Estudo prevê em AL possibilidade de internações tardias

Internamento tardio pode estar levando mais pacientes diretamente à UTI, diz pesquisa
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Atendimento no HGE. Foto: Carla Cleto/SESAU

Em seu terceiro relatório “Dashboard Covid19 Alagoas”, pesquisadores da Universidade Federal de Alagoas e da Universidade Federal da Grande Dourados propõem que o Estado analise se os protocolos clínicos estão desencadeando internações tardias em Alagoas, o que pode estar fazendo com que pacientes deem entrada diretamente à UTI. O grupo também apontou projeções que estimam um colapso hospitalar entre os dias 15 de maio e 5 de junho – com a data mais provável no dia 26 de maio -situação que pode ser ainda pior com o relaxamento da circulação de pessoas.

Conduzido por pesquisadores que compõem o Grupo de Modelagem Científica e Simulação do Surto COVID-AL, o estudo traz elementos para compreender a evolução do Coronavírus no Estado, em um momento em que a subnotificação é um dos grandes obstáculos pra enfrentamento da pandemia. Reconhecendo a imprecisão de alguns dados e o fato de não serem definitivos – por dependerem de diversos outros fatores sociais – os estudiosos sinalizam, no entanto,  que o método tem sido um dos mais confiáveis, considerando a baixa notificação gerada pela insuficiência de testagem na população.

Foto: Relatório Dashboard Covid19 Alagoas

Utilizando dados com base em 21 óbitos registrados em Alagoas, entre os dias 17 a 24 de abril deste ano, o relatório estima que o número real de novos casos seja mais de 15 vezes maior do que o divulgado e que Alagoas se encontra em fase de expansão do crescimento da pandemia, com um pico projetado para a semana do dia 30 de junho. A perspectiva é de que 60 mil pessoas tenham sido infectadas no pior dia. Os números, no entanto, podem ser modificáveis de acordo com as ações realizadas e o comportamento social – sobretudo caso medidas como lockdown sejam adotadas.

A gravidade das estimativas se estende ainda à sobrecarga da ocupação de leitos de UTI. Mesmo levando em conta a instalação dos novos leitos anunciados pelo Governo do Estado até o dia 15 de maio, há previsão de colapso em algum momento entre os dias 15 e 26 de maio, sendo a data mais provável o dia 26. “Isso significa que apesar de importante para adiar o colapso hospitalar, a expansão do número de leitos por si só será incapaz de atender toda a demanda de internações. Enfatizamos ainda que esta demanda ainda crescerá muito se não forem endurecidas as
condições atuais de isolamento: estimamos que teremos um pico na demanda da ordem de 1700 leitos de UTI em meados de julho (apesar de estes valores apresentarem grande imprecisões numéricas)”.

Internações tardias

Foi a análise sobre a projeção de leitos clínicos que levou os pesquisadores a levantar a possibilidade de haver uma situação de internações tardias. De acordo com as informações divulgadas no relatório, diferentemente da ocupação de leitos de UTI, o número de ocupação de leitos clínicos está abaixo do estatisticamente esperado.

O estudo interpreta que, ou “os profissionais de saúde estão recomendando que os doentes se isolem em casa, quando deveriam estar submetidos a tratamento hospitalar”, ou “os doentes estão esperando o agravamento dos sintomas para procurar atendimento médico, o que faz com que estes estejam sendo internados diretamente em leito de UTI”. Diante da análise, os pesquisadores acrescentam: “Para o primeiro caso, sugerimos uma revisão dos protocolos de internação para evitar desassistência de casos graves, visto que a internação tardia tem maior probabilidade de terminar em óbito. Para o segundo caso, recomendamos campanhas educativas para que a população não espere o agravamento dos sintomas, como falta de ar por exemplo, para procurar atendimento médico.” Clique aqui para conferir o relatório completo. 

 

Fechamento total e outros cuidados

Considerando as atuais projeções e a hipótese de não haver suficiência de leitos, uma das conclusões do estudo perpassa por duas possíveis soluções para evitar o colapso no sistema hospitalar. A primeira delas é o fechamento total de circulação – lockdown – das regiões mais afetadas e a restrição de circulação no caso de serviços não essenciais.

A segunda, por fim, trata-se da adoção de medidas como distribuição de equipamentos de EPIs para profissionais da linha de frente e diversas outras ações como: “providências para evitar aglomerações (internas e externas) relacionadas a serviços essenciais como bancos, mercados e farmácias; testagem massiva para estadiar o momento da epidemia e diagnosticar com agilidade indivíduos com COVID-19 para colocá-los rapidamente em quarentena; triagem clínica de sintomas para classificação de risco de COVID-19 enquanto houver escassez de testes diagnósticos; monitoramento de infectados com uso de softwares de monitoramento e aplicativos de celular”.

 

Governador declara endurecimento de medidas em próximo decreto

A Mídia Caeté entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) questionando a respeito do estudo – sobretudo em relação ao protocolo para atendimentos e possibilidade de internação tardia, além da situação dos leitos diante das projeções efetuadas e possíveis medidas. Até o momento, no entanto, não obteve respostas.

Através de suas redes sociais, o governador Renan Filho – que havia afrouxado as medidas de distanciamento social desde o último decreto – anunciou que o novo decreto traria um endurecimento de medidas. Já o prefeito Rui Palmeira, também via redes sociais, comentou sobre a lotação nos leitos de UTI do Hospital Santa Casa e situação similar em outras unidades de saúde de referência para COVID-19.

Segundo o último boletim de ocupação de leitos, divulgado pela Sesau, às 13 horas do dia 3 de maio, havia 48% dos leitos clínicos ocupados e 43% dos leitos de UTI.  Em Maceió, o percentual aumenta de 58% para leitos clínicos e 53% de leitos de UTI, segundo o Boletim Epidemiológico do dia 3 – o mesmo que indicou o número de 1441 casos confirmados e 64 óbitos.

 

 

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