Privatização: Sindicatos dos Correios é surpreendido por pedido de “votação urgente” na Câmara

Trabalhadores denunciam que país pode enfrentar apagão postal caso empresa seja entregue à iniciativa privada e mercado financeiro
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Foto: cortesia/Sintect-AL

Embora o modo de operação “sucatear para privatizar” seja um antigo conhecido e denunciado por trabalhadores dos Correios, a categoria foi pega de surpresa, nesta segunda-feira, 20, com a informação de que o presidente da Câmara Federal, deputado Arthur Lira (PP), requereu a votação em caráter de urgência sobre a privatização da empresa pública. É um passo mais concreto, desde a entrega do projeto de lei encaminhado pelo presidente Jair Bolsonaro em fevereiro deste ano, com o objetivo de que a empresa público se torne mista e perca o direito exclusivo na entrega de cartas.

“Fomos pegos de surpresa, muito porque no início da pandemia o Correios foi tratado como serviço essencial”, conta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores  na Empresa de Correios e Telégrafos em Alagoas (Sintect-AL), Alysson Guerreiro. “Temos no mundo apenas oito correios privados, e dois estão reestatizando, que são em Portugal e na Argentina. Então a gente sabe que essa discussão tem que ser bem feita, mostrando para a população o prejuízo que vai ocorrer se houver a privatização”, relata.

Guerreiro também alerta sobre os impactos que poderiam produzir nos serviços de entrega no país. “Se a gente somar a área de todos os países em que houve essa privatização não resultaria nem na metade da metade do Brasil. Num país continental, a gente sabe da dificuldade que é entregar correspondência e encomenda e chegar nos 5570 municípios. Isso não está sendo levado em conta pelo presidente da Câmara, nem pelo presidente do país. É um verdadeiro apagão postal que está sendo colocado”, atenta.

Os sinais de que a situação será pior são postas a partir da realidade atual das entregas. “Temos concorrentes no setor de encomendas, que também são nossos clientes, porque eles não entregam em todos os municípios e recorrem aos correios. Nós, sim, temos por obrigação chegar em todos os rincões do país. Os Correios é a maior empresa de logística da América Latina e dá lucro. Temos um bilhão em caixa do lucro do ano passado e esse dinheiro ainda está em caixa e não foi revertido em melhorias e investimentos para o serviço dos Correios. Já Sabemos que o motivo é este”.

Sucatear para Privatizar

Atualmente, segundo Alysson Guerreiro, há cerca de 850 trabalhadores dos Correios em Alagoas. No Brasil, o número chega a menos de 90 mil funcionários sob risco de demissão. “Existe necessidade de equipamentos, mas também principalmente de contratação. Nós queremos entregar as correspondências e encomendas em tempo, e há recursos em caixa, mas eles não querem investir na contratação de mais pessoal. É preciso que a população também cobre do Governo Federal, da Câmara, para que esse lucro que é do povo seja revertido de fato nos Correios, para que possa atender bem a população”, explica.

Para o presidente do Sintect/AL, não há dúvidas de que existe interesse de empresas na compra da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT). “Empresa que dá lucro todo mundo quer comprar. Se desse prejuízo ninguém queria. Então com certeza existe lobby de empresas privadas que querem ficar com todo esse lucro que é da população. Hoje a população tem no Correios a garantia de que as taxas pagas não sejam elevadas, porque o Correios faz o balizamento do preço das encomendas. Com ele privado, com certeza o valor vai subir”.

Falta de diálogo e urgência na votação

Segundo o sindicalista, mesmo antes da pandemia, o deputado Arthur Lira vem sendo procurado pela categoria para debater sobre o tema, mas não tem dado qualquer resposta aos trabalhadores. A recepção dessa notícia sobre a urgência na votação foi, portanto, compreendida pelo sindicato como uma negação ao diálogo por parte do parlamentar.

A Mídia Caeté procurou o deputado Arthur Lira, através de sua assessoria de comunicação, e recebeu a resposta de que o protocolo de “pedido de urgência” foi encaminhado com base em decisão coletiva pela maioria dos líderes. “Todos os assuntos pautados em plenário são decididos pela maioria dos líderes na reunião semanal de quinta-feira. O presidente apenas recebe a sugestão dos líderes e pauta o que a maioria decide. Todos os assuntos são discutidos em plenário, que é soberano. Se não houver acordo de votação de qualquer matéria, o assunto pode eventualmente sair da pauta”.

Lira se restringiu a explicar o trâmite da votação, e optou por não manifestar nenhum posicionamento enquanto parlamentar sobre o assunto.

Para Alisson Guerreiro, a negação em receber a categoria é mais um sinal de recusa ao diálogo. “É justamente por isso que ele não quer abrir o debate. Ele falta o diálogo com a população e a gente vai ter esse compromisso em Alagoas de passar nos municípios denunciando a postura do Arthur Lira. Porque com o debate mostraremos o desinteresse por parte dele e de alguns outros deputados”, diz Guerreiro.

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