Ditadura Nunca Mais: ato reúne movimentos sociais, entidades e ex-presos políticos no Centro de Maceió

Mobilização rememora os 60 anos do Golpe Militar que instaurou o regime ditatorial
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FOTO: Fórum em Defesa do Sus.

Sessenta anos depois do Golpe Militar que instalou, neste primeiro de abril de 2024, a Ditadura Militar no Brasil, movimentos sociais, partidos políticos, entidades da sociedade civil, ex-presos políticos e familiares, realizaram um ato simbólico na Praça Montepio, situada no centro de Maceió, reivindicando justiça contra a impunidade e memória contra o Golpe.

Entre os participantes do ato, o historiador, escritor e comunicador Geraldo Majella enfatizou o caráter de denúncia das mobilizações em todo o país, não sendo diferente em Alagoas.

“O ato de hoje foi um ato significativo de lideranças, de partidos, de sindicatos, de entidades da sociedade civil, de ex-presos políticos, de familiares de presos políticos, de familiares que já são falecidos, de familiares mortos durante a ditadura, mortos e desaparecidos durante o período da ditadura, que se encontram até hoje”, contou.

Segundo Majella, as atividades não cessam neste dia 1º. “Amanhã, terça-feira, dia 2, eu estou indo para Palmeira dos Índios, para a Universidade Estadual de Alagoas (Ufal), juntamente com o Tiago Miranda, que é dirigente do Sindicato dos Bancários e neto de um desaparecido político que foi assassinado e o seu corpo nunca foi entregue à família, o jornalista Jaime Amorim de Miranda”, conta.

Em seu portal, o historiador Edberto Ticianeli lembra que o primeiro ato da Ditadura em Alagoas foi o silenciamento da imprensa. Especificamente a invasão do jornal do PCB, A Voz do Povo, então dirigido por Jayme Miranda. Agentes do Dops, auxiliados por um grupo fascista identificado como Patrulha Nacional Cristã, jogaram na rua e queimaram os equipamentos do semanário, de acordo com relatos recolhidos do jornalista Anivaldo Miranda.

Queimar A Voz do Povo se tornou praticamente o grande ato de quem “odiava o comunismo”, seguido de invasões a sindicatos, e uma série de perseguições. Ao todo, só em Alagoas, pelo menos seis pessoas foram assassinadas, três até hoje seguem desaparecidas, e mais de cem pessoas foram presas políticas no total.

Vinte e um anos sob uma Ditadura

Para as gerações que não vivenciaram as mais de duas décadas de Ditadura, torna-se um exercício necessário mensurar o cotidiano que é viver sob anos de chumbo e autoritarismo, especialmente para que não haja qualquer brecha de mobilização que, no auge da incoerência e contradição, reivindique esse tipo de regime – como a extrema-direita conseguiu arregimentar nos últimos anos.

Afinal, é a produção estratégica dessa falta de memória que também anistia torturadores, os mantém em cargos públicos ainda hoje e ainda permitem o retorno de discursos como os que pedem “intervenção militar”.

Questionado pela Mídia Caeté sobre possíveis particularidades da Ditadura em uma Alagoas de forte coronelismo, Majella explica como elas se misturam com características que se estenderam por todo o país. Alguns exemplos são trazidos pelo historiador, como a impossibilidade de se declarar ou se posicionar enquanto oposição, sob o risco de ser endereçado no apelo vazio do anticomunismo ou do “combate à corrupção”.

“Por exemplo, as cassações dos parlamentares. Você tinha duas ou três motivações ou pretensões para caçar o mandato parlamentar. Um deles era o fato de ser identificado como comunista, como socialista, que era a mesma coisa, ou como esquerdista, ou como uma pessoa que não tinha nenhuma dessas filiações ou identidades, mas que era um oposicionista. Um oposicionista aos militares, ou foi oposicionista ao governo local. Isso é uma característica, uma linha geral. A outra era a corrupção. Muitos parlamentares no Brasil foram caçados por acusações de ‘corrupção’. À acusação, sequer era dada o direito de defesa. O sujeito era indiciado num processo, caía na Comissão Geral de Inquérito, a CGI, e a partir da CGI você tinha uma defesa pró-forma, mas tinha uma condenação sumária da comissão”, mencionou.

Havia ainda as falsas acusações de violência, caso o apontamento ideológico do ‘comunismo’ ou de prática de ‘corrupção’ não pudessem ser alegadas. “Um terceiro seria a acusação de ter assassinado alguém, de ter participado de um ato violento etc. Então esses três, pelo menos, eram os três gerais. Isso aconteceu aqui e aconteceu em muitos lugares do Brasil, para os parlamentares. Para juízes, desembargadores, entre outros, você tinha o filtro que poderia estar entre estes três e, afastando este magistrado da magistratura, caçado por questão ideológica, por questão política ou por questão de moralidade, da corrupção. Esse era um dado geral, uma característica geral da ditadura em todo o Brasil”, conta.

As consequências políticas que escalavam entre os Atos Institucionais abriam ainda mais brechas para prisões sob as motivações mais diversas. “Se criou uma rede de ‘dedos-duros’, que apontavam as pessoas ao seu bel-prazer. Isso ia crescendo, desde o sujeito que estava no interior, que era apontado como o esquerdista, pelo seu desafeto, e isso ia tomando uma proporção que chegava até ao limite do sujeito ser preso e às vezes até morto”, diz. “Em Alagoas, foram verificados muitos fatos dessa natureza durante esses 21 anos. Não digo da morte, mas da prisão, da humilhação, da perda do emprego privado ou público. Então isso é uma característica geral, sob as normas estabelecidas pela Ditadura, que foram aperfeiçoando a cada ato institucional que era editado”, finaliza.

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