As decisões políticas e econômicas que escancararam ainda mais a desigualdade social no país tiveram suas consequências ainda mais agravadas durante esta pandemia do Coronavírus. No cenário da educação, o aprofundamento dessa diferença coloca no cerne o acesso às tecnologias diante do ensino remoto. Indígenas da Aldeia Tinguí-Botó, em Feira Grande, que alcançaram o direito ao ensino superior e hoje são matriculados na Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) agora enfrentam mais uma dificuldade para prosseguir com os estudos: a falta de equipamentos.
Distribuídos entre diversos cursos, os estudantes conquistaram a universidade através do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena, da Uneal, o CLIND-AL. O programa, que já foi financiado através do Governo Federal, hoje vem sendo continuado através de professores indígenas que trabalham nas aldeias. A formação está distribuída em quatro pólos: Palmeira dos Índios, Pariconha, Joaquim Gomes e Porto Real do Colégio. Na Aldeia Tinguí-Botó, 14 estudantes já ingressaram nas vagas. Atualmente, de 11 estudantes, nove não têm acesso a computador e mesmo aparelho celular.
“Temos acesso a celular, mas não temos computador. Quando precisamos fazer algum trabalho, temos que ir para uma lan house ou pagar para que alguém possa digitar, porque não existe mais trabalho escrito à mão. O Estado nos deu uma bolsa de R$ 100, mas isso é só a internet que a gente paga”, relata a estudante de história, Wmayté Tingui-Botó. “Agora a gente tenta pensar em algum projeto para conseguir computador, para podermos fazer os trabalhos e conseguir assistir as aulas”, explica. “A ideia é conseguir pelo menos um computador para que possamos deixar para uso coletivo”
Realidade de telecentro
Ao longo do documento, que você pode conferir clicando aqui, uma série de requisitos reforçavam o caráter ativo de promoção e envolvimento das comunidades para inclusão digital, posicionando o conjunto de telecentros enquanto uma política pública. O Programa é coordenado pela Secretaria de Estado da Ciência, da Tecnologia e da Inovação – SECTI, e tem como órgão Gestor o Instituto de Tecnologia em Informática e Informação – ITEC
Cada unidade deve disponibilizar, a partir de recursos do Governo do Estado, 10 Estações de Trabalho configuradas com sistemas operacionais e aplicativos (softwares) livres e de código aberto; 11 cadeiras; 01 armário; 11 mesas para computador; 01 roteador wireless; 11 estabilizadores; 01 impressora laser; 01 mesa para impressora; 01 servidor configurado com sistema operacional e aplicativos (softwares) livres e de código aberto; e sistemas e programas informatizados de gestão do Telecentro.
No Portal Digita Alagoas, há pelo menos 46 telecentros listados. Entre eles, uma unidade situada na zona rural de Feira Grande, no Povoado Olho D’água do Meio. O problema é que, segundo os estudantes, o telecentro não está aberto à comunidade e não existe qualquer acesso a equipamentos naquele local.
Segundo estudantes, o Telecentro de Feira Grande hoje tem uso restrito para pessoas próximas à Prefeitura do Município, o que intensifica a dificuldade de acesso para estudantes da aldeia.
A Mídia Caeté entrou em contato com a SECTI. O órgão informou, por meio de assessoria, que os telecentros estão desativados há anos e os equipamentos foram juridicamente descentralizados para a gestão municipal, de modo que os municípios ficaram responsáveis por manutenção, zeladoria e designação de utilização.
Também relatou que, neste momento, o órgão está voltado a projeto de cursos profissionalizantes online na área de tecnologia para população de modo geral. Quanto ao acesso a computadores, entretanto, não há perspectiva concreta de política pública que volte a fomentar seu acesso. Também não há políticas específicas para população indígena em termos de inclusão digital de modo geral ou de envio de equipamentos.
Pode doar?
Caso possa contribuir com doação de computador ou recursos para a compra de equipamento, é possível entrar em contato através do número (82) 8151-9298.