Urnas no Aldebaran colocariam Alfredo e Josan no 2º turno

Já desempenho de JHC e Davi Filho foram abaixo do observado em toda a capital

Se para muitos eleitores o atual cenário de segundo turno, para a prefeitura de Maceió, é “uma escolha difícil”, tudo poderia ser ainda mais complicado se apenas as urnas do Aldebaran decidissem os rumos da cidade. O resultado das quatro seções da zona residencial de alto padrão levariam a um embate entre Alfredo Gaspar (MDB) e Josan Leite (Patriota).

O levantamento realizado pela Mídia Caeté apontou que dos 1.141 votos válidos das quatro seções, 436 (38,2%) foram para Alfredo Gaspar, o líder isolado na localidade. Em segundo lugar, a surpresa: Josan Leite registrou 231 votos (20,2%), um índice bem mais expressivo que sua votação geral. Em Maceió, o principal expoente de Bolsonaro alcançou 6,27% do total. Juntos, JHC (17,2%) e Davi Filho (12,6%) sequer chegariam perto do desempenho de Alfredo Gaspar.

Apesar de as seções eleitorais serem registradas como “Condomínio Aldebaran”, moradores do Canaã, da grota do Poço Azul e das proximidades também votam nas urnas da localidade. O grosso do eleitorado, contudo, é formado pelos residentes nos três condomínios de alto padrão.

Para a cientista política e professora da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Luciana Santana, o resultado das urnas do Aldebaran reflete características do eleitorado das classes mais favorecidas em Maceió, espaço que Alfredo Gaspar e Josan Leite conseguem se infiltrar e seduzir.

“O Alfredo, o tema principal dele está voltado para a segurança pública. Quer queira, quer não, durante a gestão dele como secretário, quem mais se beneficiou foi a classe média, que é onde você sente realmente essa pauta. Tem a ver com esse perfil”, analisou, antes de completar.

“Se a gente olha a eleição em 2018, Maceió se destaca nesse perfil conservador e isso entra muito na classe média, nesse discurso mais de ordem, voltado para a família. E o Josan foi o único que levou o Bolsonaro. Todos os demais sabiam que se levassem o Bolsonaro poderiam ter problemas para fazer com que o discurso colasse nas classes menos favorecidas. Por mais que a gente tivesse o auxílio emergencial, o eleitor está ligado mais a outras questões, da própria cidade. A classe média é quem consegue nacionalizar mais e levar essas pautas mais conservadoras”.

Curiosamente, candidatos declaradamente de esquerda também tiveram desempenho acima do observado no restante da cidade. Valéria Correia (PSOL) recebeu 71 votos na região do Aldebaran (6,22%), acima dos 3,55% registrados no geral. Lenilda Luna (Unidade Popular) conseguiu superarCícero Almeida (DC) e Ricardo Barbosa (PT). Esse movimento pode sinalizar um conflito de agenda peculiar entre as pessoas com maiores rendimentos.

“São muitos professores, funcionários públicos… [No Aldebaran] É um voto mais polarizado, nos extremos. Quando a gente olha para São Paulo, a gente vai ver o Boulos. Ele tem uma ótima votação também entre as pessoas mais escolarizadas, que costumam ter uma renda melhor. E a esquerda perdeu muito capital político na periferia. Aqui, a Valéria foi reitora, ela tem uma rede social com pessoas de maior instrução e que também moram naquela região”, observou Santana.

Créditos: Divulgação / Redes Sociais

O apoio de Josan a Alfredo

A aproximação mais visível de pautas conservadoras selou um apoio de última hora de Josan a Alfredo Gaspar. A poucos dias da votação do segundo turno, o candidato dos Patriotas decidiu se posicionar, declarando abertamente o voto no emedebista, em um vídeo publicado nas redes sociais. Em um movimento constrangedor, teceu críticas ao apoio dos Calheiros e tentou colar a pecha de esquerdista em JHC.

Embora nacionalmente o PSB se posicione mais à esquerda, Santana visualiza JHC como um candidato de centro com boa inserção na direita. Um grande trunfo, no entanto, pode ter sido a aliança firmada com o PDT: Ronaldo Lessa, ex-prefeito de Maceió e ex-governador de Alagoas, é o vice da chapa.

“De qualquer forma, o que Josan fala tenta jogar para 2022 e atrair um voto daqueles indecisos ou aqueles que não estavam confiando muito nas candidaturas que estavam postas. Acho que foi uma aposta e também uma vinculação mais conservadora, essa coisa de pulso firme na segurança e pouco apelo com os direitos humanos. Nesse aspecto, o Alfredo casa mais com o que defendem os eleitores da classe média”, sinaliza Santana.

E os vereadores?

De acordo com a Constituição Federal, a Câmara Municipal dos municípios com até 15 mil habitantes deve ter no máximo nove vereadores. Seguindo no exercício proposto, se o Aldebaran fosse uma cidade, Maria Tavares (PSDB) seria a vereadora mais votada, com 64 votos. Leonardo Dias (PSD), Hemerson Casado (PSD), Heloísa Helena (REDE), Petrúcia Camelo (MDB), Mirian Monte (PSB), Katia Born (PDT), Eduardo Canuto (Podemos) e Alan Balbino (Podemos) seriam empossados e formariam a nova composição.

O vereador mais votado em toda Maceió, Delegado Fábio Costa (PSB), figurou somente na 16ª colocação nas urnas do Aldebaran, atrás até mesmo de Lu Araujo (PSOL) e Judson Cabral (PDT).

De um modo geral, não dá para reclamar de incoerência. Os vereadores mais votados na região do Aldebaran representam justamente anseios conservadores. Maria Tavares, a mais votada, foi candidata a deputada federal nas últimas eleições pelo Partido Novo e integra o movimento liberal “Livres”. Nestas eleições, migrou para o PSDB.

Leonardo Dias, também com expressiva votação, se define no “Instagram” como “católico, conservador, ativista político e fundador de movimentos de rua”. Ele participou ativamente do avanço da “Escola sem partido” na Assembleia Legislativa de Alagoas e de manifestações de agendas conservadoras em Maceió nos últimos anos. Na votação geral, acabou eleito com 3.777 votos.

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