A tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul acendeu um grande sinal de atenção em todo o Brasil. Aqui em Alagoas, isso se intensifica devido ao histórico recente de Maceió e, sobretudo, após os mais recentes alertas emitidos pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Segundo o relatório divulgado nesta segunda-feira (06), o Estado está sob os alertas laranja (perigo) e amarelo (perigo potencial) até quarta-feira (08).
O alerta laranja refere-se ao acúmulo de 30 a 60 mm/h ou de até 50 a 100 mm/dia. Nessa situação, há o risco de alagamentos, deslizamentos de encostas e transbordamentos de rios. Já o alerta amarelo diz respeito ao acúmulo de 20 a 30 mm/h ou de até 50 mm/dia, com ventos intensos, que podem chegar a 60 km/h. Além disso, há menor risco de deslizamentos, alagamentos e descargas elétricas.
Ontem, a Superintendência de Prevenção em Desastres Naturais (SPDEN) da Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH/AL) emitiu um aviso sobre a possibilidade de chuvas intensas e acúmulos significativos de água na metade leste de Alagoas, mais especificamente no Litoral, na Zona da Mata, no Baixo São Francisco e no Agreste.
Nas demais regiões, também há chance de chuva. O alerta se intensifica para todo o dia de hoje.
“Evite enfrentar o mau tempo. Observe alteração nas encostas. Se possível, desligue aparelhos elétricos e quadro geral de energia. Em caso de situação de inundação, ou similar, proteja seus pertences da água envoltos em sacos plásticos. Obtenha mais informações junto à Defesa Civil (telefone 199) e ao Corpo de Bombeiros (telefone 193)”, afirmou o Inmet.
Já a Defesa Civil, por meio de mensagens de texto (SMS) informou: “Alerta para possibilidade de deslizamento de terra devido aos acumulados de chuva. Áreas de risco, buscar local seguro. Ligue 199”.
MACEIÓ SOFREU COM CHUVAS RECENTES
Na segunda-feira, 15 de abril, poucas horas de chuva já foram o suficiente para apresentar o cenário de transtorno generalizado causado pela falta de infraestrutura em Maceió: alagamento, congestionamento intenso e interdição de vias.
Imagens e vídeos compartilhados pela população demonstram a gravidade provocada pela ausência de esgotamento sanitário, além das consequências das numerosas ruas interditadas pela Braskem, Defesa Civil e própria Prefeitura de Maceió, gerando ainda mais transtornos de mobilidade e dúvidas sobre a situação de suas galerias.
Na ocasião, o professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Dilson Ferreira, apontou diversas razões para o caos que se torna a capital alagoana quando chove, desde a ausência de manutenção e limpeza na bacia de drenagem situada no CEPA até as condições das galerias.
“Você tem sistema de galerias que drenam ali para o Vale do Reginaldo. Ninguém sabe como estão essas galerias. Além disso, fizeram ciclovia em cima da galeria de drenagem, e ninguém sabe sobre seu estado, se está entupido, porque tamparam. É preciso rever o sistema, fazer manutenção, se precisar ampliar. A bacia que existe ali por trás do Pinheiro, tem que ser reativada e limpa”, menciona.
AUSÊNCIA DE PLANO DIRETOR E PLANO DE MOBILIDADE URBANA
Maceió vive um cenário caótico em seu trânsito, provocado pela falta de estrutura, pela ausência de uma atualização urgente do seu Plano Diretor e pelo crime ambiental da Braskem, cuja ação provocou o afundamento de diversos bairros e a consequente interdição de vias importantes.
Nesse contexto, a Prefeitura de Maceió não enviou a tempo o Plano de Mobilidade Urbana (PMU) – o prazo determinado pelo Ministério das Cidades para municípios com mais de 250 mil habitantes se encerrou no último dia 12 de abril.
De acordo com a lista mais recente, atualizada no dia 16 de abril e disponibilizada no site do ministério, a capital alagoana não consta entre as cidades que enviaram a documentação. Agora, sem esse envio, Maceió entra no grupo daquelas que não podem receber verbas federais para a mobilidade urbana.
A entrega do PMU é obrigatória para o recebimento de repasses do Governo Federal desde o ano de 2012. O documento se trata de um planejamento que contempla a circulação de pessoas e bens, além dos veículos, priorizando o pedestre e o transporte coletivo. Ele também precisa estar alinhado com as regulamentações urbanísticas e com as metas ambientais estabelecidas.
O professor Dilson Ferreira explica ainda que os dois planos estão intrinsecamente ligados e que se complementam para o desenvolvimento de qualquer região e relembra que Maceió não pode se dar ao luxo de abrir mão de recursos federais tão fundamentais.
“Os dois planos conversam entre si, pois o PMU dá subsídio para o Plano Diretor e ambos são instrumentos importantíssimos para a cidade. Eles compõem um conjunto de instrumentos. Não ter o plano de mobilidade é abrir mão de recursos federais disponíveis para projetos de mobilidade integração. Assim, você abre mão realmente do desenvolvimento do município. Não adianta: se você não tiver para onde se deslocar, a cidade não se desenvolve”.