“Convocamos todos, todas e todes para demonstrar nosso repúdio ao bloqueio dos recursos federais e montar nossa militância para barrar as ações desesperadas desse governo , que se encontra em decadência desde que assumiu em 2019, mas que vem se arrastando para permanecer no cargo”.
O trecho acima faz parte da convocatória feita por estudantes do Diretório Acadêmico do curso de História da Universidade Federal de Alagoas contra o corte de R$ 4,8 milhões feito pelo Governo Federal.
O saque de verbas na Educação foi anunciado durante um comunicado do Ministério da Educação e do Ministério da Economia aos Institutos e Universidade Federais de todo o país. Ao todo, o governo federal bloqueou mais de R$ 2,4 bilhões que seriam destinados ao MEC este ano.
Com o chamado, a reação da comunidade acadêmica vem sendo imediata e crescente e, na noite desta quinta-feira, 6 de outubro, dezenas de universitários se concentraram em frente à Biblioteca Central da UFAL, passando a percorrer o campus com palavras de ordem.
Entre os gritos coletivos, o “Ei tchutuchuca do Centrão, tira a mão da Educação” se impôs como um dos mais icônicos, referindo-se a como vem sendo chamado Jair Bolsonaro. O apelido e as palavras proferidas pelos universitários situam ainda mais o contexto, uma vez que o bloqueio foi justificado a partir do envio do recurso para que parlamentares aliados ao presidente manobrem o chamado orçamento secreto.
A UNE chegou a emitir um calendário de lutas, mobilizando o ato para o dia 10. Entretanto, por entender a urgência das condições, estudantes por todo o país já iniciaram as ondas de protestos e atividades.
Em nota técnica emitida publicada nesta quinta-feira, a Pró-reitoria de Gestão Institucional (Proginst) trouxe mais detalhes sobre como fica o impacto após o anúncio d bloqueio de 5,8% das despesas discricionárias anunciado pelo Ministério da Educação.
Prejuízos e impactos
A nota é iniciada já remontando que há a Universidade convive com uma perda orçamentária de mais de doze milhões de reais, agravada nesta última feita: “Apesar de todas descrições em desfavor da Ufal, a mais recente vulnerabilidade é datada do final de setembro deste ano. Por meio do Decreto nº11.216/2022, impõe-se a limitação na autorização para empenho. Na Ufal está retido um valor de quase R$ 4,8 milhões. O prazo dessa nova medida vai até dezembro de 2022, sem garantias de recomposição”.
Assim, o órgão mais à frente declara que: “essas imposições catastróficas jamais foram equiparadas a outro momento da história brasileira recente. Afeta não somente a educação brasileira, mas todo sistema de produção de conhecimento científico, de tecnologias e de ações sociais que têm na Universidade seu maior polo emissor e agregador”.
Com um gráfico que demonstra o orçamento das pró-reitorias no último quinquênio, o órgão demonstra o movimento de redução continuada nos diversos setores da Universidade, ainda mais agravado durante a pandemia:
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Entre os impactos anuncidos para este quarto semestre, a Proginst alerta que haverá, desde já, prejuízos diretos nas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Você pode acessar a nota técnica na íntegra clicando aqui.
“Reitera-se que o atual orçamento disponível para a Ufal já implica na rolagem irreversível de compromissos de 2022 para o ano de 2023. Se o horizonte atual assola a oferta de serviços para discentes, de graduação e pós-graduação, envolvidos em ações de pesquisa, ensino e extensão, compromete a vinda de novos estudantes alagoanos e daqueles, brasileiros ou estrangeiros, que farão a escolha pela Ufal como instituição pública de ensino para formação acadêmica e profissional.”
O reitor da Ufal, Josealdo Tonholo, também se manifestou nas redes sociais, em um vídeo em que já anuncia que a continuidade dos trabalhos ao longo do ano acontecerá em meio ao endivididamento.
“Esse ano, a Universidade vai continuar funcionando com toda a sua energia, a gente vai conseguir acabar esse semestre letivo, mas, para o ano que vem, eu não sei nem se a gente consegue começar o ano, porque as contas vão estar em aberto e eu não sei quais fornecedores vão sobreviver a esse calote coletivo que o governo federal está nos obrigando a fazer”, esclareceu nas redes sociais da Universidade.
“Sentimos que era necessário nos movimentar de imediato”
Integrante do Diretório Acadêmico Dirceu Lindoso, do curso de História da UFAL, a estudante Tainá Ângelo relatou que o ato surpreendeu pela quantidade de gente, embora tenha sido construído em poucas horas. “Passamos por todos os blocos, batemos nas portas, pedimos aos professores deixarem os alunos participarem da manifestação. E teve participação ativa de estudantes do Diretório de História, e também de Psicologia, Geografia,Pedagogia, que construíram e espalharam sobre o ato”, conta.
“O resultado fala muito sobre as angústias que os estudantes da universidade estão passando com esse governo. Sempre procuramos bater na tecla que, no dia 18, data acordada pela UNE, é uma data muito longe. Entendemos a importância do trabalho base, mas é muito distante. Quando soubemos da notícia sentimos que era necessário nos movimentar de imediato e foi exatamente o que fizemos”, acrescenta. “Não acreditamos que, com as eleições vai passar, porque não começou no Governo Bolsonaro e não vai terminar no Governo Bolsonaro. A luta é constante. Temos que ocupar e fazer greve porque só assim a gente consegue derrubar todos esses fascistas”.
Já a estudante Júlia, do 7º Período de licenciatura em História, também expressou o que está em jogo com os cortes. “é mais um dos desgovernos e momentos históricos péssimos que a gente vive. A Ufal não vive só de parede e muro, mas de comida, pagar conta, energia, segurança, terceirizados. Esse é mais um ataque que vemos sofrendo ao longo dos anos do governo Bolsonaro e precisamos ir à luta”
O Centro Acadêmico de Psicologia também divulgou nota, em suas redes sociais. “Bolsonaro, seus aliados e também seus eleitores matam as possibilidades de mudanças, matam o crescimento do país e buscam anular toda a pluralidade da vida existente”, relatam em um trecho da nota.