Profissionais de saúde protestam em defesa do SUS

Médicas e Médicos pela Democracia em AL chamam atenção para os perigos de uma reabertura precoce do comércio
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Profissionais de saúde de todo o país têm intensificado as lutas no combate à Covid-19, dentro e fora dos hospitais, Na manhã deste domingo (21), diante das mais de 50 mil mortes registradas oficialmente em todo o país, o alerta foi estendido nas ruas sobre uma série de condições sociais, de trabalho e de políticas de saúde – ou a falta delas – que influenciam diretamente neste resultado. Em Alagoas, o ato simbólico foi realizado pelo coletivo de Médicas e Médicos pela Democracia no Estacionamento do Jaraguá, em Maceió.

“Preparamos 50 cruzes de madeira. Cada uma delas representando 1000 mortes no Brasil pela Covid-19. Produzimos cartazes com frases fortes de resistência, pedimos respeito pelas vidas negras, periféricas e indígenas”, relata o médico de Atenção Primária, Jonas Augusto, integrante do coletivo de Médicas e Médicos pela Democracia em Alagoas. Os registros do ato, e das mobilizações realizadas em todo o país, podem ser acompanhadas no canal do coletivo de Médicas e Médicos pela Democracia, que você pode ter acesso clicando aqui.

“Planejamos e realizamos o ato de hoje já com intenção de não haver aglomerações, nem contrariar o isolamento justamente porque somos médicos e entendemos a necessidade de adiar e intensificar o isolamento social. Utilizamos todos os Equipamentos de Proteção Individual necessários, e nos mantivemos em uma distância de dois a três metros de uma pessoa para outra. Não tivemos intenção de inflamar mais pessoas para o ato, mas de apresentar o simbolismo de não deixar passar batido o marco que são essas 50 mil mortes, e o quanto essa situação é incompatível com a flexibilização e abertura de isolamento que alguns governantes querem implementar”, relatou.

Cruzes foram fincadas na areia da praia do Jaraguá / Foto: Victor Sgarbi / Arquivo Pessoal

Publicando diariamente vídeos em que retratam as condições do Coronavírus no Estado, o coletivo também tem acompanhado de perto as decisões do Estado em torno dos planos de contingência – sobretudo em se tratando das possíveis medidas de abertura. “Temos visto a movimentação, inclusive dos Ministérios Públicos apoiados pelo Grupo de Pesquisa, que fizeram contraposição a essa flexibilização, com todas as evidências de outros estados e países que, ao começarem a flexibilizar, precisaram retomar porque viram que o acúmulo de infecções voltou a subir”.

Em Alagoas, estado que não atingiu o pico da doença, os profissionais também apontam para a necessidade de medidas mais consistentes em torno do distanciamento social. “Vemos com certo receio, inclusive, esse adiamento do decreto por apenas mais uma semana, porque parece que é uma medida voltada a não desagradar nem um lado, nem outro, mas termina por não surtir o efeito esperado, com o comércio funcionando em plena atividade. Ainda é um medo e uma preocupação para que essas medidas sejam mais firmes e mais fiscalizadas, e que não baixem a guarda agora”. Segundo o médico de Atenção Primária, por mais que haja a sinalização de algumas melhoras em certos segmentos da saúde, elementos como a redução dos leitos nos hospitais privados não são o suficiente para se adotar uma abertura, porque negligenciam ainda a diferença existente entre o acesso ao serviço na saúde pública e privada.

“Na rede privada, o tempo entre a procura do paciente ao serviço de saúde e a estabilização no leito é muito menor do que na rede pública. Geralmente, na rede pública a pessoa já veio transferida de outros serviços há um certo tempo. Temos dados da regulação que mostram que algumas pessoas passam alguns dias para serem transferidas de um centro de triagem para outro com maiores recursos”, relata o médico. “Não temos como comparar o público com o privado. Ao usar esses dados para uma flexibilização estamos desconsiderando tanto as diferenças de extratos sociais, como a interiorização da doença que também acontece neste momento. Não vimos a situação caótica ainda no interior do estado, porque está chegando agora”, reforça.

Respeitando o distanciamento, médicos protestam no Estacionamento do Jaraguá / Foto: Victor Sgarbi / Arquivo Pessoal

Para além das medidas de isolamento, os médicos e demais profissionais defendem, ainda, ainda a importância da defesa do Sistema Único da Saúde. “A gente tem que defender o SUS. É o primeiro ponto. Sem SUS não teríamos nada do que atualmente temos. Por mais que haja falhas e problemas, ele deve ser fortalecido não só no momento da pandemia, mas principalmente agora. É preciso que gestores defendam gerando mais aporte de recursos, e um fortalecimento da atenção primária, que nesse momento de pandemia poderia ser inclusive mais efetiva para pacientes, porque vai ter mais regulação funcionando, para que aquela pessoa continue monitorada e, se precisar de assistência, vai ter o atendimento”, registra.

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