É muito irônico Antônio Albuquerque reclamar da “Ditadura”

Deputado resolveu manifestar o seu descontentamento com as medidas de prevenção. Sem uso de máscara, ele, que havia testado positivo para a COVID-19, confrontou agentes de trânsito e guardas municipais que estavam no local e vociferou contra os decretos estadual e municipal de prevenção.
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Na manhã desta sexta-feira, 8 de maio, quando Alagoas contabiliza 108 mortes confirmadas por Coronavírus e já chega em mais de 2 mil casos confirmados, o deputado Antônio Albuquerque (PTB) decidiu protagonizar uma performance individual de descontentamento contra as medidas implementadas nos últimos decretos estadual e municipal, que reforçam o isolamento social em prol da prevenção contra a contaminação do Coronavírus.

Saindo de seu apartamento, situado em frente a orla marítima de Maceió, Antônio Albuquerque se posicionou no canteiro central. Sem uso de máscara, o deputado, que havia testado positivo para a COVID-19, confrontou agentes de trânsito e guardas municipais que estavam no local para monitorar o trânsito de pessoas e veículos.

As imagens foram todas registradas em vídeo e acompanhadas por alguns poucos aplausos de outros moradores. Não bastassem as contravenções aos decretos, fato que já possui uma gravidade gigantesca, o conteúdo vociferado pelo parlamentar também é dotado de elementos extremamente icônicos.

A começar por reclamar de “ditadura ridícula” ao se referir às medidas de contingenciamento. Antônio Albuquerque, o deputado que reclama de sua cidadania atingida por ter uma sirene na porta de casa, vem acumulando uma trajetória na vida pública de acusações que envolvem homicídio, além de outras acusações por enriquecimento ilícito, apropriação de recursos públicos – tendo inclusive sido condenado pela Justiça Alagoana em ação proveniente da Operação Taturana.

Albuquerque ancora sua fama atual emitindo diversos vídeos que fazem coro a esse discurso irresponsável dos que colocam a mesquinharia e o imediatismo econômico acima de uma realidade em que a calamidade na saúde pública é o elemento mais preocupante.
O país inteiro alcança o auge de mortes por coronavírus, os hospitais alertam para a proximidade de colapso e o isolamento em Alagoas cai vertiginosamente, tornando, cada vez mais, descontrolada a pandemia – principalmente para a população mais pobre e com menos acesso à informação, às chances de isolamento e a um atendimento seguro.

É nesse ponto que o uso desonesto do termo “ditadura” não poderia vir em uma situação mais descontextualizada. Afinal, são os defensores do governismo autoritário – esses que, usando palavras do ator Lima Duarte, soltam o “bafo” da ditadura vivida pelo país na década de 1960 – que mais apregoam, atualmente, a contrariedade ao fechamento do comércio, ao isolamento social, à retirada dos direitos e favoráveis ao “e daí” (fazemos questão de repetir) para quem morre de COVID-19, de sobrecarga, de negligência e de falta de respiradores.

Que não se engane, deputado: os discursos – assim como as balas, a fome, os desmandos e a corrupção – também matam.

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