Sabotagem da Prefeitura de Maceió com cultura local agora compromete Pré-Carnaval em Jaraguá

Enquanto milhões são investidos para Beija-flor e artistas nacionais, blocos locais e artistas alagoanos ficam sem pagamento e sem edital
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Nota do bloco “No Escurinho é Mais Gostoso”. FOTO: Redes Sociais.

Enquanto esbanja recursos milionários para a Escola carioca Beija-Flor de Nilópolis, na ordem de R$ 8 millhões, a Prefeitura de Maceió vira as costas para os blocos de rua da cidade, comprometendo o tradicional desfile de blocos do Jaraguá Folia. Sem edital e sem qualquer resposta por parte da gestão municipal, os grupos que dependiam de recursos públicos para garantir a organização da folia começam a anunciar a impossibilidade de participação praticamente às vésperas do evento, programado para 2 de fevereiro.

Conhecido por arrastar uma multidão de maceioenses com fantasias de personagens cinematográficos, homenageando o segmento audiovisual, o bloco “No Escurinho é Mais Gostoso” publicou uma nota, nesta quinta-feira (25), anunciando que, desta vez, o bloco não vai ocupar as ruas de Jaraguá.

De acordo com a organização, ainda em 2023 houve uma série de procuras à Prefeitura e nenhuma resposta. “Neste mês, em mais uma tentativa sem resposta, faltando uma semana para as festas do Jaraguá Folia, a gente viu que esse edital público não ia sair. Sem isso, não conseguimos participar”, relatou uma das organizadoras do Bloco.

Além da participação impedida, o bloco também atenta para o drama vivenciado por artistas locais, desde os forrozeiros que não foram pagos pelo trabalho no São João, há sete meses.

“Além da falta do edital, vem a incerteza que artistas já vêm passando quanto ao não-recebimento. A gente precisa contratar orquestras de Carnaval, de frevo mesmo. Essa é uma época muito importante para eles, porque durante o ano quase não têm muito trabalho. Então, tem também a questão de contar com a incerteza que vem se desenhando, como os forrozeiros que não receberam desde o São João do ano passado”, declarou.

“Os artistas conhecidos nacionalmente já receberam seus cachês, mas nossos artistas locais não receberam nada até agora. E são cachês irrisórios de R$ 5 mil, que é nada comparado aos pagos de R$ 300 a R$ 500 mil, que são direcionados a artistas nacionais. Então, também contar com essa incerteza de não saber se vamos receber, mesmo que o Edital tivesse saído e a gente fosse contemplado, nos fez repensar sobre esse cenário”, conta.

A farra de recursos multimilionários voltados a artistas nacionais e a completa virada de costas com artistas locais – e agora os blocos de rua também – vem se definindo como uma prática sistemática de sabotagem por parte da gestão municipal diante da cultura local. São diversas as manifestações, desde o início da gestão, que só crescem em meio à conduta constantemente reclamada como “marqueteira-instagramável” – se não megalomaníaca – dos eventos que acontecem na capital alagoana a despeito dos investimentos, de fato, com quem constrói e garante a cultura local.

Lei descumprida, sabotagem sistemática

A valorização de artistas locais, além de um preceito básico para desenvolvimento da indústria cultural local, é também uma exigência garantida desde agosto de 2021, pela Lei Municipal de nº 7007, que estabelece que a Prefeitura disponha de 50% dos investimentos em eventos culturais públicos para os segmentos locais.

O descumprimento da Lei vem se manifestando como uma sabotagem sistemática aos grupos de cultura local, quando é flagrante a distinção de tratamento durante todos os principais eventos do Município, como o São João em 2023 – em que mesmo as quantias módicas sequer foram pagas para diversos artistas, até hoje- e o mais recente Maceió Verão.

Longe de emitir respostas sobre a negligência com artistas locais, o prefeito João Henrique Caldas (PL) foi “viralizado” em redes sociais, dançando nos palcos com artistas nacionais.

João Henrique Caldas (PL) em uma das apresentações bancadas pelo município. | FOTO: Redes Sociais.

Apesar de todo o desgaste, os artistas vêm se articulando para reivindicar editais, distribuição de recursos públicos com responsabilidade por parte da Prefeitura, e denunciando o calote dispensado aos artistas locais.

Uma das principais páginas que fazem o debate sobre todo o descaso é o Fórum da Música de Maceió, que atenta: “Iai, Maceió é Massa? Pra quem? A quem interessa a desvalorização da cultura local? Quem lucra com isso? Quem descumpre a lei para fazer showmício em ano de eleição?”.

Na ocasião do Maceió Verão, os integrantes do Fórum publicaram: “No Maceió Verão, só de cachê das atrações de fora, serão mais de 7 milhões investidos. Se a lei estivesse sendo aplicada, o mesmo valor deveria estar sendo empregado para artistas locais”.

Com esses 7 milhões, milhares de artistas poderiam ser contratados; se poderia realizar a Lei Paulo Gustavo pelo menos 3 vezes (e pra todos os segmentos de multilinguagens, não só música). A Lei 7077 é um direito nosso e queremos que ela seja aplicada. Com a lei aplicada, a cultura e a música de Maceió mudam de patamar!”

A Mídia Caeté procurou a Prefeitura de Maceió, por meio da assessoria de comunicação, e a própria FMAC. As perguntas foram enviadas. No entanto, até a publicação desta reportagem, não houve respostas. O espaço permanece aberto.

Leia a nota completa do bloco “No Escurinho é Mais Gostoso”:

Esse ano nossos personagens não sairão das telas para o Jaraguá Folia.

A FMAC (Fundação Municipal de Ação Cultural ) apagou as luzes antes mesmo do inicio da sessão. Ao longo dos 13 anos anos do Bloco No Escurinho É Mais Gostoso, saímos nas ruas custeados por financiamento coletivo mas principalmente via edital municipal – que deve ser um direito para o estímulo e para o fortalecimento da cultura local. Não foi o que aconteceu e nem o que estamos vendo acontecer: a FMAC vem se mostrando uma grande empresa de show, onde o seu principal foco tem sido fortalecer o marketing pessoal do Prefeito JHC através da venda de uma Maceió instagramável, de uma cultura restrita apenas à valorização de artistas de grande projeção nacional, com cachês quase que milionários. Já a Semce (Secretária Municipal de Cultura e Economia Criativa) também não dá sinal algum de se preocupar com a perpetuação dos blocos nas prévias de Maceió – não há nenhuma política pública estruturante para este público.

O edital que contempla os blocos de ruas da cidade não foi lançado esse ano. Os artistas locais que trabalharam durante o ano, no São João, Dia das Crianças e demais eventos, submetendo-se a caches irrisórios, ainda não receberam e nem sabem quando vão receber.
Enquanto Luiza Sonza chora por Chico, Leo santana fica posturado e calmo… os artistas locais e as manifestações culturais dos pequenos blocos de rua que ainda ocupam o Jaraguá vão amargando a tristeza de não conseguir desfilar suas fantasias esse ano e, consequentemente, as Orquestras que tem o seu maior faturamento nessa época do ano, também sofrem com o descaso e supervalorização de uma cultura que não representa em nada o nosso povo.

“Eu queria era botar meu bloco na rua”, infelizmente não será dessa vez.

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