O mês de novembro é de extrema importância para a luta e para o fortalecimento da cultura afro no Brasil. Na terra de Zumbi, não poderia ser diferente. Eventos como o Vamos Subir a Serra demonstram toda a força, representatividade e riqueza das tradições de matriz africana.
Agora, novembro também ficará marcado pelo lançamento do álbum ‘Maracatu de Ouro’, o primeiro de um dos grupos mais relevantes na temática aqui no Estado. O Coletivo AfroCaeté vai realizar o sonho de transformar em música o sentimento e a emoção de anos de atividades e de consolidação da cultura afro-nordestina em Alagoas.
O disco estará oficialmente no ar neste domingo (21), um dia após as celebrações do Dia da Consciência Negra – data tão relevante para a manutenção do respeito em busca de uma sociedade livre, igualitária e humana. Para a mestra do coletivo, Letícia Sant’Ana, o trabalho estrear nessa época é uma coincidência muito feliz.
“Lançar o CD em novembro não foi de caso pensado. O dia 20 tem sido um dia de luta, não somente para o coletivo, mas para outros grupos culturais que trabalham com a temática afro. A cultura afro não existe só em novembro, ela precisa de apoio e de suporte durante o ano inteiro. Neste mês, nós reforçamos isso através de falas e mensagens nos espaços que a gente ocupa. Por isso, também é bom ter motivos para comemorar, motivos para estar feliz. Esse vai ser um dia de comemoração também, o nosso disco é um grande motivo de alegria para todos!”, afirma a musicista.
Para dar um gostinho especial ao público, no último dia 14, o coletivo lançou um single, que pode ser escutado nas plataformas de streaming. Uma amostra da música e do empenho presentes na produção. Letícia conta que a expectativa para o lançamento do álbum completo é a melhor possível.
“A gente esperou muito por isso. Sonhamos com a realização desse trabalho. Então, independentemente de onde ele chegue – por mais que a gente queira que vá muito longe – já estamos felizes de termos concluído esse processo de uma maneira muito bonita, tranquila e natural, mesmo sendo uma experiência inédita para todo mundo. Esperamos que as pessoas sintam o mesmo que estamos sentindo: essa sensação positiva e de realização de um sonho”.
A mestra falou ainda sobre as etapas do processo de produção do disco, que foram marcadas pelo companheirismo e pela dedicação de todas as pessoas envolvidas.
“O processo de produção envolveu algumas etapas que aprendemos na prática, contando com o auxílio dos profissionais – tanto na produção musical, como na parte do estúdio, na mixagem e na gravação. Iniciamos gravando as guias pro CD, os áudios que conduzem as pessoas nos ensaios. Montamos os arranjos, o esqueleto do projeto e fizemos as sete músicas”, explica Letícia.
E complementa: “A partir disso, nós fomos pros ensaios, onde ouvimos as canções já prontas digitalmente e ensaiamos bastante até o dia da gravação. No estúdio, nos dividimos de acordo com cada instrumento, em dias separados, para gravar as suas respectivas partes. Tudo foi construído coletivamente desde o início. Foi um processo muito fluido e tranquilo”.
FINANCIAMENTO COLETIVO E REPRESENTATIVIDADE
Apesar de contar com o apoio financeiro da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), via Lei Aldir Blanc, foi necessário ainda uma campanha de financiamento colaborativo para ajudar com algumas despesas de produção e custos relacionados aos materiais promocionais e de divulgação do álbum. Segundo Letícia Sant’Ana, ver o apoio das pessoas para a construção do disco foi bastante gratificante.
“A gente não esperava se sair tão bem com a campanha de financiamento, atingimos 97% da meta. Ficamos muito felizes de ver que as pessoas gostam do coletivo e que estavam dispostas a nos apoiar financeiramente para conquistar esse álbum. Tivemos o suporte financeiro da Secult, através da Lei Aldir Blanc, mas os gastos com a produção são inúmeros, então pensamos na campanha de financiamento. Foi um suporte mais do que necessário e essencial. Estamos muito gratos em ter tanta gente ao nosso lado nessa caminhada. É uma alegria saber que o nosso trabalho chega nas pessoas”.
Letícia diz ainda que poder sentir tal apoio foi um combustível a mais para elaboração do disco e, sobretudo, para reforçar e enaltecer a história da música afro produzida em Alagoas.
“Esse álbum é importante não apenas para o coletivo. Quando tudo começou, a gente já se preocupava com a carência de registros de Maracatus feitos em Alagoas e de batuques no geral; batuques com influência das casas de axé e das tradições de matriz africana. Já era uma preocupação nossa desde antes do coletivo existir. Ter esse CD não é só uma realização de um sonho do grupo, mas sim um registro documental da música afro-alagoana. Para nós, tem essa importância de registro histórico da música afro feita aqui”, pontua.
A mestra do Coletivo AfroCaeté faz questão de valorizar eventos que trazem uma maior visibilidade às culturas de matriz africana. Para ela, esse suporte é fundamental principalmente para apresentar a cultura existente em Alagoas para os próprios alagoanos.
“Ver eventos como o Vamos Subir a Serra e outras atividades, como a Festa das Águas, o Agosto Popular e agora o nosso álbum, só demonstra o quanto somos capazes de produzir coisas boas e bem feitas. Esses trabalhos não são para nós, eles são para Alagoas. Eles movimentam uma cadeia criativa e econômica do Estado e também propagam Alagoas para fora e internamente, as pessoas conhecem melhor uma história que é negligenciada e, a partir disso, fortalecem as suas imagens enquanto alagoanos e nordestinos”, frisa Letícia Sant’Ana.
A musicista cobra ainda que haja mais valorização dessas obras e que momentos assim ocorram com regularidade.
“Precisamos desse incentivo. É essencial que essas ações aconteçam com frequência para que tenhamos o sentimento de pertencimento pela nossa terra. Para isso, precisamos de incentivo do Estado e do município. Tudo está conectado em uma grande rede. Fortalece toda a cadeia que trabalha com a cultura afro-nordestina”.
‘Maracatu de Ouro’ poderá ser ouvido nas principais plataformas de streaming a partir de domingo.