Do gado em terra indígena à ‘farra de trator’: dossiê expõe como coronelismo ‘raiz’ perpetua poder de Arthur Lira e seu clã

Publicação do Observatório De Olho nos Ruralistas levanta o entrelaçamento entre os negócios da família e o domínio político.
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Cartaz apresenta dossiê produzido pelo Observatório De Olho nos Ruralistas. Link do dossiê ao fim da matéria.

Festas de vaquejadas, criação de gado em Terra Indígena, uso de equipamentos públicos como a Codevasf para liberar verbas para tratores e escavadeiras em prefeituras e territórios aliados. Segundo o dossiê “Arthur, o Fazendeiro”, publicado pelo Observatório De Olho nos Ruralistas, estas são algumas das técnicas utilizadas pelo deputado federal Arthur Lira e a família – que a publicação identifica como os clãs Pereira e Lira – para estabelecer a perpetuação do poder através do clássico coronelismo ‘raiz’. Ao longo de 73 páginas, o dossiê divulgado nesta segunda-feira, levantou uma série de informações que demonstram como o que chamam de sistema ruralista vai além da bancada agro, e bem além de Brasília.

A partir de um levantamento das propriedades de parentes de Lira, a pesquisa efetuada consegue realizar um entrelaçamento dos negócios da família. Já começa revelando a extensão de propriedade rural de Arthur e família, apurada em 17.321,20 hectares em Alagoas e mais 2.718,31 hectares no Agreste pernambucano, dedicadas à pecuária. Vai, então, tecendo os vínculos.

“Os pontos se juntam: as vaquejadas com Arthur e seu filho Alvinho, por exemplo, são patrocinadas por um frigorífico montado por integrantes da família Pereira. A carne que vai parar em prefeituras comandadas por parentes sai, em parte, de fazenda localizada em uma terra indígena — em um conflito até agora ignorado pelo país”, descreve.

Conforme o documento, a expansão da pecuária é um ponto-chave. Inicia em Junqueiro, a partir dos aprendizados com os tios Adelmo Pereira e João José, ambos em conflitos de décadas por estarem com dois terços da área delimitada para os Kariri-Xocó. Além disso, os latifundiários também chegaram a ter fazenda embargada pelo desmatamento de 259.60 hectares em um área próxima ao Ouricuri.

No mais, uma das fazendas de Lira é vizinha da Terra Indígena do povo Karapotó Terra Nova, em São Sebastião (AL), cuja demarcação foi posta em risco a partir da tese do Marco Temporal – fortemente capitaneada por Arthur Lira. As ligações se estendem para a destinação do escoamento do gado, uma vez que parte dele é distribuída para as prefeituras através de negócios de seus parentes.

Mais adiante, o documento ainda aponta que o império agropecuário conta com vaquejadas de cunho eleitoral. A destinação de verbas federais, também é citada, através do uso da Codevasf  para cumprir uma agenda municipalista de distribuição de maquinário, driblando ainda atribuições reservadas ao governo do Estado.
“Cada cerimônia de entrega de trator, cada indicação política é parte de um esquema que se retroalimenta. Da política para os negócios, dos negócios para a política. O líder do Centrão espalha suas graças para o séquito de primos em forma de emendas parlamentares“, prossegue a publicação.

O dossiê pode ser lido na íntegra clicando aqui. 

A reportagem do Observatório expondo detalhes sobre o dossiê também pode ser visualizada clicando aqui.

A Mídia Caeté procurou o deputado Arthur Lira, através de sua assessoria de comunicação, e chegou a enviar as perguntas, mas não obteve retorno. Também tentamos contato com Joãozinho Pereira, da família Pereira e atual superintendente da Codevasf, mas também não obtivemos sucesso.

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