Voto impresso escancara o retrocesso e a confusão como estratégias políticas

Mesmo rechaçada pela comissão especial do Congresso, PEC do voto impresso será votada, confundindo eleitores e desgastando instituições
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Retrocesso. Se fizermos uma busca rápida para encontrar o conceito, vemos que o termo faz referência a recuo ou retorno a um ponto já superado. Desde que Jair Bolsonaro (sem partido) assumiu a Presidência da República – ou melhor: desde as eleições de 2018 – vemos que temas tidos como ultrapassados têm ganhado destaque e fomentado debates descabidos e sem fundamentação. 

O tema da vez é a implementação do sistema de voto impresso, sob o argumento falacioso de que o sistema eleitoral brasileiro é fraudulento e não auditável. Há muito tempo, Bolsonaro insiste em tal bravata e coloca em prática a estratégia de atacar as instituições, nesse caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). 

Em entrevista concedida ao portal Migalhas, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, defendeu a urna eletrônica e criticou as alegações de fraude proferidas por Bolsonaro, sem a existência de qualquer prova. Mello afirmou também que “não há campo para retrocesso”.

Ex-ministro Marco Aurélio Mello | FOTO: Nelson Jr. / SCO / STF.

 

E complementou: “Se quer a burocratização das eleições, ou o voto impresso para quê? Para gerar mais confusão? Ou para gerar a confusão que não se tem com o sistema puro eletrônico? Não vejo uma procedência mínima na articulação do presidente da República”.

Aprofundando o assunto dentro do espectro político-social, notamos que a insistência em temas evidentemente retrógrados não é algo aleatório ou apenas desconhecimento, trata-se de um método que coloca em risco direitos da sociedade, utilizando-se da desinformação como instrumento para o totalitarismo.

O sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman acreditava que – mesmo em tempos “modernos” – o potencial totalitário ainda permanece firme e forte, porém se articula a partir de mecanismos como a cultura de massa e a mídia para alienar o indivíduo e afastá-lo da realidade. Segundo ele, conquistas como liberdade, igualdade, fraternidade, democracia e direitos humanos estão em iminente ameaça. 

Em uma coluna publicada na revista Piauí, em 2019, o filósofo e pesquisador Marcos Nobre já alertava que a confusão era usada por Jair Bolsonaro como estratégia.

“Pode-se considerar que esse projeto não é sustentável, que é suicida, que Bolsonaro acabará se rendendo a algum princípio de realidade, ou qualquer outra expectativa semelhante. Mas quem acha imaginável dar um salto mortal rumo ao impeachment parece desconhecer que há método no caos. Ou, mais exatamente, que o caos é o método”.

Essa contestação do lógico traz resultados, causados pela falta de compreensão das pessoas, assim como pela plataforma política de um determinado grupo. Aqui em Alagoas, por exemplo, o deputado estadual Bruno Toledo (PROS) levantou esse debate em uma publicação nas redes sociais, onde afirmou que o voto impresso não seria um retrocesso e sim mais um forma de auditar a votação. 

Post de Bruno Toledo nas redes sociais. | FOTO: Divulgação.

Vale salientar que a urna eletrônica já é auditável, como afirma o próprio TSE. Clique aqui e leia. 

O ponto crucial não é a busca pela segurança da votação, é a dúvida sistemática que vem sendo incutida na mente dos eleitores, ao colocar em xeque algo que não deveria nem ser cogitado. Ao fazer isso, cria-se “argumentos” para não aceitar o processo eleitoral e expor o Estado Democrático de Direito.

Walter Mignolo, semiólogo e professor argentino, estabelece o conceito da Convenção da Veracidade, que afirma que trabalhos históricos devem entregar algo fidedigno com a própria história e que inferências não podem ser baseadas em suposições, mas sim em fatos.

Tal lógica deveria ser seguida por nossos representantes, tanto em esfera federal quanto estadual. Infelizmente, não é o caso. A PEC do voto impresso será votada hoje no Congresso.

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