Greve dos Jornalistas Parte II: Entramos em greve, e agora?

Confira a continuação deste relato-matéria sobre os nove dias de mobilização de jornalistas em AL
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Entramos em greve e o medo e a incerteza faziam um contraponto com a euforia coletiva e a certeza de estar lutando por uma causa justa. Nove dias andam a passos lentos e cansativos quando se está em pé, debaixo do sol, ou de ocasionais pancadas de chuvas. E em momentos de reuniões a pressão tomava conta do ambiente e apontava para um único ponto: o Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (SindJornal).

(Nota do autor: Este é o segundo capítulo da série sobre a Greve dos Jornalistas. Se você ainda não leu o primeiro, não tem problema, é só clicar aqui e a gente te leva até lá)

Um sindicato é uma associação onde pessoas da mesma classe, ou que exercem a mesma profissão, se unem para defender os seus direitos trabalhistas e econômicos. A frente do SindJornal está Izaias Barbosa, presidente desde 2017, com mandato até 2020. Há mais de 30 anos no jornalismo, o presidente do SindJornal, que atua como repórter cinematográfico, explica como se deu o processo prévio de negociação, ou pelo menos a tentativa dele.

“Assim como todos os anos convocamos as empresas em fevereiro para discutir o reajuste da categoria, não pedimos nada além dos nossos direitos. O sindicato só foi procurado pelos representantes dos grupos empresariais entre o final de março e o começo de abril. Ao todo foram apresentadas às empresas oito propostas, entre elas estava até o congelamento do piso salarial por 6 meses, para que as empresas se organizassem financeiramente, já que alegavam uma crise. Em contraproposta eles queriam uma redução de 40% do nosso piso salarial. Levamos a proposta para a categoria onde, conjuntamente, decidimos pela greve”, explica Barbosa.

Com uma larga trajetória sindical, o presidente Izaias Barbosa relata que já participou das greves de 89 (TV Gazeta) e 92 (Jornal Gazeta de Alagoas), mas que dessa vez, pelo cargo que ocupa, a exaustão era diferente. “Como presidente, o nível de estresse era altíssimo. Tiveram dias em que eu dormi um pouco mais de 1 hora”.

Jonathan Lins

Mas apesar de tanto estresse, e do apoio doado por cada colega de profissão, o principal conforto veio na empatia da população que passava pelos piquetes, com destaque às classes estudantil, sindical e artística. Ênfase a esta última que ajudou a diluir em acordes toda a tensão que havia no ar.

“Os estudantes foram fundamentais na atuação das nossas redes sociais, junto à jornalista e secretária de Mobilização e Organização do sindicato, Emanuelle Vanderlei. Também tivemos um apoio maciço da comunidade artística, que realizou toda uma programação cultural a qual apelidamos de ‘GrevePalooza’. Isso nos motivava e ajudava a enfrentar os dias difíceis”, conta Izaias Barbosa.

A greve começou a ficar insuportável. Mas não para os jornalistas. Como foi dito no texto I da série, no dia 3 de julho, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 19ª região deferiu o resultado favorável ao jornalismo alagoano. Mas no dia 4, a onda de estresse voltou.

“Aproximadamente 90% dos profissionais participaram e todo mundo sabia dos riscos e aceitamos brigar pela a nossa dignidade. [Após as demissões] Dentro das empresas havia perseguições. Colegas que aderiram à greve e não foram demitidos tiveram até oito matérias recusadas pela chefia no mesmo dia”, informa o presidente do SindJornal, ao ressaltar que, por coincidência ou não, a vice-presidente do sindicato, Valdice Gomes, sofreu um infarto dias depois do fim da greve.

De acordo com o SindJornal, logo após as 15 demissões da OAM, o setor jurídico do sindicato foi acionado e pediu a reintegração imediata desses profissionais, o que de fato aconteceu.

[Mas isso é assunto para o texto III da série].

Mais de cinco meses após a greve, Izaias Barbosa avalia o movimento de jornalistas como vitorioso. “Barramos a proposta de redução de 40% do piso salarial. Saímos mais vitoriosos, pois hoje temos orgulho da nossa profissão e a prova disso é que brigamos para sermos jornalistas em um país onde um jornalista é atacado pelo menos duas vezes por semana pelo Governo Federal”.

Agora vamos abrir um parêntese rápido, porém pontual. Essas ocorrências de ataque aos jornalistas, que o Izaias mencionou, é uma realidade. De acordo com um levantamento divulgado pela Fenaj, no dia 2 de dezembro, o presidente da República, Jair Bolsonaro, atacou a imprensa 111 vezes, de janeiro a novembro de 2019.

Nesse período Bolsonaro descredibilizou o jornalismo 100 vezes. Segundo as informações repassadas pela Federação, os números são de um monitoramento das entrevistas, discursos e do Twitter de Bolsonaro.

Arte Fenaj/ Reprodução

Em relação ao jornalismo independente, o presidente do SindJornal acredita que, como o nome sugere, ele trará a independência de fato ao profissional. “A dimensão das redes sociais fez despertar esse feeling. Tomamos consciência da nossa força. O Sindicato torce muito para que todos os projetos de jornalismo independente tenham sucesso, pois tem como dar certo. Sabemos da competência dos profissionais e da dimensão que eles podem alcançar”, finaliza.

Os ares agora sopram uma nova música, alertando, como no Colégio de Aplicação (Novos Baianos), que no céu azul, agora há fumaça, e que uma nova raça está saindo dos prédios para as praças.

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