Riscos ambientais: moradores da Garça protestam contra lançamento de mais um prédio à beira-mar

Comunidade alerta para uma série de riscos ambientais e sociais com mais uma construção do litoral norte
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Em meio a uma série de denúncias contra o passe-livre para a especulação imobiliária no litoral norte, moradores do bairro da Garça Torta realizaram um ato neste sábado, 24, desta vez confrontando o lançamento de mais um prédio à beira-mar, o empreendimento Don Pietro, da construtora Bezerra Engenharia. A comunidade reclama que a torre de mais de 20 andares não só ameaça o ecossistema local, como também compromete a subsistência de quem vive na região

Em nota, o movimento explica algumas razões da preocupação com o futuro imóvel, ” Primeiramente, a área onde o empreendimento está previsto para ser construído é reconhecida como um ponto crucial para a desova de tartarugas, além de ser uma praia rica em recifes, elementos essenciais para a manutenção da biodiversidade marinha”, retrata.

“Além disso, a comunidade alerta para as potenciais consequências ambientais adversas da construção do Don Pietro. O projeto prevê a supressão do lençol freático, o que pode acarretar em danos irreparáveis aos sistemas hídricos locais e comprometer o abastecimento de água de muitas residências que dependem de poços artesianos.”

De acordo com Bruno Fontan, que integra o Observatório Ambiental, a população local já tem dificuldade de enfrentar os problemas de infra-estruturno local, e a tendência é só piorar com o aumento das construções no local.

“Para se ter ideia, hoje completa quatro dias que está faltando água nessa rua. Já ficaram mais de 15 dias várias vezes esse ano. Você imagina duas torres ali com todos esses andares. Imagine o caos de abastecimento de água que vai ser, inclusive para os próprios moradores”, relata.  Outras questões como a mobilidade urbana perdida e a descaracterização do bairro também são destacadas.

Empresa diz que tem visado o meio-ambiente; moradores questionam sobre licenciamentos

Consultada pela Mídia Caeté, a empresa informou que “o empreendimento é 100% regularizado ambientalmente, tem licenciamento do Corpo de Bombeiros. Tudo está encaminhado. E é um empreendimento que visa contribuir com o desenvolvimento da região. Sabemos que o Litoral Norte de Maceió vem expandindo muito, e é um dos lugares mais bem quistos pelas pessoas”., informou um dos representantes da empresa Bezerra Engenharia, identificado como Daniel.

“Nossa empresa visa muito o meio ambiente. Temos um projeto chamado Bothanic, em que, em um outro empeendimento, adotamos uma área de 38 mil metros quadrados para construção de um parque ambiental, de modo a contribuir não só com o condomínio, como também com o meio ambiente. Então temos essa preocupação”.

No entanto, a comunidade contesta essa perspectiva. Além de apontarem o greenwashing contido nas argumentações, também ressaltam que há uma incompreensão a respeito do bairro e das consequências que o empreendimento trará.

“O pessoal desse empreendimento empregou algumas pessoas, que é a população mais pobre daqui e que é a maioria. Eles vêem a Garça Torta como um paraíso da classe média alternativa, mas a maioria daqui é pobre, está nas grotas, no lado de cada rodovia. Se você andar um pouco mais à direita, tem característica de periferia. Então, a maioria aqui é pobre, e eles aproveitam para cooptar”, relata o morador.

Por meio do Observatório Ambiental, um ofício foi enviado ao IMA e à Semurb. Segundo os moradores, O IMA respondeu que não é responsável por licenciamentos dentro da capital, de modo que caberia apenas ao Município. Já a SEMURB não emitiu nenhuma resposta. A Mídia Caeté buscou o Instituto e o órgão municipal. IMA e Semurb não responderam a Caeté, até o fim desta reportagem. O espaço segue aberto.

Segundo os moradores, um funcionário que estava no local com humor alterado rebateu aos manifestantes que possuía todos os licenciamentos. “Eles convocam os corretores todos aí, buffet, som, tenda, um negócio bem chique. Fizeram lá para poder vender a ideia, mesmo que não haja indicação de  que os licenciamentos estão garantidos. Um funcionário alterado disse que tinham licenciamento ambiental, mas não é só licenciamento ambiental. Primeiro que quem deu licenciamento ambiental ali, deu errado. Agora, tem que ter licenciamento de saneamento, e vários outros.  E como sabemos se eles têm tudo? Nem tem uma placa atestando esses licenciamentos. Só tem uma placa da empresa”.

Procurado pela Mídia Caeté, o representante da imobiliária informou que encaminharia o espelho dos licenciamentos liberados. No entanto, também não foi entregue até o fim desta reportagem.

Os moradores informaram que seguirão com as reuniões e com a busca de órgãos públicos, no intuito de encontrar soluções e impedir a continuidade da obra naquele local, tendo em vista os riscos apresentados.  Nesse sentido, a nota encaminhada pelos manifestantes finaliza: “Nesse contexto, os moradores de Garça Torta erguem suas vozes em solidariedade, clamando por um desenvolvimento que respeite os limites da natureza e priorize o bem-estar coletivo. A manifestação em curso é um testemunho do compromisso dessa comunidade em proteger seu lar e garantir um futuro sustentável para as gerações vindouras.A comunidade de Garça Torta espera que suas preocupações sejam ouvidas pelas autoridades competentes e que medidas adequadas sejam tomadas para preservar o ambiente natural e a qualidade de vida de todos os seus habitantes.”

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