A linha tênue entre a ignorância e o mau-caratismo

Em dias onde taxações sem fundamento e pronunciamentos irresponsáveis são tão corriqueiros, saber separar quem é quem é um exercício difícil e necessário.
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Foto: Reprodução / Facebook

Qual a função de um Chefe de Estado? O mais lógico seria pensar: zelar pelo bem-estar e pela segurança das pessoas. Porém, estamos sobrevivendo a uma pandemia não somente de Coronavírus, estamos tendo que lidar com a proliferação de dois agentes igualmente nocivos: a ignorância e o mau-caratismo.

Dessa forma, ao estarmos nessa bolha incompreensiva, nos deparamos com a defesa das decisões arbitrárias, tendenciosas e desumanas do Presidente da República. Por mais absurdo que isso seja.

Ir de encontro às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do mundo, comprar uma briga sem nexo com os Governos Estaduais, desmentir e pressionar o único Ministério competente e digno da gestão e, por fim, fazer um pronunciamento irresponsável incentivando as pessoas a irem para as ruas. Existe mesmo maneira de defender tais condutas no cenário atual?

A resposta é: infelizmente sim. Para isso, é preciso fazer um exercício –  bastante difícil – pra tentar explicar o inexplicável. Todos temos, no nosso ciclo de convívio, pessoas que irracionalmente (ou não) corroboram as leviandades proferidas pelo Poder Executivo brasileiro. Triste realidade.

Eis aqui o ponto o qual o texto se propõe: será mesmo que estamos lidando apenas com um surto coletivo de alienação e desconhecimento? Arrisco-me a dizer que não. O problema é muito mais grave. A ignorância política e cultural é sim um mal que põe a plenitude social em risco, porém ela é menos ameaçadora do que a conveniência mau-caráter que rege uma parcela egoísta, privilegiada e abastada da população.

Não é difícil encontrar “cidadãos” que bradam aos quatro ventos a importância da manutenção da economia e minimizam os impactos sanitários tão aparentes e o quase inevitável colapso da saúde no país. Ninguém aqui está relativizando o caos econômico que se anuncia, apenas se faz necessário recordar que as vidas das pessoas devem importar mais do que o capital de giro de qualquer empresa. É duro, revoltante e desestimulante ter que lembrar a todo o momento.

Argumentos levantados para defender a “proteção da esfera econômica” não faltam para eles, sobretudo com a réplica pré-formulada de que “os empregos vão acabar e as empresas vão falir, se tivermos medo desse ‘resfriadinho'”. É óbvia a relevância das atividades empresariais, principalmente após a crise. Só que esse pensamento não pode ser usado para subvalorizar qualquer vida que seja. A vida do trabalhador comum não é menos valiosa do que a saúde financeira do CEO de qualquer conglomerado. Muito pelo contrário!

O que fazer então? Cobrar do Governo Federal menos picuinha e enaltecimento da própria figura e mais ações visando a elaboração de um plano econômico coeso para gerenciar essa crise, com alternativas que consigam proteger a saúde e bolso dos trabalhadores e empresários. Não faz bem lembrar da MP insana e canalha que previa cortar os salários devido ao isolamento. É desse tipo de mau-caratismo que estamos falando.

É um período onde as águas serão divididas política, econômica e afetivamente. É uma época que pede uma maior atenção, um maior engajamento e, ainda mais, um maior interesse por conhecimento e informação.

Há indivíduos que têm plenas condições de obter tudo isso, mas preferem se abster e se cobrir sob o manto do obscurantismo. Esses ainda têm salvação. Existem outros que sabem exatamente o que estão fazendo e simplesmente não se importam. Esses merecem desprezo e distância.

Antes que eu esqueça: quem cala também é conivente.

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