Estudantes contam como diretores do IFAL desencorajam denúncias de casos de racismo

Instituição foi alvo de protesto na última semana por negligência da gestão sobre os casos; IFAL enviou nota mas não respondeu sobre silenciamento.
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Estudantes em protesto contra casos de racismo no IFAL. Foto: Arquivo Pessoal

Mobilizados contra casos de racismo, assédio e LGBTfobia no Instituto Federal de Alagoas (IFAL), Campus Maceió, estudantes revelam como foram sistematicamente desencorajados por diretores da instituição a prosseguir com as denúncias. Após ato realizado pelos alunos no último 21 de setembro – pouco mais de um mês após o Instituto ter sediado um grande evento de pesquisadores negros  do Nordeste- a emissão de nota pública e a abertura de um formulário nas redes sociais para “relatos de casos” não convenceu o corpo discente, que tem exigido respostas mais contundentes contra a impunidade, e com objetivo de evitar o ocorrência de novos casos.

O Presidente do grêmio estudantil Edson Luis Gustavo Henrique conta como os casos são antigos e conhecidos desde as gestões anteriores. “Sempre lutamos muito contra, mas acabava que ficava impune e os agressores que estudavam no Campus se formavam sem nenhum tipo de problema”, relata. “ Desde que mudou a gestão, o atual reitor afirmava que iria lutar contra isso e modificar o regulamento, uma vez que o atual não prevê nenhuma punição para casos assim, ele se limita mais a buylling”.

Ocorre que o novo regulamento, que começou a ser realizado, parou e diante da falta de movimentação – e surgimento de mais casos – a direção passou a afirmar “que não poderia fazer nada quanto ao problema”, uma vez que não tinha regulamento nenhum sobre o tema.

“Na última quinta-feira, estourou mais um caso de uma garota de turma de eletrotécnica que chamou outra de ‘macaca’ em mensagem no grupo de whatsapp. Foi printado, e dessa vez a polícia foi chamada e buscou essa garota para depor na delegacia”, conta.

Casos e mais casos

Ainda segundo os relatos, neste mesmo curso de eletrotécnica, há um grupo de 14 agressores que têm perseguido seis vítimas há mais de um ano na instituição, com hostilizações de racismo e LGBTfobia. Além do mais, casos envolvendo professores também foram verificados.

Um dos casos mais emblemáticos, e conhecidos na instituição, é mencionado pelo estudante. “O professor agrediu uma aluna do primeiro ano. Ela é negra, tem cabelo blackpower e também é autista. Ele se irritou com a demora dela em determinada atividade, jogou o estojo no chão, chamou de ‘negrinha’, e disse que ela estava inventando doença para atrapalhar a aula dele. A turma inteira ficou estarrecida e ele continuou dando aula”, relatou.

Este caso também foi formalizado em Boletim de Ocorrência, mais por iniciativa dos alunos e familiares, uma vez que a direção da instituição , segundo os estudantes, não só silencia em torno dos casos, como ainda desencoraja os alunos a prosseguir com a denúncia.

“Para se ter ideia, quando houve uma ameaça a uma aluna trans, a diretoria de apoio acadêmico falou que as medidas cabíveis são com a diretoria. Depois que a polícia foi para lá, ela falou que não levassem para fora da turma os casos e que ‘quem sabe, sabe, quem não sabe, não é para saber’”.

Segundo o estudante, há meses que o caso ocorreu e não houve qualquer retorno por parte da instituição. “Tem casos de assédio tanto por parte de alunos como de professores. No dia em que explodiu o caso dos estudantes agressores no curso de eletrotécnica, a diretoria de apoio acadêmico falou para os agressores que eles não seriam expulsos, porque racismo não era passível de expulsão, entre outras coisas graves”, diz.

“Já quando vamos cobrar, dizem que dentro do IFAL os processos demoram muito tempo. Pedimos que haja a modificação no regulamento, e que a denúncia sendo formal ou informal, o culpado seja afastado até que o processo encerre”.

Os casos prosseguem: “uma turma foi fazer a denúncia no centro pedagógico, e o professor retaliou com avaliações absurdas, tirando pontos da turma. No próprio protesto, tivemos uma conversa com o diretor e alunos pediram para nã terem convivência com agressores racistas. Ele afirmou com as próprias palavras que não poderia fazer nada em relação a isso”.

Depois de toda a mobilização, no entanto, os estudantes contam que a direção se comprometeu em modificar o regulamento a partir da semana seguinte, de modo que se desse a punição de forma devida.

Já nas redes sociais, o Instituto publicou em suas redes sociais a nota pública e, na sequência, um “diagnóstico sobre racismo”.

A ação foi rechaçada nas redes sociais pelos próprios alunos, que revelavam nos comentários que a instituição só estava agindo nos limites na internet, mas não efetuava nada mais concreto. Após capturarmos alguns comentários, eles foram excluídos.

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A Mídia Caeté procurou o Instituto Federal de Alagoas para buscar respostas a respeito das denúncias. A instituição enviou a seguinte nota assinada pelo diretor geral do Campus Ifal Maceió, Givaldo Oliveira:

“A Direção-Geral encontra-se atenta aos recentes acontecimentos e adotou providências imediatas, enviando uma nota pública de esclarecimento à comunidade em 18 de dezembro e instaurando um processo disciplinar para investigar a situação em consonância ao Regulamento do Corpo Discente do Ifal. Além disso, hoje (21), os estudantes promoveram uma manifestação em frente ao Campus e foram recebidos pelos membros da gestão, que acolheram suas demandas. O diretor-geral reiterou seu compromisso em combater qualquer forma de preconceito e afirmou que serão tomadas todas as medidas cabíveis, em conformidade com as resoluções e regulamentos da instituição.”

Na sequência, a Mídia Caeté questionou sobre os casos de impunidade retratados pelos alunos e a demanda de regulamento, mas não houve mais resposta por parte do IFAL até a conclusão desta reportagem.

Estudantes em protesto contra casos de racismo no IFAL. Foto: Arquivo Pessoal

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