens do crime que Israel comete contra Gaza. Hoje não dá mais para esconder e nem para justificar aquele discurso que Israel tentou colocar para o mundo de que eles estão lá em uma guerra contra o Hamas. Está claro e evidente a matança de civis, o bombardeio em hospitais, a morte de jornalistas, todos os crimes cometidos, as crianças destroçadas”, relata.

Para o internacionalista Erick Memória, é possível afirmar que, hoje, as desinformações sobre a causa palestina têm sido enfrentadas e, em certa medida, furadas as bolhas. “O avanço das redes sociais e o engajamento da sociedade civil global têm sido cruciais para furar a bolha da desinformação, apesar da tentativa de silenciamento e censura. O horror das imagens e relatos que chegam de Gaza é inegável, e a verdade está emergindo para um público muito maior do que antes. Percebemos isso na crescente adesão de figuras públicas, artistas, intelectuais e até mesmo políticos que antes hesitavam em se manifestar. As ruas do mundo inteiro têm sido palco de manifestações massivas em apoio à Palestina, algo que não se via com essa intensidade há muito tempo”, exemplifica.

Em Alagoas, os comitês de solidariedade e alguns eventos também são mencionados – a exemplo do lançamento do livro de Breno Altman NA UFAL – como evidências de que o debate vem se qualificando.

De acordo com Lenilda Luna, é possível dizer que a bolha tem sido furada, mas não o suficiente. “Redes sociais mostraram a realidade palestina (como o assassinato de Shireen Abu Akleh e os vídeos de crianças sob escombros), rompendo a narrativa sionista de legítima defesa’. Protestos globais e greves estudantis (como nos EUA) provam isso. Porém, a grande mídia ainda criminaliza a resistência palestina e normaliza o apartheid. Mostrar a verdade é um desafio que precisa ser enfrentado pelo mundo inteiro, ecoando os gritos das crianças de Gaza”, reflete.

Nos últimos dias, programas da Rede Globo de Televisão, como é o caso do Fantástico, foram criticados por apoiadores da Palestina em razão das palavras utilizadas ao mencionar o sequestro dos 12 ativistas humanitários da Flotilha da Liberdade- inclusive o brasileiro Thiago Ávila. As notícias limitavam-se a reproduzir os anúncios dos sionistas, em tom oficioso, legitimando o ato de sequestro como uma medida de “defesa”.

Neste sábado, 13 de junho, mais uma vez as notícias da globo sobre o ataque de Israel ao Irã surpreenderam os mais desavisados, ao reproduzirem acriticamente o pronunciamento do ministério de defesa de israel de que se tratava de um chamado ‘ataque preventivo’.  O jogo de palavras não é novidade para os sionistas e não há como desconectá-lo de uma trajetória de práticas imbuídas de cinismo, ameaças, demonstrações de perversidade e dominação megalomaníaca – além da cumplicidade de outros Estados que seguem mantendo relações comerciais e políticas com os sionistas.

Comércio, táticas de espionagem, e cumplicidade no Genocídio

Para Erick Memória, a ruptura desses vínculos entre os Estados e o regime sionista – ou “israel”, como denomina a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), possui algumas complexidades que precisam ser consideradas.

“Economicamente e comercialmente, Israel é um parceiro estratégico para muitas nações, especialmente no setor de tecnologia, defesa e segurança. Empresas de armamentos, de cibersegurança e de alta tecnologia têm fortes laços com Israel, gerando bilhões em movimentações. É aqui que entra um ponto crucial: a cumplicidade das grandes empresas de tecnologia.” Israel tem usado serviços de gigantes como Microsoft, Amazon, Google e OpenAI para rastrear e matar em maior escala. O uso de tecnologias da Microsoft e da OpenAI disparou desde o início do conflito, em um aumento de quase 200 vezes. O Projeto Nimbus, um contrato de US$ 1,2 bilhão com Google e Amazon, e o envolvimento de empresas como Cisco, Dell, Red Hat (IBM) e Palantir Technologies evidenciam uma teia de interesses financeiros que se sobrepõe à vida humana”, diz.

