Editorial: Três anos de Caeté, a queda do rei de ouro e algumas permanências

Mantemo-nos disponíveis para quem peleja pela defesa dos direitos do povo. Mais do que manter, nos norteamos por este combinado de ampliar e enraizar
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Não adianta matar o príncipe e deixar que sobrevivam os princípios – Torquato Neto

Nunca imaginávamos que, ao lançar a Mídia Caeté para este concreto virtual, há três anos, depararíamos poucos meses depois com uma pandemia brutal, lidada de forma ainda mais brutalizada por um governo que, de forma alguma, se importava com as vidas. Em Alagoas, vivenciamos nossas próprias tragédias particulares, como os desdobramentos do maior crime ambiental urbano do mundo, o encarecimento da vida, o sufocamento das perspectivas da juventude, ainda mais jovens negros e periféricos. O povo ficou mais empobrecido e adoecido; também isolado, precarizado, e vendo os direitos descascados um a um.

Entre perrengues, abertura e fechamento de redação, saídas e chegadas, maior e menor capacidade de produção, nos esforçamos para estar presentes cumprindo o jornalismo proposto ali em nossa linha editorial. Imperava o sentimento de impotência que vinha da consciência de que nada aqui é romântico, e o jornalismo investigativo não tinha e não tem como ser gratuito e se manter apenas pela causa. Quase sempre também havia o respiro profundo de entendermos que precisávamos continuar da maneira que fosse possível, mas tínhamos que buscar mudanças que nos trouxessem finalmente um chão.

As mudanças finalmente estão chegando. E chegam na forma de certa maturidade, ainda meio esverdeada, mas com um pouco de caminho já percorrido. Chegam em forma de uma coleção de topadas, cansaços e planos revistos. Chegam na forma de muita reflexão e correrias, de muito aprendizado com gigantes que vieram antes de nós. Chegam na forma de chamados e de boas vindas também a quem acaba de topar caminhar junto.

A despeito de todas estas transformações, algumas permanências também precisam ser anunciadas.

Os campos progressistas, que feliz e notadamente compunham grande parte de nossas leitoras e leitores, hoje vislumbram uma conjuntura esperançosa, bastante compreensível diante do encerramento de um ciclo nefasto e violento que se esvai a partir de 2023. Entretanto, daqui de onde escrevemos estas linhas, a tarefa não se coloca nem uma vírgula mais suave.

Sendo a política e a economia jogos bastante complexos, nosso dever se mantém no olhar às suas múltiplas expressões e funcionamento, por fora e por dentro das instituições, e como interferem na realidade da segurança alimentar, da mudança climática, da vida de povos tradicionais, do futuro das juventudes nas periferias, do direito à cidade, do acesso à saúde pública. E, ainda, no direito de expressar e ter acesso às culturas, à diversidade, à dignidade no trabalho, à melhoria de condições de quem está em situação de risco social com autonomia e organização das comunidades.

Lembramos que completamos mais um ano de vida exatamente no dia em que também pulsa a memória de vida e morte de um grande defensor dos direitos humanos de Alagoas, Nô Pedrosa, em um crime até hoje impune. Mais uma lição a escancarar nosso lugar: perguntar, visibilizar e lembrar. Assim, mantemos nosso olhar atento diante das injustiças locais e também daquelas nacionais. Mantemos a perspectiva de fiscalização de poderes – sejam eles quais forem – e de quem de alguma forma interfira no sentido de violar direitos. Mantemo-nos também disponíveis para quem peleja pela defesa dos direitos do povo. Mais do que manter, nos norteamos por este combinado de ampliar e enraizar.

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