Nove dias ininterruptos. Por aproximadamente 216 horas, os jornalistas alagoanos estiveram em greve contra a redução de 40% do piso salarial da categoria. Mas nós, e nessa eu me incluo, que cobrimos e divulgamos todo o tipo de mobilizações, nos deparamos com o primeiro desafio: – Como fazer uma greve?
(Nota do autor: Antes de obtermos várias respostas e surgirem novos questionamentos, vai aí uma dica de ouro: esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre a Greve dos Jornalistas. Então, para não perder nenhum conteúdo, segue a gente nas redes sociais. Agora sim…).
A classe jornalística de um modo geral, em uma análise em que eu pude fazer enquanto convivi com colegas de diversas redações e assessorias, estava acomodada, em um pedestal no qual ela mesmo se colocou. Por acreditar ser um Poder, assim como o Legislativo, Executivo e Judiciário, os jornalistas se habituaram a esperar inertes as coisas acontecerem para noticiar um fato. Mas o que fazer quando o fato, de fato, éramos nós?
Recorremos à história e tiramos força no exemplo de João Vicente de Freitas Neto e Denis Agra Jatobá. Conseguimos estreitar as relações entre os profissionais das empresas de comunicação do estado, deixando a concorrência e rivalidade de lado para alcançarmos um objetivo comum: a valorização do jornalismo. O apoio da população e dos estudantes foi de extrema importância para mostrar à sociedade que, sem profissionais valorizados e competentes, não é possível produzir um conteúdo de qualidade.
No dia 3 de julho, todo o esforço e cansaço dos piquetes e manifestações valeram a pena quando, durante a audiência no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 19ª Região, os jornalistas venceram, até então, as três maiores empresas de comunicação de Alagoas. A Justiça não só manteve o piso salarial da categoria como também deliberou o reajuste salarial. Em 4 de julho, ainda com o ar de triunfo, veio o primeiro baque: a demissão de 15 colegas de profissão das Organizações Arnon de Mello (OAM). Depois, foi a vez do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM). Ao todo, 38 jornalistas já foram demitidos juntando a OAM, PSCOM e TV Ponta Verde, essa última do Grupo Opinião.
Apesar de todo o esforço, a velha política do revanchismo entrou em cena…e agora? Dizem que é na crise que grandes possibilidades surgem. Durante a greve, o poeta norte-americano Ernest Hemingway era constantemente citado, ao falar-se que, mais importante que a própria “guerra”, era saber quem estava ao seu lado nas “trincheiras”. Ora, estávamos (e continuamos) unidos, e, agora, não seria tão fácil nos separar. E como não há um mal que não traga um bem, em um momento de crise o jornalismo alagoano precisou se reencontrar.
Agora, depois dessa – não tão – curta introdução, chegamos ao mote e objetivo principal desta série, uma reflexão aprofundada sobre o que os jornalistas aprenderam durante a greve, desde uma avaliação pessoal e profissional até a reformulação e criação de grupos distintos, como a Mídia Caeté, o Acta, e a TV Liberdade.
Diferentemente do que foi citado no início do texto, não estamos mais inertes, esperando as coisas acontecerem. Não somos o Quarto Poder, fazemos parte de uma classe trabalhadora que precisa lutar diuturnamente para não ter os direitos ceifados.
E, definitivamente, não somos mais as pessoas na sala de jantar, de Panis Et Circenses (Mutantes), ocupadas apenas em nascer e morrer.
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