O jornalismo precisa aprender a não dar palco para a extrema direita dançar

O que aparenta é que não aprendemos nada com a eleição de Jair Bolsonaro, muito menos com a composição ultrarreacionária da Câmara de Vereadores de Maceió
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Nando Reis criticou Jair Bolsonaro em show na capital. | FOTO: Alisson Frazão / Secom Maceió. Câmara de Maceió.

Vivemos quatro anos de calvário sob o comando de Jair Bolsonaro na Presidência da República, período que fez vítimas reais – ao longo da gestão tenebrosa na pandemia – e gerou consequências extremamente nocivas, que sentimos até os dias de hoje.

O bolsonarismo despertou de vez a onda ultraconservadora que hibernava em nosso país, elegendo políticos – nas mais variadas esferas – destruindo direitos, sucateando universidades e debates, bem como perpetuando institucionalmente ideias reacionárias, negacionistas e danosas.

É bem sabido que a Câmara de Vereadores de Maceió tem uma forte afeição com os pensamentos de Bolsonaro, uma vez que traz à tona e aprova projetos retrógrados e afrontosos, pautados pelo fundamentalismo e pela ideologia. Exemplo recente disso é o Projeto de Lei da Tortura, que escancarou uma agenda violenta e cruel contra as mulheres, mesmo sem apresentar qualquer viabilidade institucional – chegando até a ser suspenso pela Justiça.

Surfando justamente nessa onda, um vereador da capital protocolou um ofício solicitando a suspensão do pagamento do cachê do cantor Nando Reis, que – durante a apresentação do Verão Massayó – se manifestou politicamente contra o ex-presidente. O fato foi amplamente divulgado por veículos e jornalistas de Alagoas.

É aí que mora o perigo. Numa época onde o engajamento e as mídias digitais deixaram de ser um diferencial, e passaram a ser essenciais para qualquer estratégia de comunicação, o jornalismo deveria desempenhar o papel de filtro, fortalecendo a sua real função social e não servindo como mais um palco para o extremismo se destacar.

Nós, enquanto jornalistas, devemos ter em mente o que deve ser notícia ou não, precisamos aprender a não publicizar situações que só servem para que a extrema-direita acene para sua base, e que em nada vão contribuir para o debate público e para a vida das pessoas.

Essa é a munição que os fundamentalistas querem, pois é o que eles consomem, é o que usam para manter seu público inflamado e angariar mais votos, sobretudo em ano eleitoral. É tentador colher os frutos das métricas e da audiência, impulsionar seus números e seus resultados, porém a que preço? Vamos novamente cair na mesma armadilha?

Infelizmente, essa mea-culpa não parece estar sendo feita.

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