Falta generalizada de medicamentos agrava saúde de pacientes psiquiátricos em Alagoas

Profissionais relatam problemas com o desabastecimento de medicações cruciais no tratamento dos pacientes
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Por Wanessa Oliveira e Marcel Leite

Pacientes do Hospital Portugal Ramalho já estão sofrendo quadro de saúde agravado em razão do desabastecimento de medicamentos por parte do Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (Ceaf), a antiga Farmex. Profissionais de saúde que atuam na unidade de saúde relatam que alguns medicamentos já foram suspensos há meses, causando crises.

Segundo um médico psiquiatra – que preferiu não se identificar – os pacientes prejudicados têm condição de esquizofrenia refratária ou bipolaridade e passaram a ter crises em razão da falta de medicação. “Algumas medicações de alto custo, como a olanzapina, já está em falta há 4 meses. As outras vieram acabando também e, agora, estamos sem olanzapina, quetiapina, clozapina e ziprasidona”, relatou.

Até o momento, a solução temporária encontrada por profissionais do Portugal Ramalho, para manter o tratamento terapêutico, foi pedir auxílio de representantes de vendas de medicamentos. No entanto, mesmo este recurso já chegou ao limite. “Já não temos mais amostras grátis e, neste último mês acabou a clozapina, que é uma medicação de último recurso que usamos para os pacientes refratários”.

Além da falta destes remédios causar danos à saúde dos pacientes, o próprio atendimento é comprometido, de acordo com o médico, por gerar um prolongamento das internações e consequente superlotação no hospital. “Para introduzir essas medicações, há um processo extremamente moroso, uma vez que há necessidade de exames semanais por 18 semanas seguidas. Em caso de falta, a reintrodução requer o mesmo procedimento. Então acaba que essas intercorrências e novas crises geram uma demanda excedente no sistema de saúde. A espacialidade da psiquiatria já não tem conseguido dar conta da demanda, fora as internações e superlotação do hospital”.

Com a desestabilização dos pacientes, a procura vai se concentrando de forma mais frequente no setor de emergência do hospital. As restrições de medicamentos somam-se à carência de profissionais em razão da ausência de concurso e das condições de trabalho. “Ano passado, tivemos que fechar as portas para novos pacientes devido a ausência de vagas para novos pacientes”, diz.

A preocupação com a falta de medicamentos como olanzapina e quetiapina acaba aumentando o fluxo de atendimentos, em razão da necessidade de avaliações semanais decorrentes das desestabilizações.

“São pacientes que por exemplo usam 800mg/dia da medicação e o custo dessa medicação é cerca de 200 reais mensais para cada 100mg/dia. Eles não têm como manter e são pacientes gravíssimos”.

O médico psiquiatra relatou ainda que – embora haja recorrência na falta de medicação antipsicótica, por parte do Ceaf – a situação está pior neste momento, diante de um desabastecimento generalizado por meses.

À Mídia Caeté, a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau) nega irregularidade na entrega do ziprasidona, ao menos por parte do Ministério da Saúde, e afirma que a entrega da clozapina deve ser regulada este ano, e a quietiapina passa por conclusão no processo de compra.

“Todas estas medicações citadas são adquiridas pelo Ministério da Saúde (MS) e enviadas para os Estados para que dispensem aos usuários cadastrados nas farmácias estaduais. Ressalte-se, entretanto, que o Componente Especializado da Assistência Farmacêutica (Ceaf) não faz a dispensação para hospitais, mas, exclusivamente, para usuários que façam o tratamento em suas residências. A menos que o paciente tenha entrado em surto, esteja internado e um familiar ou responsável legal retire o medicamento no Ceaf e entregue no Hospital Escola Portugal Ramalho (HEPR) para que o tratamento não sofra solução de continuidade”, afirma a Sesau, por meio de sua assessoria de imprensa.

A Secretaria afirmou, ainda, que os medicamentos citados não são do elenco hospitalar e, portanto, os pacientes precisam estar cadastrados no Ceaf. Ainda de acordo com as explicações, quando os pacientes estão internados, são os familiares quem recebem o medicamento e os repassam para as equipes disciplinares do Hospital.

Ocorre que, segundo o médico, é exatamente tal acesso direto que vem sendo suspenso. “Estão restringindo a todo custo a acesso de pacientes novos aos medicamentos controlados da farmácia especial. E os que já tem acesso estão desabastecidos há meses”, reitera o médico residente.

A Mídia Caeté procurou o Ministério da Saúde, mas não obteve respostas.

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