No caso do Brasil, por exemplo,  a atenção se volta especialmente ao campo da segurança pública.  “Não se trata só de compra e venda de equipamentos, mas do apoio institucional do Estado brasileiro a uma teia que e

Exportação de combustível do Brasil para “israel” subiu 44.000% desde 2023, diz Federação Árabe Palestina do Brasil. Foto: FEPAL

nvolve tecnologia de espionagem, armamentos e treinamentos”, relata Memória. Nesse sentido, relembra a instrumentalização da ABIN pelo governo Bolsonaro para exercer espionagens contra adversários políticos e milhares de outras pessoas que estivessem – ou pudessem chegar a estar – no caminho do ex-presidente, de sua família ou aliados. Essa movimentação fazia uso, inclusive, de um software desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, conforme cita Erick Memória.

“É uma linha tênue: de um lado, a promessa de combater o crime; do outro, o risco imenso de usar essas ferramentas para vigiar e punir quem pensa diferente. Essa é a lógica de empresas que, como a NSO, já foram taxadas de “cibermercenárias”. Quando um país compra um
sistema desses, ele também pode ficar vulnerável, já que a empresa vendedora detém o controle da tecnologia”, comenta.

As relações comerciais prosseguem, entretanto, até os dias de hoje, e já é possível identificar como terminam por apoiar o genocídio palestino.

“O Brasil tem sido um dos grandes compradores de armas e tecnologias militares de Israel. A grande questão é que muitas dessas armas são
vendidas com o selo de testadas em campo, e esse campo, muitas vezes, é a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Ou seja, a eficácia desses armamentos é comprovada na prática, sobre os corpos da população palestina”, exemplifica.

Não bastasse importar tecnologias de extermínio testadas em Gaza, o Brasil também exporta matéria-prima crítica, importante para a construção das armas que matam palestinos. “O  aço da siderúrgica brasileira Villares Metals tem sido exportado diretamente para fábricas de armas israelenses, como a IMI Systems (hoje parte da Elbit Systems) e a IWI. Estamos falando de matéria-prima usada para produzir fuzis, metralhadoras e outros equipamentos que depois são utilizados pelas Forças de Defesa de Israel. Isso cria uma ligação direta e preocupante: o aço produzido no interior de São Paulo vira componente em armas usadas em um conflito internacional”.

Além do aço, o fornecimento energético atingiu níveis ainda mais preocupantes em 2025.  De acordo com dados Ministério do: Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), divulgados em matéria do portal Opera Mundi:

“Apenas em 2025, até o mês de abril, o Brasil exportou R$ 154 mil, equivalentes a 181,5 toneladas de combustível à base de petróleo ou minerais betuminosos, segundo a plataforma do MDIC. Um aumento de 309% em relação a 2024, quando o valor exportado girou em torno de 44,4 toneladas.”

Em carta encaminhada ao presidente Lula, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) reivindicando o embargo global total de energia e armas para frear o genocídio, e desmantelar o apartheid e a ocupação ilegal por Israel. E mais: “Exigir a responsabilização por crimes de guerra e impor sanções não apenas como um dever moral, mas também como responsabilidade legal de todos os Estados. As sanções e o m da cumplicidade com Israel foram aprovados por uma maioria global de 124 estados na Assembleia Geral da ONU, incluindo o Brasil e rearmados pela Corte Internacional de Justiça em 2024. ” A carta pode ser lida na íntegra aqui. 

Além do país, Alagoas também protagonizou notícias nacionais em razão de sua parceria com empresas de material israelense: nesse caso, as câmeras de reconhecimento facial que foram implantadas nas escolas públicas de Alagoas. À época da reportagem publicada pelo jornal portal Intercept, todos negaram a troca comercial, tanto a Corsight (tecnologia utilizada) como a Teltex (que teria sido a empresa contratada) e a Secretaria do Estado da Educação (Seduc-AL).

