Cresce a cena audiovisual em Arapiraca

Cinema tem se construído no panorama alagoano com impulsionamento do Núcleo Audiovisual de Arapiraca (NAVI)
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Foto: Tarcisio Ferreira

 

O ano de 2019 foi um teste de fogo para a cultura nacional, especialmente para o cinema. Com o governo Bolsonaro censurando filmes de temática lgbt+ já aprovados em edital, impedindo a exibição de Mariguela, película dirigida por Wagner Moura, além dos constantes ataques a Agência Nacional do Cinema (ANCINE) como a mudança da pasta de Ministério da Cidadania para o do Turismo, a indicação de nomes ligados a grupos evangélicos, a ameaça de extinção do fundo setorial do audiovisual ou mesmo o fim da própria ANCINE.

Mesmo com esse cenário caótico de tantas adversidades o cinema nacional foi simplesmente gigante. Filmes como Bacurau, A vida invisível, Estou me guardando para quando o carnaval chegar, Divino amor, Pacarrete são apenas algumas das melhores obras do ano. E detalhe: todas são nordestinas.

É tendo esse panorama nacional como pano de fundo que o agreste alagoano, especialmente Arapiraca, vem aos poucos construindo uma cena audiovisual. E no centro dessa cena está o Núcleo Audiovisual de Arapiraca (NAVI). “O NAVI surgiu como um ponto de cultura ligado a Associação dos Artistas de Massaranduba (AMA). Tivemos um ano de trabalho como ponto de cultura, fizemos oficinas e delas conseguimos fazer alguns filmes, ganhar editais. E aí fizemos a mostra Navi e curtas que foram fruto das oficinas”, explica Leandro Alves, diretor do premiado Avalanche, filme que foi exibido em diversos festivais como São Paulo, Tiradentes, Goiás e também produtor de Besta fera, filme exibido em mais de 15 festivais.

Foto: Tarcisio Ferreira

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mas não seria possível afirmar que existe uma cena audiovisual na cidade se tudo se resumisse a um filme ou outro de algumas pessoas bem intencionadas. O projeto ambicioso do NAVI inclui participação em uma série de editais locais e nacionais, mas também, e fundamentalmente, parcerias para garantir a formação de novos produtores e espectadores: “Fizemos um projeto junto com a Algás, o ‘Navi nas comunidades’. Nós fomos em cinco comunidades rurais de Arapiraca e realizamos cinco filmes. Ganhamos o edital de Maceió e fizemos o Avalanche, ganhamos o edital do Estado e fizemos o Besta fera, filmes que rodaram bastante os festivais. Recentemente demos uma oficina pelo Sesc e dessa oficina saiu a produção de nosso trabalho mais recente o documentário, o Ana Terra”, nos conta Leandro.

O cineasta tem formação acadêmica com graduação em Produção Audiovisual e mestrado em Cinema, ambos fora do Estado. “eu já sai daqui justamente porque eu não via como produzir e aí lá (onde fazia os cursos. A graduação em Campina Grande e o mestrado em Aracaju) aprendendo, vi que dava pra produzir aqui também e aí voltei”.

Claro que o cinema feito em Arapiraca não começa com o Navi. De cabeça Leandro consegue citar alguns exemplos anteriores como o A última feira de Hermano Figueiredo ou o DJ do agreste de Regina Barbosa, ambos da década passada. “Teve também o Candeeiro Aceso que era um ponto de cultura, mas que não tinha o foco principal no audiovisual e de lá pra cá não teve mais nada”, lembra. Mas esses foram projetos esporádicos. Apenas em 2014 quando o Navi surgiu é que pode-se dizer que a intenção era de criar um movimento com o intuito de fortalecer a cena arapiraquense.

 

Foto: Tarcisio Ferreira

 

Contribuiu para esse movimento não apenas a vontade de fazer, a formação especializada de alguns de seus protagonistas, mas também o incentivo do poder público, o barateamento dos equipamentos e o crescimento das produções na capital que é a principal rota de troca de experiências com os produtores agrestinos.

“Acho que um ponto muito positivo foram as oficinas. Porque enquanto você capacita faz também, mostra seu filme, as pessoas veem seu filme e as pessoas tem mais interesse, tem mais visibilidade. Estamos na terceira edição da mostra Navi. Em 2020 teremos a quarta e pretendemos que seja maior. E também com essas oficinas podemos fortalecer nossos projetos, entender mais como se faz para um edital, saber quais são fortes, pesquisar mais sobre nossos projetos e com isso nós conseguimos ganhar alguns editais, filmes com dinheiro sendo feitos no interior por pessoas do interior”.

O poder público também foi importante. No ano passado três filmes foram agraciados com 30 mil cada para suas produções por editais da prefeitura e estão em fase de finalização. E no final de 2019 um edital de um milhão foi aprovado só para Arapiraca, junto a ANCINE. Serão 8 curtas de 50 mil, dois telefilmes de 250 mil e duas capacitações. Uma de 100 mil e outra de 50 mil. “o papel dos editais tem sido muito importante para a construção da cena audiovisual aqui.  E cada edital que surgiu foi aumentando o valor e isso junto com o cenário nacional, com o fortalecimento da ANCINE, com um fundo criado só para o audiovisual”.

É uma pena que A vida invisível, Pacarrete e Divino amor sequer tenham passado pelas telas dos cinemas arapiraquenses. Em alguma medida também é triste que Bacurau, tão aclamado e com um cenário tão facilmente identificado com o agreste tenha ficado pouco tempo e em uma sessão das 15h. Mesmo com essa e outras adversidades o cinema arapiraquense cresce. E o melhor: isso é só o começo.

Foto: Tarcisio Ferreira

 

 

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