Grupos culturais de Maceió cobram pagamentos atrasados, fomento ao setor e mais respeito da Prefeitura

Artistas exigem mais compromisso da gestão de JHC com a cultura maceioense; termo de compromisso foi protocolado nessa quarta-feira
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Grupos culturais exigem mais compromisso da Prefeitura de Maceió. | FOTO: divulgação.

O sucateamento da arte maceioense e a espetacularização têm sido marcas da gestão de João Henrique Caldas (PL) à frente da Prefeitura de Maceió. Impulsionados por todo o descaso com as atividades culturais locais, diversos artistas foram até a Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (Semce) nessa quarta-feira (21).

O segmento reivindica o pagamento dos cachês que estão atrasados desde junho de 2023, além de questionar o porquê da estagnação das políticas públicas municipais para fomento do setor. O grupo também exige a reconstrução de um conselho ativo com grupos locais, bem como um calendário cultural melhor estruturado e digno.

Os artistas foram à Semce com o intuito de protocolar um termo de compromisso para assegurar o pagamento da remuneração atrasada. Inicialmente, isso não foi possível já que o secretário da pasta, Cleber Costa, não estava presente. Após muita demora e recusa dos assessores da Secretaria, o documento pôde finalmente ser protocolado.

“Depois de 03h30 de espera, o secretário de Cultura não apareceu, pois estava realizando uma cirurgia, e o representante que nos atendeu se negou a receber nosso documento. Só depois que a advogada da Comissão de Cultura da OAB chegou, foi que o assessor resolveu aceitar e protocolar o termo de compromisso, porém, mesmo protocolado, ele não chegou a ser assinado”, explicou a professora e realizadora audiovisual Beatriz Vilela.

LEIA O TERMO DE COMPROMISSO NA ÍNTEGRA

A cantora LoreB também compareceu à Secretaria e apresentou mais detalhes sobre a mobilização e o atendimento recebido ontem.

“Um caos absoluto. Fomos até lá e levamos um termo de compromisso para que os pagamentos fossem efetuados até o dia 29 de fevereiro. Quando o termo foi entregue ao assessor, ele informou que não poderia protocolar, já que não concordava com o texto. Apesar de que não estávamos pedindo a assinatura, apenas um protocolo de que entregamos”, contou.

A musicista também falou acerca da condução da atual gestão municipal no que se refere à cultura local. Para ela, a falta de compromisso, o despreparo e politização de cargos públicos que deveriam ser técnicos contribuem para esse cenário desastroso.

“A verdade é que não existe gestão de cultura municipal. Eu entendo que eles possuem deficiência de conceito e acabam confundindo políticas públicas culturais com gestão de eventos. A Secretaria e a Fundação de Cultura são locadas com cargos de cabides políticos, não há preparo nenhum para gerir nada no âmbito público. Foi montada uma produtora de mídia, mas quem faz line up de eventos é a Secretaria de Comunicação, porque nem uma curadoria artística eles têm capacidade de fazer”, afirma.

CONFIRA O VÍDEO ABAIXO.

Ela prossegue frisando o calote a diversos artistas e destacando a ausência de transparência e o encaminhamento de verbas absurdas para financiamento de grupos culturais de fora de Alagoas. 

“Existem artistas que estão sem receber seus cachês desde o ano passado, como o caso de forrozeiros do São João, de grupos afro da Festa das Águas e de outros grupos do Carnaval deste ano. Além disso, os editais da Lei Paulo Gustavo já estão no seu terceiro calendário, pois não cumprem o próprio prazo estabelecido por eles, não existe o mínimo de transparência. As pessoas vão presencialmente cobrar e só recebem promessas. E nem preciso comentar os R$ 8 milhões da Beija-Flor. É surreal essa disparidade de foco deles”.

E complementa: “Estamos tentando nos articular para que nossas reivindicações cheguem ao prefeito João Henrique Caldas, pois é humilhante passar por tudo isso, enquanto eles distribuem milhões para escolas de sambas de outros estados. Eles fazem acordos também milionários com empresas de apostas enquanto a política cultural de Maceió simplesmente não existe por pura incompetência, porque dinheiro vemos que tem sobrando”.

Outra artista que esteve presente foi a musicista e mestra do Coletivo AfroCaeté, Letícia Sant’Ana, que também ressaltou o descaso de JHC com a cultura maceioense, citando o esvaziamento do setor e a ineficiência proposital da atual gestão.

“O descaso do prefeito João Henrique Caldas com a cultura local vem se intensificando. Isso se demonstra em várias questões: na ausência de editais das Prévias de Carnaval, na desorganização do edital da Paulo Gustavo e sobretudo no atraso de cachês de eventos que foram realizados no ano passado; até hoje, muitos grupos não receberam”, diz.

Letícia ressalta ainda o quão traumático é precisar cobrar algo que deveria ser uma responsabilidade mais do que óbvia da prefeitura da capital.

“Para nós, é muito desgastante ter que ocupar uma Secretaria de Cultura, que deveria estar fazendo o seu trabalho, mobilizando a cultura e minimamente pagar quem está trabalhando pelo segmento. Fomos à Semce, o secretário não esteve presente e assim seguimos nessa tentativa de abrir um diálogo para construir caminhos melhores para os fazedores de cultura de Maceió”, desabafa.

Outra questão mencionada pela musicista é a indiferença com as culturas e as tradições de matriz africana.

“Eu dou destaque ainda para o descaso com o segmento afro também. Tem sido muito devastador o desmonte que vem sendo feito e o desrespeito com que estão lidando com as questões. Não tivemos o Xangô Rezado Alto, não tivemos a Festa das Águas completa – que são duas datas já consolidadas no calendário afro de Maceió e que foram deixadas completamente de lado. Para todo mundo, é muito triste ter que contar com uma gestão que não nos respeita”, finaliza.

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