Uma das lideranças do movimento indígena do nordeste e ex-coordenador da APOINME, o alagoano Tanawy Xucuru Kariri é cotado como o primeiro indígena a assumir a coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) em Alagoas e Sergipe.
Após longo período de sufocamento de direitos e enfrentamento a uma série de ataques, legitimados pelo então governo de Jair Bolsonaro (PL), povos indígenas de todo o país começam a reacender esperanças, conquistadas a partir de um longo processo de mobilizações, marchas diversas outras formas de lutas e organizações, culminando na conquista do Ministério dos Povos Indígenas, pasta recém-incluída no governo de Lula (PT) e que terá, já a partir de 2023, a deputada federal eleita Sônia Guajajara (Psol) a sua frente.
Com tanto a ser recuperado, os movimentos de povos indígenas vem defendendo que, para além do Ministério, órgãos estratégicos também sejam de fato geridos por indígenas, como é por exemplo o caso da FUNAI, em que Joênia Wapichana foi recentemente anunciada como nova presidenta.
Trata-se de um marco em várias esferas. Ao ser a primeira mulher indígena à frente do órgão, não é de hoje que a Fundação vinha enfrentado um longo período de sucateamento, com militares no comando. Foram longos anos de ausência de políticas públicas voltadas aos povos tradicionais, e onde a gestão conseguia ir mais além, procedendo com perseguição a indígenas e servidores indigenistas.
Tanawy e a virada de página para a saúde indígena em Alagoas e Sergipe
A Secretaria Especial de Saúde Indígena, vinculada ao Ministério da Saúde, também se trata de uma pasta definidora para as políticas específicas, sobretudo a partir de suas divisões territoriais. Também sob a gestão de um militar em sua coordenação, o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Alagoas/Sergipe também vinha se impondo contra as comunidades nos dois estados, com uma série de práticas opressivas, ausência de direitos, quando não a demissão de profissionais indígenas em meio à pandemia do Coronavírus, prejudicando o quadro de assistência à saúde nos territórios, e em grande risco à vida de crianças, idosos, mulheres e homens das aldeias.
Sob a proposição de virar a página, movimentos indígenas defendem que Tanawy de Souza Tenório, da etnia Xucuru-Kariri, seja responsável por recuperar estas bases do DSEI AL/SE, tanto por seu conhecimento em medicina e cultura indígena das etnias de ambos os estados, como ainda por seu trânsito na articulação entre gestores e políticas de saúde.
Tanawy vem recebido destaque nos últimos anos, sobretudo desde que passou a coordenar a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME). Foi ainda assessor político da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB). Levanta sua militância tendo como maior referência sua prima, Maninha Xukuru Kariri, primeira dirigente da Apoinme e reconhecida internacionalmente pela liderança nas lutas dos povos, estando à frente de grandes retomadas e lutas por direitos indígenas.