O avanço do massacre

Cidade de Gaza em outubro de 2023. Foto: Ali Jadallah/Anadolu )

São 615 dias de genocídio que, hoje, já não podem ser postos em dúvida ou sob argumentos de novela batida de que se tratam de “defesa contra o terrorismo”. Quem atualiza o número, ao menos até o dia 613 (11 de junho), é a FEPAL: São 67.113 exterminados (considerando os 11,2 mil sob os escombros), o que equivale a 3% da população de Gaza. O número de crianças exterminadas é de 18.197. As desaparecidas sob escombros são 4.000. No total, 22.197 crianças assassinadas.

“Em Gaza, morreram nas mãos de “israel” 10.000 crianças a mais do que em todas as guerras no mundo entre 2019 e 2022, de acordo com os levantamentos da ONG Save the Children. Além disso, 40 mil crianças ficaram órfãs de pai ou de mãe por causa das bombas de “israel”. De pai e de mãe, foram 17 mil.”, registrou a Federação, durante a carta enviada ao assessor especial da Presidência da República, ministro Celso Amorim, e a parlamentares, em Brasília.

Mais descrições aterradoras são mencionadas pela Fepal. “Contando com as 700 desaparecidas sob escombros, cuja chance de serem encontradas com vida é praticamente nula, são 13.100 pessoas do sexo feminino exterminadas por “israel” desde o 7 de outubro de 2023. Pelo menos 1.000 delas estavam grávidas. Aumentaram em 300% os abortos involuntários e, nos próximos nove meses, até 60 mil palestinas de Gaza deverão dar à luz sem as mínimas condições sanitárias, com hospitais destruídos, em barracas, sem comida ou medicamentos e na ausência de um profissional de saúde”, cita. Foram 1.411 profissionais de saúde assassinados pela invasão sionista, 1.500 foram feridos com gravidade e 500 sequestrados e levados para os campos de concentração de “israel”.

“É por isso que afirmamos: ‘israel’ promove contra o povo palestino o maior genocídio da história”, diz a Fepal em seu documento. “‘israel’ busca uma solução final em pleno século 21 e este é televisionado, transmitido ao vivo para os mais de 8 bilhões de habitantes do planeta.”

Além de solicitar o rompimento de relações com a ocupação sionista, a Fepal pede ação humanitária brasileira com instalação de um hospital de campanha em Gaza, o envio de uma comitiva de observadores, com técnicos e parlamentares, para documentar e registrar as condições locais considerando a adesão do Brasil ao pleito da África do Sul de investigação pela Corte Internacional de Justiça.

Além de todas as denúncias, cumpre acrescentar o que ativistas em todo o mundo já tem evidenciado. Não se trata de “guerra”, mas de um massacre, inclusive orquestrado desde 1948.

“Chegamos a este abismo não por acaso, mas por uma combinação nefasta de fatores históricos e contemporâneos. A ocupação ilegal e a colonização contínua dos territórios palestinos por Israel desde 1948, intensificada após 1967, criou um apartheid que sufoca qualquer vestígio de vida digna. O bloqueio desumano imposto desde 2007 transformou o território de Gaza em uma prisão a céu aberto, onde a subsistência é um milagre e a morte, uma certeza”, especifica Erick Memória.

Não dá para ser indiferente

Nas ruas, finalmente, a mobilização avança para este domingo. Conforme Lenilda Luna aponta: não dá para ser indiferente a isso em nenhuma parte do mundo. “Quando o horror se instala no lugar, ele pode se espalhar. Ele pode chegar na nossa cidade Imagine se tem um terrorista aqui, ou um chamado terrorista em Maceió, e as bombas caem nas nossas casas indiscriminadamente ?A gente não pode permitir que uma prática como essa, criminosa, seja naturalizada em nenhuma parte do mundo. É por isso que dia 15 de junho vai ser um dia internacional de mobilização e Maceió não pode ficar de fora. Nós convidamos todas as pessoas que são humanitárias para virem de vermelho, para ficarem junto com a gente, para trazerem bandeiras da Palestina ou simplesmente chegarem para ouvir o que nós temos a dizer”.

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